Eduardo Dusek anuncia sua volta à MPB
Depois de quase dez anos sem gravar, o músico (agora com mais um S no sobrenome) lança songbook de Carmen Miranda e prepara outros três CDs - uma trilha de musical, um de músicas infantis e um de composições inéditas
Rodrigo Faour
22/02/2001
O autor de pérolas divertidas como Folia no Matagal, Nostradamus, Singapura e Brega-Chique (também conhecida como Doméstica) e românticas como Seu Tipo, Cabelos Negros e Eu Velejava em Você parecia estar de mal com seus fãs. Porque há quase dez anos Eduardo Dusek (aliás, Dussek - ele mudou de sobrenome) não lançava discos - além do mais, segundo conta, ninguém havia gostado de seu último CD, Contatos (1991). Pois agora Dusek está de volta num projeto diferente: um disco e um livro (songbook) em homenagem à diva Carmen Miranda, ambos pela editora Irmãos Vitale. O cantor, compositor e pianista foi o responsável pela escolha das 30 músicas que foram passadas para pauta musical, com acordes cifrados para o violão e pelos textos biográficos contidos no livro, que sai em edição bilíngüe (inglês e português), com um CD (gravado por Dussek).
Num dos textos que escreveu para o songbook de Carmen Miranda, ele diz que não se considera um fã da Pequena Notável. Isso parece até mais uma de suas tiradas de humor, pois a cantora, indiretamente, cruzou seu caminho em momentos decisivos de seu desenvolvimento musical. A primeira música que compôs na vida, ainda "estudante pirralho, de sete para oito anos", chamava-se A Baianinha e a Lua e foi feita após ouvir alguns sambas e marchas do repertório de Carmen numa visita ao Museu da Imagem e do Som.
Como se não bastasse, a sua primeira canção gravada também teve inspiração num dos famosos filmes da cantora, Alô, Alô Carnaval. Foi após assistir à fita, em 73, que Dussek compôs Alô, Alô Brasil e deu para a atriz Marília Pêra, que naquela altura vivia Carmen em um espetáculo na boate Night and Day (RJ). Anos mais tarde, já na década de 90, foi convidado por Nelson Motta a acompanhar a mesma Marília num show em homenagem à cantora no Lincoln Center de Nova York. Finalmente, ano passado Dussek estrelou um show comemorativo dos 90 anos da cantora no Centro Cultural Banco do Brasil (RJ) e lá recebeu o convite da Vitale para conceber o songbook.
"Depois de escrever tudo, fui me tocando aos poucos da importância que ela tem em minha vida", admite Dussek. "Não sou um fã da Carmen, mas ela ficou para mim como uma espécie de fada-madrinha (risos). E essa importância não é só para mim. É impressionante a força que essa mulher possui, quase 50 anos depois de sua morte", explica. Ele diz que as partituras do songbook foram "exaustivamente revisadas" por ele, acorde a acorde, durante seis meses.
Já o CD Adeus Batucada , que vem encartado no livro (e também será vendido separadamente), foi todo gravado por Dussek (voz e teclados), Beto Cazes (percussão) e Chico Costa (sax), com sucessos imortais da cantora, como Voltei pro Morro, South American Way, Diz que Tem, Primavera no Rio, Ta-Hí, Cantores do Rádio, Camisa Listada, Bambo de Bambú e tantas outras. A surpresa fica por conta da faixa de encerramento, a referida Alô, Alô Brasil, que ele compôs no espírito das canções de Carmen há quase 30 anos.
"Carmen se sacrificou em prol do Brasil"
Nos textos que escreveu para o songbook de Carmen Miranda, Dussek situa os leitores, contando por alto algumas das histórias vividas pela cantora. Ele fala sobre o misto de amor e desdém que os brasileiros nutriam por ela ("chegaram a tachá-la de americanizada"), do bom gosto de Carmen ao gravar os melhores autores brasileiros de sua época (anos 30), da imagem de brasilidade "tropical" que a cantora perpetuou no inconsciente coletivo internacional e da sua trajetória como superstar - do status de estrela mais bem paga de Hollywood em meados dos anos 40 à exploração que sofreu pelo marido americano que a levou a um estresse físico e emocional, culminando com sua morte em 5 de agosto de 1955. "Carmen foi uma heroína. Sacrificou-se em prol do Brasil", acredita.
Esse projeto sobre Carmen, porém, é apenas a ponta do iceberg de um Dussek cheio de esses - e discos. "Esse projeto não deixa de ser uma retomada em minha carreira fonográfica. Por acaso, este CD está saindo primeiro. Na verdade, já existem outros em andamento", explica. "Optei ficar tantos anos sem gravar porque não estava gostando do material que estava produzindo. O meu CD anterior, Contatos, foi um fracasso. Ninguém gostou e também não acho bom. O Dusek na Sua, penúltimo, foi recebido como disco-piada, apesar de que tem músicas que tocam até hoje, como Aventura. Saquei então que as pessoas não estavam entendendo o que eu estava fazendo e que eu também comecei a não entender (risos). Deviam pensar: "O que será que ele é? Humorista, cantor debochado, romântico...?" Também dei uma grilada e parei para me reciclar", confessa.
Planos incluem musical sobre Copacabana
Dussek afirma que, durante esse jejum fonográfico, trabalhou como ator, apresentador de TV, diretor, escritor de espetáculos e compositor para teatro. "Dei-me esse luxo de parar de gravar para ficar esse tempo me reciclando. Foi interessante. Nesse período, comecei a produzir três discos. Mas não eram coisas que assinasse em baixo, que dava como boas. Esse disco atual foi de retomada, mas recentemente já venho me sentindo mais preparado para voltar ao mercado, tanto que meu próximo disco já praticamente pronto, o que não desmerece o atual, que fiz com enorme prazer pois saquei relendo esse repertório que bebi muito nos compositores da época da Carmen. Eles tinham aquele humor carioca misturado com algo romântico. Acho que estou no caminho certo", reflete.
Além do próximo CD de carreira, com inéditas, ele planeja para o segundo semestre reunir todas as canções infantis compostas por ele nos últimos 20 anos, registrá-las em disco e correr o país com um show. "Esse disco vai agradar a crianças e adultos pois as canções são divertidas. Mas meu principal objetivo é desenvolver esse projeto em benefício das crianças com câncer. Pretendo levar esse repertório a enfermarias e hospitais. A idéia é conseguir um patrocinador que banque alguns shows e compre um número razoável de CDs que possam ser doados a essas instituições".
Antes, porém - no final de maio ou início de junho -, ele estréia Me Dá, Copacabana, um espetáculo musical, que escreveu em parceria com o ator Jorge Caethano. "É um musical sobre Copacabana com direito a música, balé, coro, sapateado... Tudo que tem direito!", antecipa Dussek, que retirou o título da peça de um funk que gravou em 1983 no LP Cantando no Banheiro. "Como compus cerca de 20 músicas para o musical, de lundu a rap, creio que ele se transformará também em disco". Quando ao CD de inéditas, ele reafirma não ser papo furado. "Tenho que lançá-lo senão vou apanhar na rua. Nunca parei de fazer shows e as pessoas ouvem as músicas novas e me cobram: 'Cadê o disco?' Prometo que vai sair", frisa.
Num dos textos que escreveu para o songbook de Carmen Miranda, ele diz que não se considera um fã da Pequena Notável. Isso parece até mais uma de suas tiradas de humor, pois a cantora, indiretamente, cruzou seu caminho em momentos decisivos de seu desenvolvimento musical. A primeira música que compôs na vida, ainda "estudante pirralho, de sete para oito anos", chamava-se A Baianinha e a Lua e foi feita após ouvir alguns sambas e marchas do repertório de Carmen numa visita ao Museu da Imagem e do Som.
Como se não bastasse, a sua primeira canção gravada também teve inspiração num dos famosos filmes da cantora, Alô, Alô Carnaval. Foi após assistir à fita, em 73, que Dussek compôs Alô, Alô Brasil e deu para a atriz Marília Pêra, que naquela altura vivia Carmen em um espetáculo na boate Night and Day (RJ). Anos mais tarde, já na década de 90, foi convidado por Nelson Motta a acompanhar a mesma Marília num show em homenagem à cantora no Lincoln Center de Nova York. Finalmente, ano passado Dussek estrelou um show comemorativo dos 90 anos da cantora no Centro Cultural Banco do Brasil (RJ) e lá recebeu o convite da Vitale para conceber o songbook.
"Depois de escrever tudo, fui me tocando aos poucos da importância que ela tem em minha vida", admite Dussek. "Não sou um fã da Carmen, mas ela ficou para mim como uma espécie de fada-madrinha (risos). E essa importância não é só para mim. É impressionante a força que essa mulher possui, quase 50 anos depois de sua morte", explica. Ele diz que as partituras do songbook foram "exaustivamente revisadas" por ele, acorde a acorde, durante seis meses.
Já o CD Adeus Batucada , que vem encartado no livro (e também será vendido separadamente), foi todo gravado por Dussek (voz e teclados), Beto Cazes (percussão) e Chico Costa (sax), com sucessos imortais da cantora, como Voltei pro Morro, South American Way, Diz que Tem, Primavera no Rio, Ta-Hí, Cantores do Rádio, Camisa Listada, Bambo de Bambú e tantas outras. A surpresa fica por conta da faixa de encerramento, a referida Alô, Alô Brasil, que ele compôs no espírito das canções de Carmen há quase 30 anos.
"Carmen se sacrificou em prol do Brasil"
Nos textos que escreveu para o songbook de Carmen Miranda, Dussek situa os leitores, contando por alto algumas das histórias vividas pela cantora. Ele fala sobre o misto de amor e desdém que os brasileiros nutriam por ela ("chegaram a tachá-la de americanizada"), do bom gosto de Carmen ao gravar os melhores autores brasileiros de sua época (anos 30), da imagem de brasilidade "tropical" que a cantora perpetuou no inconsciente coletivo internacional e da sua trajetória como superstar - do status de estrela mais bem paga de Hollywood em meados dos anos 40 à exploração que sofreu pelo marido americano que a levou a um estresse físico e emocional, culminando com sua morte em 5 de agosto de 1955. "Carmen foi uma heroína. Sacrificou-se em prol do Brasil", acredita.
Esse projeto sobre Carmen, porém, é apenas a ponta do iceberg de um Dussek cheio de esses - e discos. "Esse projeto não deixa de ser uma retomada em minha carreira fonográfica. Por acaso, este CD está saindo primeiro. Na verdade, já existem outros em andamento", explica. "Optei ficar tantos anos sem gravar porque não estava gostando do material que estava produzindo. O meu CD anterior, Contatos, foi um fracasso. Ninguém gostou e também não acho bom. O Dusek na Sua, penúltimo, foi recebido como disco-piada, apesar de que tem músicas que tocam até hoje, como Aventura. Saquei então que as pessoas não estavam entendendo o que eu estava fazendo e que eu também comecei a não entender (risos). Deviam pensar: "O que será que ele é? Humorista, cantor debochado, romântico...?" Também dei uma grilada e parei para me reciclar", confessa.
Planos incluem musical sobre Copacabana
Dussek afirma que, durante esse jejum fonográfico, trabalhou como ator, apresentador de TV, diretor, escritor de espetáculos e compositor para teatro. "Dei-me esse luxo de parar de gravar para ficar esse tempo me reciclando. Foi interessante. Nesse período, comecei a produzir três discos. Mas não eram coisas que assinasse em baixo, que dava como boas. Esse disco atual foi de retomada, mas recentemente já venho me sentindo mais preparado para voltar ao mercado, tanto que meu próximo disco já praticamente pronto, o que não desmerece o atual, que fiz com enorme prazer pois saquei relendo esse repertório que bebi muito nos compositores da época da Carmen. Eles tinham aquele humor carioca misturado com algo romântico. Acho que estou no caminho certo", reflete.
Além do próximo CD de carreira, com inéditas, ele planeja para o segundo semestre reunir todas as canções infantis compostas por ele nos últimos 20 anos, registrá-las em disco e correr o país com um show. "Esse disco vai agradar a crianças e adultos pois as canções são divertidas. Mas meu principal objetivo é desenvolver esse projeto em benefício das crianças com câncer. Pretendo levar esse repertório a enfermarias e hospitais. A idéia é conseguir um patrocinador que banque alguns shows e compre um número razoável de CDs que possam ser doados a essas instituições".
Antes, porém - no final de maio ou início de junho -, ele estréia Me Dá, Copacabana, um espetáculo musical, que escreveu em parceria com o ator Jorge Caethano. "É um musical sobre Copacabana com direito a música, balé, coro, sapateado... Tudo que tem direito!", antecipa Dussek, que retirou o título da peça de um funk que gravou em 1983 no LP Cantando no Banheiro. "Como compus cerca de 20 músicas para o musical, de lundu a rap, creio que ele se transformará também em disco". Quando ao CD de inéditas, ele reafirma não ser papo furado. "Tenho que lançá-lo senão vou apanhar na rua. Nunca parei de fazer shows e as pessoas ouvem as músicas novas e me cobram: 'Cadê o disco?' Prometo que vai sair", frisa.