Elba Ramalho se curva ao Rei do Baião
Em seu novo álbum, a cantora regrava 13 canções de Luiz Gonzaga, escolhidas entre clássicos e obras pouco conhecidas do compositor
Mônica Loureiro
28/03/2002
Desde que lançou seu primeiro disco - Ave de Prata, em 1979 - e, mesmo
antes, em início de carreira nos palcos de teatro, Elba Ramalho sempre nutriu uma grande ligação com Luiz Gonzaga. Mas só agora ela concretizou um antigo sonho: gravar um disco só com o repertório do Rei do Baião. Elba Canta Luiz é um lançamento da BMG e tem 13 faixas que alternam grandes sucessos e outras pouco conhecidas do monstro sagrado da música nordestina.
"Eu nunca havia me dedicado integralmente a Gonzaga. Quando eu ia fazer, (Gilberto)Gil gravou o dele ( As Canções de Eu Tu Eles ). De qualquer forma, são trabalhos diferentes - desaguamos no mesmo oceano, mas cada um por sua própria trilha", diz Elba. A cantora diz também que sempre foi muito cobrava para fazer esse tipo de trabalho. "Tenho um compromisso com Gonzaga e sempre terei. Esse é um disco mais devocional que conceitual, é uma carta de amor para ele, mostra a aluna olhando o mestre", emociona-se. A cantora faz questão de lembrar que em 1984 gravou com Gonzagão - ele, já aos 72 anos - um dos discos de maior sucesso na carreira do forrozeiro: Danado de Bom.
Em meio a onda de forró universitário, a cantora destaca que quis fazer uma obra rica em harmonia, interpretando canções compostas pelo próprio Gonzaga e outras imortalizadas por ele. As músicas foram pinçadas de uma safra que vai de 1942 (O Xamego da Guiomar) a 1984 (Danado de Bom). E o equilíbrio do repertório, entre sucessos e obscuras, é proposital: "Se fosse um disco de sucessos, só mudaria a voz. Eu nunca havia gravado nenhuma das músicas e queria um diferencial. Não sei trabalhar por caminhos óbvios. A obra dele é tão extensa - ele tem um lado de valsas e chorinhos que ninguém conhece - que pode ser que eu faça outro disco só de suas músicas", avisa.
Conforme o cantor e compositor Chico César escreveu no texto de apresentação do álbum à imprensa, "É tudo Gonzaga. Coisas que ele cantou Brasil afora e até fora do Brasil." E Elba acredita que ainda existe material inédito de Gonzaga. "Pode ser que pesquisando mais a fundo ainda se encontre algo inédito, afinal, ele tem mais de 500 músicas. O que sei é que alguns choros dele não têm letra e eu tenho a idéia de letrar essas músicas", revela.
Participações
Elba Canta Luiz tem arranjos de Dominguinhos, que toca sanfona em 11 faixas e assina duas - Sorriso Cativante (em parceria com Anastácia) eCanta Luiz (com Poeta Oliveira), uma homenagem onde ele também canta. O pot-pourri que inclui Calango da Lacraia, Nega Zefa e Coco Xeem tem participação de Fuba de Taperoá e Dió Araújo. Fuba lançou, no ano passado, um disco pelo selo de Elba. "Ele foi o primeiro lançamento. Os CDs de Renato Cigano, meu sanfoneiro, e do grupo de rock baiano Catapulta saem em breve. Para o segundo semestre, pretendo lançar mais um disco de meditação e mais para o final do ano, outro dedicado a Nossa Senhora", informa Elba.
Das participações do disco, sem dúvida a mais interessante é a de Zeca Pagodinho em O Xamego da Guiomar. "Ele é meu amigo há muito tempo, sempre frequentou minha casa, temos muito respeito um pelo outro. Isso sem contar a afinidade na malandragem...O Xamego..., um samba-calango, estava na minha memória - como todas - e achei que ficaria ótima com ele", diz. Elba conta que primeiramente gravou a música com Dominguinhos, mas quando Zeca foi cantar, não conseguiu por causa do tom. "Tivemos que marcar outra gravação. Como Dominguinhos estava viajando, chamei o Toninho Ferraguti de São Paulo. Dá para reparar que eu estou cantando mais grave", ressalta. E lembra que o dia da gravação foi uma verdadeira festa: "A churrascada durou das 9h às 21h! Ele trouxe aquela turma toda, o Arlindo Cruz, o Paulão...".
O trabalho de Domiguinhos como arranjador não fugiu do cânone sonoro imortalizado por Gonzagão. O disco se move à base de sanfonas, triângulo e zabumba, como pedem as composições do Velho Lua. "Não é questão de falta de ousadia. Apenas sinto que não se pode buscar novas fórmulas, outros arranjos para aquelas músicas que já eram tão perfeitas do jeito que vieram ao mundo. Senti que não tinhao o direito de, por exemplo, colocar uma batida eletrônica no disco", diz Elba.
Elba diz que o novo show já está montado, apenas esperando uma confirmação para o lançamento em um grande arraial no Rio. "No dia 2 de julho abro o São João em Caruaru e em julho vou à Europa", completa. Para o ano que vem, Elba pretende fazer um disco acústico com composições próprias. "Quando comecei a tocar violão, eu escrevia uma música atrás da outra. Mas depois meu senso crítico aumentou... Agora, estou tomando coragem para compor novamente", diz.
Enquanto isso, ela realiza um outro sonho, este bem mais pessoal: vai adotar uma criança. "O Luã (filho único da cantora) já está com 14 anos e eu sempre quis ter um filho com Gaetano, mas ele tem problemas, e também tem a questão da minha idade. Pensamos em fertilização, mas é um processo tão cheio de burocracias... Então, tudo estava convergindo para a adoção. Já fomos aprovados e estamos só esperando a Maria Clara chegar. O quarto dela já está pronto!", conta, feliz, a mamãe de segunda viagem.
"Eu nunca havia me dedicado integralmente a Gonzaga. Quando eu ia fazer, (Gilberto)Gil gravou o dele ( As Canções de Eu Tu Eles ). De qualquer forma, são trabalhos diferentes - desaguamos no mesmo oceano, mas cada um por sua própria trilha", diz Elba. A cantora diz também que sempre foi muito cobrava para fazer esse tipo de trabalho. "Tenho um compromisso com Gonzaga e sempre terei. Esse é um disco mais devocional que conceitual, é uma carta de amor para ele, mostra a aluna olhando o mestre", emociona-se. A cantora faz questão de lembrar que em 1984 gravou com Gonzagão - ele, já aos 72 anos - um dos discos de maior sucesso na carreira do forrozeiro: Danado de Bom.
Em meio a onda de forró universitário, a cantora destaca que quis fazer uma obra rica em harmonia, interpretando canções compostas pelo próprio Gonzaga e outras imortalizadas por ele. As músicas foram pinçadas de uma safra que vai de 1942 (O Xamego da Guiomar) a 1984 (Danado de Bom). E o equilíbrio do repertório, entre sucessos e obscuras, é proposital: "Se fosse um disco de sucessos, só mudaria a voz. Eu nunca havia gravado nenhuma das músicas e queria um diferencial. Não sei trabalhar por caminhos óbvios. A obra dele é tão extensa - ele tem um lado de valsas e chorinhos que ninguém conhece - que pode ser que eu faça outro disco só de suas músicas", avisa.
Conforme o cantor e compositor Chico César escreveu no texto de apresentação do álbum à imprensa, "É tudo Gonzaga. Coisas que ele cantou Brasil afora e até fora do Brasil." E Elba acredita que ainda existe material inédito de Gonzaga. "Pode ser que pesquisando mais a fundo ainda se encontre algo inédito, afinal, ele tem mais de 500 músicas. O que sei é que alguns choros dele não têm letra e eu tenho a idéia de letrar essas músicas", revela.
Participações
Elba Canta Luiz tem arranjos de Dominguinhos, que toca sanfona em 11 faixas e assina duas - Sorriso Cativante (em parceria com Anastácia) eCanta Luiz (com Poeta Oliveira), uma homenagem onde ele também canta. O pot-pourri que inclui Calango da Lacraia, Nega Zefa e Coco Xeem tem participação de Fuba de Taperoá e Dió Araújo. Fuba lançou, no ano passado, um disco pelo selo de Elba. "Ele foi o primeiro lançamento. Os CDs de Renato Cigano, meu sanfoneiro, e do grupo de rock baiano Catapulta saem em breve. Para o segundo semestre, pretendo lançar mais um disco de meditação e mais para o final do ano, outro dedicado a Nossa Senhora", informa Elba.
Das participações do disco, sem dúvida a mais interessante é a de Zeca Pagodinho em O Xamego da Guiomar. "Ele é meu amigo há muito tempo, sempre frequentou minha casa, temos muito respeito um pelo outro. Isso sem contar a afinidade na malandragem...O Xamego..., um samba-calango, estava na minha memória - como todas - e achei que ficaria ótima com ele", diz. Elba conta que primeiramente gravou a música com Dominguinhos, mas quando Zeca foi cantar, não conseguiu por causa do tom. "Tivemos que marcar outra gravação. Como Dominguinhos estava viajando, chamei o Toninho Ferraguti de São Paulo. Dá para reparar que eu estou cantando mais grave", ressalta. E lembra que o dia da gravação foi uma verdadeira festa: "A churrascada durou das 9h às 21h! Ele trouxe aquela turma toda, o Arlindo Cruz, o Paulão...".
O trabalho de Domiguinhos como arranjador não fugiu do cânone sonoro imortalizado por Gonzagão. O disco se move à base de sanfonas, triângulo e zabumba, como pedem as composições do Velho Lua. "Não é questão de falta de ousadia. Apenas sinto que não se pode buscar novas fórmulas, outros arranjos para aquelas músicas que já eram tão perfeitas do jeito que vieram ao mundo. Senti que não tinhao o direito de, por exemplo, colocar uma batida eletrônica no disco", diz Elba.
Elba diz que o novo show já está montado, apenas esperando uma confirmação para o lançamento em um grande arraial no Rio. "No dia 2 de julho abro o São João em Caruaru e em julho vou à Europa", completa. Para o ano que vem, Elba pretende fazer um disco acústico com composições próprias. "Quando comecei a tocar violão, eu escrevia uma música atrás da outra. Mas depois meu senso crítico aumentou... Agora, estou tomando coragem para compor novamente", diz.
Enquanto isso, ela realiza um outro sonho, este bem mais pessoal: vai adotar uma criança. "O Luã (filho único da cantora) já está com 14 anos e eu sempre quis ter um filho com Gaetano, mas ele tem problemas, e também tem a questão da minha idade. Pensamos em fertilização, mas é um processo tão cheio de burocracias... Então, tudo estava convergindo para a adoção. Já fomos aprovados e estamos só esperando a Maria Clara chegar. O quarto dela já está pronto!", conta, feliz, a mamãe de segunda viagem.