Eles são o Brasil no Chivas Jazz
Mauro Senise e Tutty Moreno encaram as feras do festival
Marco Antonio Barbosa
07/06/2001
O II Chivas Jazz Festival, que se iniciou dia 6 e se estende até dia 9, com shows no Rio (no Garden Hall) e São Paulo (DirecTV Hall), vai trazer uma seleção de feras incontestáveis do jazz contemporâneo, todos pela primeira vez no Brasil. Na seleção, há nomes como Dave Douglas (trompetista eleito pela Down Beat como o melhor jazzista de 2000), o saxofonista Archie Sheep (que colaborou com John Coltrane) e o guitarrista de vanguarda Bill Frisell. E, em meio a este ninho de cobras, estão os únicos brasileiros do evento: o saxofonista Mauro Senise e o baterista Tutty Moreno. Senise e seu quarteto tocam em São Paulo no dia 8 e no Rio dia 9; o quinteto liderado por Tutty está no Rio dia 8 e em SP dia 9.
Ambos músicos de altíssimo respeito no cenário jazzístico nacional, e com um currículo recheado de colaborações com grandes nomes da MPB, Senise e Moreno estão bastante empolgados com a participação no festival. "É bom poder participar de um festival como este, sem nenhuma apelação comercial", diz Senise. "A produção do evento resolveu chamar apenas nomes de ponta do cenário internacional, todos músicos que estão na vanguarda do jazz atual. E acho que, convidando a mim e ao Tutty, eles se guiaram pelo mesmo parâmetro, só que olhando para o jazz brasileiro."
Senise, que está lançando seu nono CD solo - Dançando Nas Nuvens, registrado com o Mauro Senise Quarteto - acredita estar em um ótimo momento de sua carreira. Por isso, não teme a comparação com as feras com quem vai dividir o palco no Chivas Jazz Festival (fará a abertura dos shows da cantora Ann Dyer e do contrabaixista Dave Holland, considerado o melhor do mundo na atualidade).
"Tenho certeza de que estamos em pé de igualdade com os americanos. Claro que em termos de mercado e profissionalismo estamos muito atrás, os caras sabem tudo. Mas em performance e principalmente em criatividade não temos nada a dever a eles", diz Senise. Para o jazzista, o festival reflete o bom momento da música instrumental brasileira. "Precisamos apostar nesta aquecida do mercado musical brasileiro. Já chega de tanta mentira, pois o que vimos de produção musical nos últimos dez anos é a total decadência."
O repertório do show de Senise e seu grupo vai se basear nas músicas de Dançando Nas Nuvens, que inclui releituras de Pixinguinha (Ingênuo) e Victor Assis Brasil (Waltz For Phil) e temas inéditos como Balada Para Mauro e Aquelas Notas (ambas de Roberto Araújo). "Estamos bem preparados para o show, e o disco também tem um clima de ao vivo, já que foi gravado em uma única sessão de oito horas de estúdio, sem overdubs", diz Mauro.
Baterista de corpo e alma
O limite entre a MPB e o jazz será percorrido mais uma vez pelo baterista Tutty Moreno, nos shows que fará no Chivas Jazz (abrindo para o flautista James Newton e o trompetista Steve Turre). Nada mais natural para um músico treinado no jazz, mas que já esteve nas bandas de astros da música brasileira como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Joyce e Chico Buarque. "Vamos fazer uma releitura e interpretações totalmente livres de ícones da música brasileira como Dorival Caymmi e Joyce", diz Tutty, referindo-se a si mesmo e a seu grupo (André Mehmari no piano, o saxofonista Nailor Azevedo e o contrabaixista Rodolfo Stroeter).
Tutty Moreno, está animado com a perspectiva de tocar no Chivas Jazz Festival. "Será a grande oportunidade de fazer parte de um festival onde se tocará 100% de jazz. Isso não é comum por aqui, a bem da verdade nem existe", afirma o baterista. Para tanto, seus músicos estão afinadíssimos. "Essa formação tem uma sintonia incrível e surpreendente", diz, elogiando o grupo.
O mais recente álbum de Tutty, Forças D'Alma, vai compôr o roteiro das apresentações. O disco foi considerado pela crítica um dos melhores álbuns de jazz nacional no ano de seu lançamento (1999). "Nosso método é desconstruir para construir", explica Tutty. "Pegamos a música e viajamos fundo nos arranjos e na interpretação, até surgir algo de novo. É uma criação nova a partir de coisas já existentes - é a música livre que eu sempre sonhei fazer."
Essa "desconstrução" opera resultados supreendentes em versões de músicas como A Lenda do Abaeté, Só Louco, João Valentão (todas de Dorival Caymmi), Sanfona (Egberto Gismonti) e Alegria de Viver (Luiz Eça). "Tenho certeza de que vamos surpreender não só a platéia, mas também os músicos gringos. Eles nunca ouviram MPB dessa forma", fala Tutty.
Ambos músicos de altíssimo respeito no cenário jazzístico nacional, e com um currículo recheado de colaborações com grandes nomes da MPB, Senise e Moreno estão bastante empolgados com a participação no festival. "É bom poder participar de um festival como este, sem nenhuma apelação comercial", diz Senise. "A produção do evento resolveu chamar apenas nomes de ponta do cenário internacional, todos músicos que estão na vanguarda do jazz atual. E acho que, convidando a mim e ao Tutty, eles se guiaram pelo mesmo parâmetro, só que olhando para o jazz brasileiro."
Senise, que está lançando seu nono CD solo - Dançando Nas Nuvens, registrado com o Mauro Senise Quarteto - acredita estar em um ótimo momento de sua carreira. Por isso, não teme a comparação com as feras com quem vai dividir o palco no Chivas Jazz Festival (fará a abertura dos shows da cantora Ann Dyer e do contrabaixista Dave Holland, considerado o melhor do mundo na atualidade).
"Tenho certeza de que estamos em pé de igualdade com os americanos. Claro que em termos de mercado e profissionalismo estamos muito atrás, os caras sabem tudo. Mas em performance e principalmente em criatividade não temos nada a dever a eles", diz Senise. Para o jazzista, o festival reflete o bom momento da música instrumental brasileira. "Precisamos apostar nesta aquecida do mercado musical brasileiro. Já chega de tanta mentira, pois o que vimos de produção musical nos últimos dez anos é a total decadência."
O repertório do show de Senise e seu grupo vai se basear nas músicas de Dançando Nas Nuvens, que inclui releituras de Pixinguinha (Ingênuo) e Victor Assis Brasil (Waltz For Phil) e temas inéditos como Balada Para Mauro e Aquelas Notas (ambas de Roberto Araújo). "Estamos bem preparados para o show, e o disco também tem um clima de ao vivo, já que foi gravado em uma única sessão de oito horas de estúdio, sem overdubs", diz Mauro.
Baterista de corpo e alma
O limite entre a MPB e o jazz será percorrido mais uma vez pelo baterista Tutty Moreno, nos shows que fará no Chivas Jazz (abrindo para o flautista James Newton e o trompetista Steve Turre). Nada mais natural para um músico treinado no jazz, mas que já esteve nas bandas de astros da música brasileira como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Joyce e Chico Buarque. "Vamos fazer uma releitura e interpretações totalmente livres de ícones da música brasileira como Dorival Caymmi e Joyce", diz Tutty, referindo-se a si mesmo e a seu grupo (André Mehmari no piano, o saxofonista Nailor Azevedo e o contrabaixista Rodolfo Stroeter).
Tutty Moreno, está animado com a perspectiva de tocar no Chivas Jazz Festival. "Será a grande oportunidade de fazer parte de um festival onde se tocará 100% de jazz. Isso não é comum por aqui, a bem da verdade nem existe", afirma o baterista. Para tanto, seus músicos estão afinadíssimos. "Essa formação tem uma sintonia incrível e surpreendente", diz, elogiando o grupo.
O mais recente álbum de Tutty, Forças D'Alma, vai compôr o roteiro das apresentações. O disco foi considerado pela crítica um dos melhores álbuns de jazz nacional no ano de seu lançamento (1999). "Nosso método é desconstruir para construir", explica Tutty. "Pegamos a música e viajamos fundo nos arranjos e na interpretação, até surgir algo de novo. É uma criação nova a partir de coisas já existentes - é a música livre que eu sempre sonhei fazer."
Essa "desconstrução" opera resultados supreendentes em versões de músicas como A Lenda do Abaeté, Só Louco, João Valentão (todas de Dorival Caymmi), Sanfona (Egberto Gismonti) e Alegria de Viver (Luiz Eça). "Tenho certeza de que vamos surpreender não só a platéia, mas também os músicos gringos. Eles nunca ouviram MPB dessa forma", fala Tutty.