Embalados pelo som que vem das Gerais
Roupa Nova lança seu 15º álbum, Ouro de Minas, com regravações de compositores mineiros
Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
14/08/2001
As regravações nunca estiveram tão em alta no mercado fonográfico brasileiro. Muitos artistas estão optando por dar suas interpretações a músicas de sucessos no lugar de lançar novos compositores e/ou composições. Mas cada um procurando dar um tom de "projeto pessoal" a seus álbuns. O grupo Roupa Nova se alia a esta tendência e lança, pela Universal, o CD Ouro de Minas
, dedicado a releituras de canções consagradas de autores mineiros, e repleto de participações especiais - apenas de cantoras: Elba Ramalho, Zélia Duncan, Ivete Sangalo, Sandra de Sá e Luciana Mello.
"Há dois anos voltamos para a Universal, que foi a gravadora que lançou o Roupa Nova (quando era a Polygram). Fizemos muitas reuniões para decidir sobre o futuro de nossa carreira, experimentamos novos instrumentos, pesquisamos uma série de coisas novas", conta Nando, baixista e violonista do grupo, que ainda conta com sua formação original (Paulinho, percussão e voz; Kiko, guitarra; Serginho, bateria e voz; Ricardo, teclados; Cleberson, teclados). O grupo estava há dois anos sem lançar um novo álbum, desde Agora Sim!
"A primeira idéia foi a de gravar um show ao vivo com este repertório e daí lançar um DVD, mas como o custo tornou-se inviável, partirmos para o CD. O DVD iria se chamar Minas, mas também lembramos que o Milton (Nascimento) tem um disco com este nome...", explica Nando.
"Em toda a nossa carreira este foi o disco que nos deu mais trabalho. Levamos cinco meses dentro do estúdio. Era um material que merecia muito cuidado", conta o baixista. Ouro de Minas reúne canções que ficaram famosas na interpretação de Milton Nascimento (Fé Cega, Faca Amolada, Nada Será Como Antes, Nos Bailes da Vida), Beto Guedes (O Sal da Terra, Feira Moderna, Amor de Índio) e Flávio Venturini (Princesa, Nascente). Mas não se resume apenas ao Clube da Esquina: há a releitura de um mineiro "menos óbvio", João Bosco (De Frente Pro Crime); e espaço para a contemporaneidade pop do Skank (Tão Seu).
Nando nega que a opção por (mais) um disco de regravações tenha sido por conta de alguma crise criativa do grupo. "Somos todos compositores. Eu nunca recebi tanto dinheiro de direitos autorais por execução como agora. Existia muito material novo, mais do que o suficiente para preparar um disco todo inédito, mas queríamos dar uma guinada em outra direção. Se não, fica chato, para nós mesmos. Afinal, são 21 anos de carreira, somos todos quarentões...", justifica.
Nando aponta a música que sintetiza o novo álbum: "Nos Bailes da Vida mostra a ligação do Roupa Nova com esse povo mineiro todo. Os primeiros anos da gente foram muito ligados ao Clube da Esquina. E Milton, quando fez a música, nos convidou para gravá-la junto com ele." A nova versão ganhou um texto de introdução, intitulado Segredo de Ser Feliz. "Eu e Ricardo fizemos o texto e mandamos para o Fernando (Brant, letrista da música). É um recado sobre tudo que a gente já viveu."
O baixista segue comentando: "Fé Cega, Faca Amolada nós já cantamos ao vivo há muitos anos. O arranjo é de 1983, época em que fazíamos muito teatro. Sempre tivemos vontade de gravá-la e agora surgiu a oportunidade, só fizemos algumas adaptações." Ele também fala sobre De Frente Pro Crime, cuja letra original ficou intercalada aos versos do rap Ninguém Liga Pra Você, composta por Ricardo e pelo próprio Nando: "Gravamos De Frente... aos poucos, foi a mais trabalhosa de todo o disco. Tivemos o cuidado de explicar ao João (Bosco) e ao Aldir (Blanc) que era uma outra música que estávamos adicionando à deles."
Nem tudo funcionou como o grupo queria. Algumas das músicas escolhidas originalmente não ficaram à altura das outras. "Queríamos gravar Sol de Primavera (Beto Guedes) e Vento, do J.Quest, conta Nando. "Fizemos uns dois ou três arranjos diferentes para cada uma delas, e no final das contas achamos que era o suficiente. Para mexer mal, é melhor deixar como está!"
Enquanto o disco ia sendo registrado, surgiu a idéia de incluir participações especiais. "Listamos 15 nomes de cantoras com as quais queríamos trabalhar e começamos a fazer os arranjos. Conforme o trabalho ia fluindo, constatávamos: 'Ah, essa parte de forró de Fé Cega.... é a cara da Elba; Feira Moderna é perfeita para Zélia...'", fala Nando. Ivete Sangalo, em (O Sal da Terra), Sandra de Sá em Tudo Que Você Podia Ser e Luciana Mello em Nascente completam a lista de canjas. "A Ana Carolina também foi convidada, mas não pôde participar porque estava em plena turnê", lembra Nando.
Nando finaliza admitindo o temor de que essa mudança do grupo pareça uma atitude oportunista e, para isso, esclarece: "O Roupa Nova fez muita coisa popular sim, e não estamos querendo virar outra coisa nem cuspir no prato em que comemos. Temos a intenção de investir na qualidade vertical de nosso público e levar versos fortes, como os de Amor de Índio, a pessoas que, teoricamente, não estariam nem aí para esse tipo de música. Cantamos no Programa Raul Gil (na TV Record) semana passada e o público, jovem e bem popular - digo isso sem querer ser pejorativo - cantou de ponta a ponta Amor de Índio. Hoje há uma distância muito grande entre a máquina da indústria musical e os ouvidos das pessoas. É muito violenta a distância entre o que as pessoas querem ouvir e o que se oferece na mídia."
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"Há dois anos voltamos para a Universal, que foi a gravadora que lançou o Roupa Nova (quando era a Polygram). Fizemos muitas reuniões para decidir sobre o futuro de nossa carreira, experimentamos novos instrumentos, pesquisamos uma série de coisas novas", conta Nando, baixista e violonista do grupo, que ainda conta com sua formação original (Paulinho, percussão e voz; Kiko, guitarra; Serginho, bateria e voz; Ricardo, teclados; Cleberson, teclados). O grupo estava há dois anos sem lançar um novo álbum, desde Agora Sim!
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"Em toda a nossa carreira este foi o disco que nos deu mais trabalho. Levamos cinco meses dentro do estúdio. Era um material que merecia muito cuidado", conta o baixista. Ouro de Minas reúne canções que ficaram famosas na interpretação de Milton Nascimento (Fé Cega, Faca Amolada, Nada Será Como Antes, Nos Bailes da Vida), Beto Guedes (O Sal da Terra, Feira Moderna, Amor de Índio) e Flávio Venturini (Princesa, Nascente). Mas não se resume apenas ao Clube da Esquina: há a releitura de um mineiro "menos óbvio", João Bosco (De Frente Pro Crime); e espaço para a contemporaneidade pop do Skank (Tão Seu).
Nando nega que a opção por (mais) um disco de regravações tenha sido por conta de alguma crise criativa do grupo. "Somos todos compositores. Eu nunca recebi tanto dinheiro de direitos autorais por execução como agora. Existia muito material novo, mais do que o suficiente para preparar um disco todo inédito, mas queríamos dar uma guinada em outra direção. Se não, fica chato, para nós mesmos. Afinal, são 21 anos de carreira, somos todos quarentões...", justifica.
Nando aponta a música que sintetiza o novo álbum: "Nos Bailes da Vida mostra a ligação do Roupa Nova com esse povo mineiro todo. Os primeiros anos da gente foram muito ligados ao Clube da Esquina. E Milton, quando fez a música, nos convidou para gravá-la junto com ele." A nova versão ganhou um texto de introdução, intitulado Segredo de Ser Feliz. "Eu e Ricardo fizemos o texto e mandamos para o Fernando (Brant, letrista da música). É um recado sobre tudo que a gente já viveu."
O baixista segue comentando: "Fé Cega, Faca Amolada nós já cantamos ao vivo há muitos anos. O arranjo é de 1983, época em que fazíamos muito teatro. Sempre tivemos vontade de gravá-la e agora surgiu a oportunidade, só fizemos algumas adaptações." Ele também fala sobre De Frente Pro Crime, cuja letra original ficou intercalada aos versos do rap Ninguém Liga Pra Você, composta por Ricardo e pelo próprio Nando: "Gravamos De Frente... aos poucos, foi a mais trabalhosa de todo o disco. Tivemos o cuidado de explicar ao João (Bosco) e ao Aldir (Blanc) que era uma outra música que estávamos adicionando à deles."
Nem tudo funcionou como o grupo queria. Algumas das músicas escolhidas originalmente não ficaram à altura das outras. "Queríamos gravar Sol de Primavera (Beto Guedes) e Vento, do J.Quest, conta Nando. "Fizemos uns dois ou três arranjos diferentes para cada uma delas, e no final das contas achamos que era o suficiente. Para mexer mal, é melhor deixar como está!"
Enquanto o disco ia sendo registrado, surgiu a idéia de incluir participações especiais. "Listamos 15 nomes de cantoras com as quais queríamos trabalhar e começamos a fazer os arranjos. Conforme o trabalho ia fluindo, constatávamos: 'Ah, essa parte de forró de Fé Cega.... é a cara da Elba; Feira Moderna é perfeita para Zélia...'", fala Nando. Ivete Sangalo, em (O Sal da Terra), Sandra de Sá em Tudo Que Você Podia Ser e Luciana Mello em Nascente completam a lista de canjas. "A Ana Carolina também foi convidada, mas não pôde participar porque estava em plena turnê", lembra Nando.
Nando finaliza admitindo o temor de que essa mudança do grupo pareça uma atitude oportunista e, para isso, esclarece: "O Roupa Nova fez muita coisa popular sim, e não estamos querendo virar outra coisa nem cuspir no prato em que comemos. Temos a intenção de investir na qualidade vertical de nosso público e levar versos fortes, como os de Amor de Índio, a pessoas que, teoricamente, não estariam nem aí para esse tipo de música. Cantamos no Programa Raul Gil (na TV Record) semana passada e o público, jovem e bem popular - digo isso sem querer ser pejorativo - cantou de ponta a ponta Amor de Índio. Hoje há uma distância muito grande entre a máquina da indústria musical e os ouvidos das pessoas. É muito violenta a distância entre o que as pessoas querem ouvir e o que se oferece na mídia."