Emoção no tributo a João e Almir Chediak
Encontro no Teatro Rival BR (RJ) juntou constelação da MPB para prestar um duplo tributo, na noite de terça (9)
Marco Antonio Barbosa
10/09/2003
Show de lançamento de songbook não chega a ser um acontecimento raro, mesmo
quando reúne grandes nomes da MPB. Mas o songbook de João Bosco não era apenas
mais uma edição do gênero; foi o último projeto no qual Almir Chediak, o papa das
transcrições e das partituras, chegou a concluir, antes de sua brutal morte em maio
último. A junção do tributo à obra de João com a devida homenagem a Almir - uma das
figuras mais queridas da MPB - acabou rendendo, na noite desta terça (dia 9), um
encontro histórico e emocionante. Era para ser o show-festa de lançamento dos três
volumes do songbook dedicado às músicas de João Bosco, no Teatro Rival BR. Com a
ajuda de uma rechonchuda lista de figurões, o espetáculo foi dominado pela recordação
do trabalho e da pessoa de Chediak. E no fim, mais história: o reencontro, no palco, da
parceria João & Aldir Blanc, que esteve separada por 20 anos.
Com o Rival BR fechado apenas para convidados e imprensa, só pela quantidade de famosos circulando pelas mesas dava para se prever uma noite inesquecível. Sandra de Sá, Yamandú Costa, Zélia Duncan, Wagner Tiso, Zé Renato, Tunai, Jards Macalé, Djavan, Ivan Lins e Joyce eram alguns que já aguardavam, antes do show começar, confraternizando com o homenageado João. O cargo de mestre de cerimônia da noite ficou com Sergio Cabral, que já abriu falando de Chediak. Mas sem tristeza, e sim com muito humor. "Figura queridíssima, que ensinou muito a muita gente", disse Cabral, antes de apresentar a banda de apoio que faria a cama para o cancioneiro de Bosco: Nelson Faria (violão, guitarra e direção musical), Ney Conceição (baixo), Hamleto Stamato (teclados), Carlos Malta (sopros), Kiko Freitas (bateria) e Marco Longo (percussão). E foi a banda, sem vocal, que abriu o show rachando numa versão instrumental para Bala com Bala.
Em seguida começou o revezamento das grandes estrelas. O clima era bem informal; sentados às mesas em frente ao palco, os vocalistas iam subindo conforme Cabral os convocavam. Djavan, com a banda e Chiquinho Chagas ao acordeom, fez bonito em Desenho de Giz. Ivan Lins (assim como Djavan) entrou no palco segurando um papel com a letra de O Cavaleiro e os Moinhos, e ainda brincou com Aldir Blanc, que estava na platéia: "Desculpe, Aldir, essa letra é inesquecível, mas eu a esqueci." Beth Carvalho foi a primeira a rasgar o protocolo, com Kid Cavaquinho: apesar de dizer "conhecer a letra" de cor, também apelou para a "cola" e errou o tom na hora de entrar cantando, por duas vezes, obrigando a banda a parar e recomeçar. Pediu desculpa, seguiu em frente e foi muito aplaudida. Ancorando a banda, o fundamental Alceu do Cavaco, dando justificativa ao título.
Rancho da Goiabada, com Zélia Duncan, conjugou o humor amargo e sonhador da letra com uma interpretação impecável. Boa introdução para uma ótima participação de Moska, que, só ao violão, cantou a pouco conhecida Assim Sem Mais. E por falar em violão, em seguida foi a vez do próprio João subir ao palco, para cantar Papel Marchê. Seu vocal já naturalmente entortante ficou definitivamente desconstruído ao ser emparelhado ao violão destruidor de Yamandú Costa - que incluiu dissonâncias e improvisos mis à já sofisticada harmonia original.
A rusticidade de Yamandú contrastou bem com a límpida performance de Milton Nascimento para Caça à Raposa, acompanhado por João ao violão. Bituca preferiu lembrar, ao agradecer, "à mãe da gente, aquela que nos revelou", em citação a Elis Regina, que foi importante na revelação dos talentos tanto de Milton quanto de João como compositores. Duas doces interpretações - Zé Renato com Bodas de Prata e Joyce, com o Quinteto Maogani, em Doce Sereia - introduziram uma Fátima Guedes pungente em Saída de Emergência.
Até então, quase todos os artistas prestavam homenagens discretas a Almir Chediak. Foi quando entrou em cena Antonio Adolfo, que pediu licença para um discurso mais longo, lembrando os mais de 30 anos de convivência com Almir. Em seguida, sentou-se ao sintetizador e soltou um belo improviso sobre The Windmills of Your Mind, de Michel Legrand, uma das predileções do homem dos songbooks. Sem sair do palco, Adolfo acompanhou Sandra de Sá em versões ultrasuingadas, com tempero jazz e funk, para Transversal do Tempo e Tiro de Misericórdia. Sairam ovacionados.
A mise-en-scene impagável de Jards Macalé, para Siri Catado & o Cacete (envergando um jornal e um cigarro aceso, ele afirmou: "E eu nem como frutos... do mar") e a empolgação de Tunai (irmão de João) em De Frente Pro Crime foram a seqüência. Wagner Tiso, que tocou o piano em De Frente..., ficou no palco e prestou sua homenagem pessoal a Chediak, solando Eu Sei que Vou Te Amar, de Tom Jobim. "Fiquei com inveja do Adolfo", brincou Tiso. Leila Pinheiro, com João Donato nos teclados, soltou logo três: Indeciso, Quando o Amor Acontece e Senhoras do Amazonas (nesta última, o próprio João Bosco, que a acompanhava ao violão, tropeçou nos acordes). João ainda ficou para interpretar Nação, com Simone, e contar histórias de Chediak: "Uma vez Tim Maia quis botar fogo na minha casa. Quem tirou a lata de gasolina da mão do Tim foi o Almir", falou, rindo.
Completando o clima de celebração, Aldir Blanc (que, ao participar no começo da gravação dos CDs do songbook, reatou a antiga dobradinha com João, interrompida desde 1983) afinal juntou-se ao parceiro. E juntos levaram uma das músicas-símbolo de sua lavra conjunta, O Bêbado e a Equilibrista. Aldir falou: "Vou começar a cantar, e quando eu falar 'Caía...', eu caio e vocês cantam". Nem precisava pedir. Ao final, com todos os artistas reunidos no palco - mais o irmão de Almir, Jesus Chediak, que vai continuar o trabalho do irmão na editora/gravadora Lumiar - rolou mais um Kid Cavaquinho, para alegrar os últimos momentos de uma noitada de muita emoção e ótima música.
Com o Rival BR fechado apenas para convidados e imprensa, só pela quantidade de famosos circulando pelas mesas dava para se prever uma noite inesquecível. Sandra de Sá, Yamandú Costa, Zélia Duncan, Wagner Tiso, Zé Renato, Tunai, Jards Macalé, Djavan, Ivan Lins e Joyce eram alguns que já aguardavam, antes do show começar, confraternizando com o homenageado João. O cargo de mestre de cerimônia da noite ficou com Sergio Cabral, que já abriu falando de Chediak. Mas sem tristeza, e sim com muito humor. "Figura queridíssima, que ensinou muito a muita gente", disse Cabral, antes de apresentar a banda de apoio que faria a cama para o cancioneiro de Bosco: Nelson Faria (violão, guitarra e direção musical), Ney Conceição (baixo), Hamleto Stamato (teclados), Carlos Malta (sopros), Kiko Freitas (bateria) e Marco Longo (percussão). E foi a banda, sem vocal, que abriu o show rachando numa versão instrumental para Bala com Bala.
Em seguida começou o revezamento das grandes estrelas. O clima era bem informal; sentados às mesas em frente ao palco, os vocalistas iam subindo conforme Cabral os convocavam. Djavan, com a banda e Chiquinho Chagas ao acordeom, fez bonito em Desenho de Giz. Ivan Lins (assim como Djavan) entrou no palco segurando um papel com a letra de O Cavaleiro e os Moinhos, e ainda brincou com Aldir Blanc, que estava na platéia: "Desculpe, Aldir, essa letra é inesquecível, mas eu a esqueci." Beth Carvalho foi a primeira a rasgar o protocolo, com Kid Cavaquinho: apesar de dizer "conhecer a letra" de cor, também apelou para a "cola" e errou o tom na hora de entrar cantando, por duas vezes, obrigando a banda a parar e recomeçar. Pediu desculpa, seguiu em frente e foi muito aplaudida. Ancorando a banda, o fundamental Alceu do Cavaco, dando justificativa ao título.
Rancho da Goiabada, com Zélia Duncan, conjugou o humor amargo e sonhador da letra com uma interpretação impecável. Boa introdução para uma ótima participação de Moska, que, só ao violão, cantou a pouco conhecida Assim Sem Mais. E por falar em violão, em seguida foi a vez do próprio João subir ao palco, para cantar Papel Marchê. Seu vocal já naturalmente entortante ficou definitivamente desconstruído ao ser emparelhado ao violão destruidor de Yamandú Costa - que incluiu dissonâncias e improvisos mis à já sofisticada harmonia original.
A rusticidade de Yamandú contrastou bem com a límpida performance de Milton Nascimento para Caça à Raposa, acompanhado por João ao violão. Bituca preferiu lembrar, ao agradecer, "à mãe da gente, aquela que nos revelou", em citação a Elis Regina, que foi importante na revelação dos talentos tanto de Milton quanto de João como compositores. Duas doces interpretações - Zé Renato com Bodas de Prata e Joyce, com o Quinteto Maogani, em Doce Sereia - introduziram uma Fátima Guedes pungente em Saída de Emergência.
Até então, quase todos os artistas prestavam homenagens discretas a Almir Chediak. Foi quando entrou em cena Antonio Adolfo, que pediu licença para um discurso mais longo, lembrando os mais de 30 anos de convivência com Almir. Em seguida, sentou-se ao sintetizador e soltou um belo improviso sobre The Windmills of Your Mind, de Michel Legrand, uma das predileções do homem dos songbooks. Sem sair do palco, Adolfo acompanhou Sandra de Sá em versões ultrasuingadas, com tempero jazz e funk, para Transversal do Tempo e Tiro de Misericórdia. Sairam ovacionados.
A mise-en-scene impagável de Jards Macalé, para Siri Catado & o Cacete (envergando um jornal e um cigarro aceso, ele afirmou: "E eu nem como frutos... do mar") e a empolgação de Tunai (irmão de João) em De Frente Pro Crime foram a seqüência. Wagner Tiso, que tocou o piano em De Frente..., ficou no palco e prestou sua homenagem pessoal a Chediak, solando Eu Sei que Vou Te Amar, de Tom Jobim. "Fiquei com inveja do Adolfo", brincou Tiso. Leila Pinheiro, com João Donato nos teclados, soltou logo três: Indeciso, Quando o Amor Acontece e Senhoras do Amazonas (nesta última, o próprio João Bosco, que a acompanhava ao violão, tropeçou nos acordes). João ainda ficou para interpretar Nação, com Simone, e contar histórias de Chediak: "Uma vez Tim Maia quis botar fogo na minha casa. Quem tirou a lata de gasolina da mão do Tim foi o Almir", falou, rindo.
Completando o clima de celebração, Aldir Blanc (que, ao participar no começo da gravação dos CDs do songbook, reatou a antiga dobradinha com João, interrompida desde 1983) afinal juntou-se ao parceiro. E juntos levaram uma das músicas-símbolo de sua lavra conjunta, O Bêbado e a Equilibrista. Aldir falou: "Vou começar a cantar, e quando eu falar 'Caía...', eu caio e vocês cantam". Nem precisava pedir. Ao final, com todos os artistas reunidos no palco - mais o irmão de Almir, Jesus Chediak, que vai continuar o trabalho do irmão na editora/gravadora Lumiar - rolou mais um Kid Cavaquinho, para alegrar os últimos momentos de uma noitada de muita emoção e ótima música.
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