Enfim, chega a vez de Targino Gondim mostrar seu forró
Um dos compositores do sucesso Esperando na Janela, o sanfoneiro descoberto em filme lança seu primeiro disco pelo selo Geléia Geral, de Gilberto Gil
Silvio Essinger
26/03/2001
"O que está bom é que agora tem uma produção, uma gravadora e distribuição nacional", festeja Targino Gondim, sanfoneiro nascido 28 anos atrás em Salgueiro, cidade pernambucana a 100 km de Exu, localidade de onde veio o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Ele se refere a Dance Forró Mais Eu (leia a crítica), disco que acaba de lançar pelo selo Geléia Geral (de Gilberto Gil, com tem distribuição da gigante WEA), depois de seis discos independentes e uma década de carreira animando forrós na Bahia e Pernambuco.
O que mudou a vida do sanfoneiro foi o sucesso de Esperando na Janela, parceria com Manuca e Raimundinho do Acordeon, gravada em disco seu de 1999. Num forró em que ele tocava, a equipe de filmagem de Eu, Tu, Eles (longa dirigido por Andrucha Waddington e estrelado por Regina Casé) caiu de amores pela música. Gravada por Gil para a trilha do filme
, ela acabou se tornando o maior sucesso do cantor baiano desde o disco Unplugged, feito no começo da década para a MTV, e foi usada até em comercial de cerveja.
Targino teve o primeiro contato com a sanfona ainda criança graças ao pai, caminhoneiro, que tocava por diversão e havia tido aulas com Eugênio, irmão de criação de Luiz Gonzaga. "Empolguei-me tocando Asa Branca", lembra. Na adolescência, o que era brincadeira virou coisa séria. O rapaz parou de estudar (depois de ter completado o Segundo Grau) e de fazer desenhos para um jornal de Caruaru para se entregar à música. Depois da morte de Luiz Gonzaga (em 1989) ele resolveu pesquisar com mais profundidade a obra do Rei do Baião. "Alguma coisa me dizia que eu tinha que continuar a obra de Gonzaga", diz.
"Quando comecei a fazer forró por aí, ainda não sabia o que queria", conta Targino. Mas, de show em show, ele viu que dava pé para gravar um disco. Em 96, com mil reais emprestados pelo cunhado, fez a sua estréia no mundo fonográfico com Baião de Novo. Os discos, ele vendia nos shows que fazia em Pernambuco e na Bahia. "O primeiro vendeu cinco mil cópias, o segundo 10 mil e por aí foi", conta. A sua banda, que no início era só de sanfona, zabumba e triângulo, depois foi incorporando bateria, baixo, guitarra e teclados. E, ao longo do tempo, seus seis discos independentes acabaram vendendo mais de 50 mil cópias.
Papel de sanfoneiro
Três anos atrás, Targino Gondim foi pela primeira vez a São Paulo com o cantor e compositor Xangai. "Ninguém me conhecia e eu já tocava Esperando na Janela!", conta. Ele chegou a fazer teste para atuar como sanfoneiro nas filmagens de Eu, Tu, Eles, onde seu pai trabalhava como caminhoneiro - mas não passou porque a produção queria alguém mais velho. O pai chegou até a dar um CD de Targino para Regina Casé, mas a coisa só aconteceu mesmo depois do forró. Além de gravar a música, Gil ainda o convidou para ser o sanfoneiro dos shows de lançamento da trilha do filme. E hoje ele está sendo gravado por nomes como Elba Ramalho (sua Pra Se Aninhar é o carro-chefe do novo disco da cantora, Cirandeira
).
"Espero que o forró não se torne apenas uma onda", comenta Targino. "Quero ver ele se engajar como gênero musical." Foi por causa disso, conta, que ele sempre se preocupou em fazer música que possa ser escutada daqui a 10, 20, 30 anos. "O forró é a língua do povo, ele não vai morrer nunca", prega. O sanfoneiro diz gostar do Falamansa, do Forróçacana e de outros artistas do chamado forró universitário: "Eles buscam conhecimento, coisa que muitas bandas do Nordeste não fazem." Mas alerta para o fato de essa onda de forró ter trazido em seu bojo alguns grupos "de ocasião". "Tem quem ache que é só botar uma zabumba que já está fazendo forró. Precisa é ter coração, alma", diz.
O melhor do sucesso de Esperando na Janela, segundo o músico, foi ter dado condições para que atingisse um público com o qual até então sequer sonhava. "De uma vez só, participei do Rock In Rio (na Tenda Raízes), do carnaval fora de época de Juazeiro e do carnaval de Salvador (no trio elétrico de Gil, o Expresso 2222). Sempre tocando forró", gaba-se. Depois de ter recusado convites para se apresentar no exterior (porque foi justamente na época em que Esperando estava acontecendo), Targino planeja este ano fazer sua primeira investida internacional. Os gringos não perdem por esperar.
O que mudou a vida do sanfoneiro foi o sucesso de Esperando na Janela, parceria com Manuca e Raimundinho do Acordeon, gravada em disco seu de 1999. Num forró em que ele tocava, a equipe de filmagem de Eu, Tu, Eles (longa dirigido por Andrucha Waddington e estrelado por Regina Casé) caiu de amores pela música. Gravada por Gil para a trilha do filme
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Targino teve o primeiro contato com a sanfona ainda criança graças ao pai, caminhoneiro, que tocava por diversão e havia tido aulas com Eugênio, irmão de criação de Luiz Gonzaga. "Empolguei-me tocando Asa Branca", lembra. Na adolescência, o que era brincadeira virou coisa séria. O rapaz parou de estudar (depois de ter completado o Segundo Grau) e de fazer desenhos para um jornal de Caruaru para se entregar à música. Depois da morte de Luiz Gonzaga (em 1989) ele resolveu pesquisar com mais profundidade a obra do Rei do Baião. "Alguma coisa me dizia que eu tinha que continuar a obra de Gonzaga", diz.
"Quando comecei a fazer forró por aí, ainda não sabia o que queria", conta Targino. Mas, de show em show, ele viu que dava pé para gravar um disco. Em 96, com mil reais emprestados pelo cunhado, fez a sua estréia no mundo fonográfico com Baião de Novo. Os discos, ele vendia nos shows que fazia em Pernambuco e na Bahia. "O primeiro vendeu cinco mil cópias, o segundo 10 mil e por aí foi", conta. A sua banda, que no início era só de sanfona, zabumba e triângulo, depois foi incorporando bateria, baixo, guitarra e teclados. E, ao longo do tempo, seus seis discos independentes acabaram vendendo mais de 50 mil cópias.
Papel de sanfoneiro
Três anos atrás, Targino Gondim foi pela primeira vez a São Paulo com o cantor e compositor Xangai. "Ninguém me conhecia e eu já tocava Esperando na Janela!", conta. Ele chegou a fazer teste para atuar como sanfoneiro nas filmagens de Eu, Tu, Eles, onde seu pai trabalhava como caminhoneiro - mas não passou porque a produção queria alguém mais velho. O pai chegou até a dar um CD de Targino para Regina Casé, mas a coisa só aconteceu mesmo depois do forró. Além de gravar a música, Gil ainda o convidou para ser o sanfoneiro dos shows de lançamento da trilha do filme. E hoje ele está sendo gravado por nomes como Elba Ramalho (sua Pra Se Aninhar é o carro-chefe do novo disco da cantora, Cirandeira
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"Espero que o forró não se torne apenas uma onda", comenta Targino. "Quero ver ele se engajar como gênero musical." Foi por causa disso, conta, que ele sempre se preocupou em fazer música que possa ser escutada daqui a 10, 20, 30 anos. "O forró é a língua do povo, ele não vai morrer nunca", prega. O sanfoneiro diz gostar do Falamansa, do Forróçacana e de outros artistas do chamado forró universitário: "Eles buscam conhecimento, coisa que muitas bandas do Nordeste não fazem." Mas alerta para o fato de essa onda de forró ter trazido em seu bojo alguns grupos "de ocasião". "Tem quem ache que é só botar uma zabumba que já está fazendo forró. Precisa é ter coração, alma", diz.
O melhor do sucesso de Esperando na Janela, segundo o músico, foi ter dado condições para que atingisse um público com o qual até então sequer sonhava. "De uma vez só, participei do Rock In Rio (na Tenda Raízes), do carnaval fora de época de Juazeiro e do carnaval de Salvador (no trio elétrico de Gil, o Expresso 2222). Sempre tocando forró", gaba-se. Depois de ter recusado convites para se apresentar no exterior (porque foi justamente na época em que Esperando estava acontecendo), Targino planeja este ano fazer sua primeira investida internacional. Os gringos não perdem por esperar.