Eugenia Melo e Castro adota estratégia de guerra

Cantora portuguesa afinada com a MPB comemora 20 anos de carreira e quer tornar seu trabalho mais popular no Brasil. Para tanto, decidiu lançar de uma só vez seis álbuns, entre inéditos, coletâneas e relançamentos

Rodrigo Faour
29/01/2001
A cantora portuguesa Eugenia Melo e Castro está completando 20 anos de carreira. Pode-se dizer que é um duplo aniversário, pois ela está comemorando também outros 20 anos de afinidades e parcerias com a MPB. Desde o começo de sua vida artística, ela se divide entre Lisboa (onde reside) e o Brasil (onde aparece de dois em dois meses). Para celebrar a data, ela está lançando por aqui um pacote com nada menos que seis CDs: dois novos trabalhos, uma compilação de duetos com grandes nomes da MPB e três CDs que já haviam sido lançados aqui - estes foram remasterizados, tiveram suas capas reformuladas e ganharam algumas faixas bônus, inéditas.

Para quem não está toda hora na mídia, isso não parece uma grande loucura? Eugenia discorda e diz que não se importa de seguir na contramão do mercado. "Tenho lançado todos os meus discos no Brasil desde 1982, mas as gravadoras fazem edições pequenas que desaparecem logo das lojas. Esta invasão no mercado é quase que uma última tentativa de gritar bem alto o que tenho feito quase em segredo, tipo missão secreta", alerta.

A cantora vai além, afirmando que considera-se um "caso à parte" no mercado brasileiro. Por isso, decidiu lançar mão de uma estratégia mais agressiva para mostrar sua arte aos brasileiros. "Ninguém na indústria da música sabe muito bem onde me colocar, então, já que é assim, eu não sigo regras normais de mercado, as minhas expectativas são muito concretas, eu quero que quem me conheça e goste de mim encontre os meus CDs nas lojas - esse tem sido o meu grande problema, a distribuição. O fato de relançar quatro CDs e lançar mais dois inéditos será apenas um ataque frontal de reposição de discografia nas lojas no Brasil. Claro que, estrategicamente, mandam as regras lançar um CD por ano, trabalhar uma música etc., mas eu sou outsider...", diverte-se.

Surpresas
Os dois novos trabalhos da cantora são Eugenia Melo e Castro Ao Vivo em São Paulo (gravado em 1996 no Sesc Pompéia, já lançado em Portugal e só agora editado no Brasil, pela Eldorado) e Surpresas, também gravado ao vivo no Sesc Pompéia, só que em junho de 2000. Com participação de Wagner Tiso e sua Camerata, este último está sendo lançado primeiro na Internet, pela Zip Net, e em abril estará disponível nas lojas, pela Eldorado.

Inédito tanto no Brasil quanto em Portugal, esse disco traz o seguinte repertório: Bem que se Quis ("que o Nelson Motta fez para eu cantar, a meu pedido, em 1986, e a Marisa Monte gravou no primeiro disco dela"), Retrato em Branco e Preto (Chico Buarque e Tom Jobim), Lição de Astronomia (Herbert Vianna), Estrelas (Arnaldo Antunes), Surpresas (letra de Eugenia para música de Gonzaguinha), Meia-Noite (Edu Lobo e Chico Buarque), Estrela Pequenina (Heckel Tavares), Espera Coração (Custódio Mesquita), Motor da Luz (Caetano Veloso), Viver Sem Ninguém (Valzinho), Longe (Danilo Caymmi e Ronaldo Bastos), The Laziest Girl in Town (Cole Porter) e Quando a Tua Boca Beijo, uma canção erótica portuguesa do começo do século XX.

Além dos álbuns inéditos no Brasil, a cantora aguarda pelo lançamento da compilação Eugenia Melo e Castro.com, previsto para março pela Eldorado. O disco traz 16 duetos gravados ao longo de toda sua carreira com compositores, instrumentistas e cantores brasileiros, dentre os quais Gal Costa, Simone, Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Jobim, Milton Nascimento, Carlos Lyra, Ney Matogrosso, Egberto Gismonti, Wagner Tiso e Toninho Horta. Dois dos duetos são inéditos: o com Paulo Jobim e o com Gonzaguinha. Fica então a pergunta: como é que Eugenia conseguiu conhecer em tão pouco tempo tantos medalhões da MPB e gravar com todos eles?

"Cheguei ao Brasil em 1981 com uma idéia concreta e bem definida na minha cabeça. Sempre soube muito bem o que queria, o que quero, e acho que isso passava no meu olhar. Fui sempre muito bem recebida, pelo Wagner Tiso e por todos os artistas brasileiros com quem trabalhei. Vim para o Brasil da forma mais natural possível, com tempo, sem pressa nem angústia... Quis viver de perto e conhecer a fundo a história e a vida real da música brasileira. Eu conheci o Caetano em Lisboa e ele deu a maior força para eu vir procurar o Wagner Tiso. Fui me infiltrando devagarinho na MPB e de repente tudo foi acontecendo normalmente...", explica.

A Banda
Na verdade, essa paixão pelos artistas de nossa música nasceu há muitos anos, quando Eugenia se apaixonou por uma canção de Chico Buarque. "Minha idéia fixa com o Brasil começou pelo Chico. Eu tinha 10 anos, ouvi A Banda e entendi a letra. Fiquei fascinada com a forma cantada da língua portuguesa. Depois descobri o Milton, o Wagner, o Caetano, Elis, Gal, Tom e deu no que deu", conta ela, que finalmente relança os álbuns Eugenia Melo e Castro canta Vinicius de Moraes, Vaga Azul e Eu Não Sei Dançar, todos pelo selo Eldorado.

"O primeiro saiu no Brasil e em Portugal em 1995, agora tem nova capa e mixagem e volta ao mercado em abril. O segundo saiu em Portugal e no Brasil em 1986, chamava-se Eugenia Melo e Castro 3. Agora tem mais uma faixa extra, que canto com Ney Matogrosso, que na época ficou de fora do disco, chamada A Luz do Meu Caminho, de Paulo Jobim e Ronaldo Bastos. Esse está previsto para maio. E o terceiro saiu em Portugal em 1993, com o título Lisboa Dentro de Mim e sai no Brasil em junho, com uma música inédita, Estrelaria, da mesma dupla de autores".

Para coroar tantos lançamentos, Eugenia pretende montar uma extensa agenda de shows pelo país. "Estou preparando uma espécie de turnê pelos Sesc do Brasil, a partir de abril, quando quase todos os CDs estiverem nas lojas. Vou fazer apresentações no Rio, São Paulo, Curitiba, interior de São Paulo, Belém, Salvador, Manaus, Porto Alegre....e muitos mais", antecipa a guerreira lusa.