Eumir Deodato colore novo Herbert Vianna

De passagem pelo Brasil, o autor da trilha do filme Bossa Nova faz arranjos para faixa do terceiro disco solo do paralama e garante que pode reconduzir os Titãs a um som pauleira

Silvio Essinger
12/06/2000
Bem jovem, Eumir Deodato começou seu trabalho de pianista e arranjador – a bossa nova estava em seu auge, e ele era o homem a orquestrar alguns dos primeiros discos de Marcos Valle, Leny Andrade e Wilson Simonal. Solo, ele chegou a gravar Inútil Paisagem, disco só com músicas de Tom Jobim (para quem mais tarde fez arranjos), recentemente relançado pela Universal Music. Em 1967, foi para os Estados Unidos e iniciou atividades múltiplas, cada vez mais distantes da bossa: fez arranjos para disco de Frank Sinatra, produziu Milton Nascimento, ganhou as paradas com uma versão jazz funk de Assim Falou Zaratustra (peça de Richard Strauss que tinha embalado a abertura do filme 2001 – Uma Odisséia no Espaço) ouvir 30s, produziu a banda Kool & The Gang para o sucesso planetário (com Celebration) e, em 1995, deu à cantora islandesa Björk as luxuosas camas de cordas que o mundo ouviu na música Isobel. Por fim, no apagar das luzes dos anos 90, Deodato se aproximou da música pop nacional e fez arranjos de cordas para as banda Penélope e Titãs e para Carlinhos Brown.

De passagem pelo Brasil para o dia das mães, o músico descansou carregando pedra: escreveu o arranjo de cordas de Partir, Andar, faixa que vai entrar no terceiro disco solo do líder dos Paralamas do Sucesso, Herbert Vianna, cantada por Zélia Duncan. Típica balada paralâmica, com passagem bossa no meio, ela se torna assim a quinta música do novo pop brasileiro arranjada por Deodato. A primeira foi O Ponto, que entrou ano passado no disco de estréia da Penélope, Mi Casa, Su Casa – a iniciativa de convidar o arranjador (que acabou mandando o trabalho por fax) foi do guitarrista da banda, Luisão. Depois, vieram Soul By Soul (no disco Omelete Man, de Carlinhos Brown ouvir 30s e a dobradinha Miséria-Eu e Ela, no Volume 2 dos Titãs, ambos discos lançados em 1998. E por falar no septeto paulistano, Deodato avisa: "Tenho muita vontade de produzir os Titãs, mas tem que ser para fazer algo porrada logo na primeira nota."

De volta a Tom Jobim
Por mais estranho que possa parecer, seu mais recente disco a desembarcar no Brasil (até o fim do mês, pela Universal) é a trilha sonora do filme de Bruno Barreto, Bossa Nova ouvir 30s Depois de oito versões, o disco acabou saindo com as canções de Deodato ("que nada têm nada a ver com bossa nova e são coisas circunstanciais", diz) e alguns clássicos de Tom Jobim em novas versões feitas por Eumir e as cantoras Carol Rogers, Barbara Mendes e Claudia Acuña, ou nas versões clássicas de Elis Regina, João e Astrud Gilberto, Sting e do próprio Tom. "Sem querer ser chamado de bossa nova, acabei tendo um disco chamado Bossa Nova", ironiza ele, apontando problemas no resultado final do disco, devidos à masterização. Da nova produção do compositor, os ouvintes poderão conferir músicas como Juan´s Theme, Soul Mates (instrumentais) e Suddenly (que tem Djavan e Carol Rogers numa das versões).

Refeito de toda a bossa nova, Deodato confessa: "O pop é mais a minha área." Ele ainda acalenta planos de realizar um disco reunindo os grandes nomes do pop brasileiro e as feras inglesas dos drum´n bass em torno de suas músicas. O sucesso do CD Supernatural, com o qual o veterano guitarrista mexicano Carlos Santana papou os principais Grammys deste ano, turbinado por participações especiais de jovens nomes da música americana, o anima na empreitada. "Ele me fez lembrar que sucesso não tem nada a ver com a idade", diz, do alto de seus 56 anos.