Fagner ajusta contas com o passado

Cantor traz ao Rio show do seu disco ao vivo que já vendeu 510 mil cópias e promete relançar LP que gravou em homenagem a Picasso

Silvio Essinger
22/05/2000
A estréia do cantor e compositor Fagner na Sony Music (gravadora que detém o catálogo da CBS, onde ele gravou boa parte de seus clássicos discos, nas décadas de 70 e 80) foi mais do que feliz: em apenas dois meses, o CD duplo Raimundo Fagner ao Vivo chegou à marca de 510 mil cópias vendidas (números fornecidos pela companhia), puxado pelo sucesso das faixas Canteiros (que esteve interditada por mais de duas décadas pela família de Cecília Meireles, autora do poema em que a letra é baseada) e Espumas ao Vento. Com este respaldo, Fagner chega esta semana ao Rio para uma temporada do seu novo show, que vai de quinta-feira a domingo, no palco do Canecão. Com apenas duas músicas inéditas – Último Trem e Chama Quente – o disco, gravado em janeiro em Fortaleza, aponta para um espetáculo de antigos sucessos – Mucuripe, Noturno, Revelação, Deslizes, Pedras que Cantam etc. É um repertório testado e aprovado, com o qual Fagner espera fazer muitos shows pelo país e bater recordes de vendagem até o fim do ano. "Vou trabalhar muito esse ano e ser o burro de cangaia desse disco", promete.

Os planos do cantor na Sony, no entanto, não se resumem à busca por discos de platina – ele quer também exercer um melhor controle sobre o seu catálogo e promover alguns relançamentos importantes. A começar por Homenagem a Picasso (1983), disco que gravou junto com o poeta espanhol Rafael Alberti, falecido ano passado. Este álbum tinha ficado de fora da série Geração Nordeste, na qual alguns discos de Fagner (e de Elba e Zé Ramalho) ganharam edição em CD, no ano passado. Melhor assim, garante ele, que viu o seu disco Traduzir-se, de 1981, ser jogado nessa vala comum. "Esse é o meu disco mais internacional, não era para ser metido na Geração Nordeste", reclama.

Os planos de Fagner também incluem o lançamento em CD dos dois discos gravados na CBS pelo cordelista cearense (hoje nonagenário) Patativa do Assaré. "Ele não é reconhecido pela Academia por frescura, porque não toma o chá das cinco", provoca. A idéia é trazer, junto com os discos, os respectivos cordéis, numa edição que seria vendida em bancas de jornais. Por sinal, Fagner elogia a decisão do cantor Lobão, que resolveu vender nas bancas o seu último disco, A Vida é Doce. "O mercado está aberto e super-competitivo e os alternativos estão mostrando que se pode fazer bem-feito."

Raimundo Fagner ao Vivo é o segundo disco consecutivo de revisão de carreira do cantor: em 1998, foi a vez do também duplo Amigos e Canções (1998). Ou seja: desde Terral (1997) que não se vê um disco autoral de Fagner. Mas ele conta que em outubro deve estar começando o trabalho que encerrará esse jejum: "Já estou conversando com alguns dos meus parceiros, como Ferreira Gullar e Abel Silva."