Fagner grava no Rio de Janeiro CD e DVD ao vivo

Cantor cearense revê sucessos e canções pouco conhecidas no repertório e aproveita para opinar sobre as eleições

Marco Antonio Barbosa
26/08/2002
Faz pouco mais de dois anos que Raimundo Fagner lançou seu último álbum ao vivo, disco duplo no qual revia seus grandes sucessos, como manda o figurino. Uma nova incursão no campo dos registros de shows foi empreendida pelo cearense na semana passada - Fagner ocupou o Teatro João Caetano (RJ) por dois dias a fim de gravar mais um álbum alive. E, como manda o figurino (atual), da sessão também sairá um DVD. Fagner alinha-se à cada vez maior legião de grandes nomes da MPB que aderem - num momento de crise da indústria fonográfica - à aposta fácil da dobradinha CD/DVD ao vivo. A gravação, no entanto, contou com um detalhe que conferiu uma pimenta a mais em relação a tantos outros projetos similares: a presença, no João Caetano, do candidato à Presidência da República Ciro Gomes, que assistiu à primeira noite de gravação (no último dia 19).

"O motivo maior (do projeto) é mesmo a gravação do DVD, o primeiro em minha carreira", admite o compositor, desancando, de leve, sua antiga gravadora (a BMG), que lançou há pouco um DVD com gravações suas ao vivo. "Aquele (DVD) que a BMG lançou não vale", disse Fagner ao Cliquemusic antes de entrar no palco do João Caetano. "Aquelas imagens faziam parte de um material feito para a televisão; a gravadora só aproveitou a onda atual para jogar no mercado. O primeiro, oficial, é este que estamos gravando agora, que terá mais coisas inéditas e um material mais farto."

Nada menos que 25 canções, suficiente para um CD duplo, foram apresentadas por Fagner e sua banda. Segundo o cantor, tentou-se driblar o óbvio. "Tem vários sucessos na seleção, mas a maioria das músicas antigas são canções que tinham potencial e que acabaram não emplacando quando foram lançadas", explica. "Além do mais, tudo virá com arranjos novos, trabalhados de outra maneira". Secundando o cantor, estão os mais do que experientes Ítalo (piano/sanfona), João Lira (violão), Cristiano Pinho (guitarra/cavaco), Jamil Joanes (baixo), Spock (sopros), Mingo Araújo (percussão) e Luizinho Duarte (bateria). A produção fica a cargo de outro antigo colaborador, José Milton, e a regência é do maestro Adelson Viana (que também toca piano no disco). Valorizando o cenário, a iluminação é do premiado Maneco Quinderé.

Entre os momentos mais marcantes da apresentação, pode-se destacar o novo arranjo de Quem Me Levará Sou Eu, à base de violão (do próprio Fagner) e acordeon, e a participação de Zeca Baleiro - apresentado como "irmãozinho" - em A Tua Boca. "O Yamandú Costa também foi convidado, mas não pôde participar por problemas na agenda. De repente ele coloca um violão no estúdio mesmo", conta Fagner. Uma surpresa é a inclusão de um poema inédito de Patativa do Assaré, falecido este ano, musicado por Gereba. "Festa da Natureza é o nome da música, e mostra um Patativa diferente, num poema cantando a beleza da terra e da natureza, sem falar em seca ou sofrimento", diz Fagner. Para a homenagem ao poeta, o cenário muda e incorpora bandeirinhas típicas das festas juninas do interior.

A canção de Patativa e Gereba é apresentada logo após uma emocionada versão de As Rosas Não Falam, de Cartola. Entre as tais canções "com potencial", há coisas como Me Leve (de Ferreira Gullar), Fracasso, Quando Chega o Verão e Retrovisor, todas menos conhecidas. Mas os sucessos não hão de faltar. Guerreiro Menino, Jura Secreta e Pedras que Cantam são tocadas antes do bis. Na volta ao palco (estranhamente não exigida pelo público), Fagner abre o baú e libera Canteiros, Deslizes, Borbulhas de Amor, Mucuripe e Noturno, para alegria dos fãs.

Mais do que o repertório ou os arranjos, chamou a atenção a marcante presença de Ciro Gomes, presidenciável pela coligação Frente Trabalhista. Ciro (que cresceu na política cearense e é amigo pessoal do cantor) foi alvo preferencial de fotógrafos e repórteres ao chegar e ao sair do Teatro João Caetano. Anunciado por Fagner, o candidato foi vaiado por algumas pessoas da platéia; o cantor ironizou, perguntando se os apupos não seriam para o candidato Anthony Garotinho (que está em primeiro lugar nas pesquisas eleitorais no Rio de Janeiro). A visita de Ciro à gravação do CD/DVD simbolizou o apoio que Fagner empresta à candidatura do conterrâneo, apoio este que vem de longa data - vale lembrar que já nos créditos do CD ao vivo de 2000 ouvir 30s constavam agradecimentos a Ciro, sua ex-mulher Patrícia Gomes e a Tasso Jereissati, mentor político do candidato da Frente Trabalhista.

"No começo do ano fiz duas previsões e ninguém me levou a sério. A primeira foi que a Seleção ganharia o pentacampeonato no Japão; a outra, que Ciro chegaria bem à reta final das eleições. Uma já se cumpriu, vamos ver a outra", anuncia Fagner, confiante. "Vejo que todo mundo está contra o Ciro agora, mas isso é bom; ele gosta de briga mesmo, sempre cresce na adversidade. Apenas ele pode fazer alguma diferença, se eleito. Ciro está se preparando para assumir (o governo) há muito tempo", assinala o compositor.