Folia de Salvador se orgulha de ser pop

Teve samba reggae, axé, funk, samba de roda, frevo e até música eletrônica nos trios elétricos que animaram o Carnaval 2001 da capital baiana

Tom Cardoso
28/02/2001
Goste ou não do carnaval de Salvador, o mais radical dos críticos tem que concordar: musicalmente a festa baiana é a mais democrática do mundo. Durante os seis dias de folia, ouviu-se de tudo em cima dos trios elétricos - samba reggae, axé music, samba de roda, funk carioca (muito), música eletrônica, rock, frevo. Um trio independente foi ainda mais longe: tocou na mesma noite uma versão de Smells Like a Teen Spirit, do Nirvana, e outra de Mal Acostumbrado, versão caribenha de Julio Iglesias para o sucesso Mal Acostumado, do grupo Ara Ketu.

Enquanto os ortodoxos organizadores do carnaval pernambucano faziam de tudo para boicotar o axé music, o baiano se orgulhava de ser pop. O trio Expresso 2222, liderado por Gilberto Gil, foi uma das boas surpresas do carnaval de 2001. Passaram por lá Marina, Daniela Mercury, Carla Visi, Jorge Ben Jor, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Toni Garrido, Elba Ramalho, Xandy (vocalista do Harmonia do Samba) e Ivete Sangalo. E o melhor: o trio de Gil não tem corda, não cobra mensalidade pelo abadá (o uniforme para sair no bloco). O povo baiano, que normalmente fica espremido nas ruas durante a passagens da maioria dos trios, desta vez pode se divertir à vontade e com direito a música de primeira qualidade.

Aliás, a tendência é que o carnaval baiano volte a ser o que era nos anos 70, quando os trios comandados por Dodô e Osmar eram abertos a todos os foliões. Para o ano que vem, por exemplo, Daniela Mercury já decidiu que o seu trio não terá cordas. Margareth Menezes, que foi um dos grandes destaques do carnaval, já faz isso há muito tempo. Este ano, a cantora conseguiu reunir em seu trio nada menos que os quatro Doces Bárbaros: Caetano, Gil, Gal e Bethânia, esta última, aliás, suibiu pela primeira num trio elétrico. O quarteto cantou músicas de Dorival Caymmi, o grande homenageado do carnaval de 2001.

Outro trio que inovou em 2001 foi o Ecotrio (projetado pela Fundação Onda Azul, presidida por Gilberto Gil), não só pelo seu combustível (é movido a gás natural, muito menos poluente) mas pela diversidade de convidados, entre eles a cantora baiana Rebeca Matta (a única representante da música eletrônica local), Davi Moraes, o produtor Arto Lindsay, Lucas Santtana e Carlinhos Brown.

Nos outros trios, estes sim cobrando altas taxas por abadá (que chegam a custar R$ 700), a mesmice imperou. Chiclete com Banana, Banda Eva, Terra Samba, Asa de Águia, Ara Ketu, Ivete Sangalo Ricardo Chaves, todos, sem exceção, cantaram o mesmo repertório, com um pouco de funk carioca, um pouco de pagode e muita axé music. Independentemente disso, o carnaval da Bahia cresce a cada ano. Em 2001 passaram pelas ruas de Salvador, segundo o levantamento da Prefeitura, mais de 2 milhões de pessoas, sendo que 900 mil eram turistas. Para o carnaval de 2002, novos espaços serão criados, pois não há mais lugar para ninguém.