Frejat, solo, enfrenta o <i>resto do mundo</i>

Líder do Barão Vermelho consolida sua carreira individual com segundo álbum, romântico como sua estréia

Marco Antonio Barbosa
22/06/2003
Mais maduro, mais romântico (no melhor dos sentidos), mais aberto a novas influências e parcerias. Mas ainda com um coração roqueiro. Frejat, hoje e sempre o líder do Barão Vermelho, dá mais um passo em sua carreira individual com seu segundo álbum solo, Sobre Nós Dois e o Resto do Mundo (Warner) - continuação natural do anterior, Amor Pra Recomeçar ouvir 30s (2001). Cada vez mais coerente com seu status único na trajetória do rock brasileiro nas últimas duas décadas, Frejat agora, aos 41 anos, mais do que tudo, busca seu equílibrio artístico interno. "Chega uma hora em que você tem que ter um semancol. Estou ciente de que, por eu ser um artista pop, o meu público sempre será predominantemente jovem. É por isso que eu não posso assumir, de uma hora para a outra, que virei um 'artista adulto', já que ainda toco rock'n'roll. Mas também não posso passar ridículo de querer parecer um garotão, à essa altura", assume, francamente, o cantor.

Entretanto, na busca por esse equilíbrio em sua maturidade roqueira, o quarentão Frejat acabou cometendo um disco mais vigoroso do que em sua estréia solo. Sobre Nós... aposta em arranjos mais simples, fundamentados na instrumentação básica do rock. "Desta vez é uma coisa mais compacta, com base na guitarra, baixo, bateria e uma eventual percussão", conta Frejat sobre a nova sonoridade. "Está tudo com mais 'punch'. Quando você usa cordas ou sintetizadores, algum instrumento acaba sendo diminuído ou excluído. Desta vez não houve disputa de espaço, daí a sonoridade precisa, direta e definida." Frejat cita Tim Maia como referência para essa orientação direta do novo álbum. "Quando você ouve uma música do Tim, está tudo lá, na cara, sem firulas. O meu disco novo também foi feito assim, de forma objetiva, para as pessoas ouvirem e logo sairem assobiando."

Direto, roqueiro e assobiável, mas também - assim como em Amor Pra Recomeçar - decididamente romântico. "É romântico sim, completamente. Mas sem pieguice", assume Frejat, com a devida ressalva. "É um disco de um cara que sai de uma banda de rock e tenta achar um jeito próprio de falar de amor", define. Os desvãos das relações amorosas dominam todas as letras. "São histórias comuns, mas nunca banais. Gosto de viajar nas narrativas, construir personagens", detalha o cantor.

Uma razão para os novos ares de Frejat talvez possa ser encontrada nas parcerias inauguradas neste álbum. Duas das mais interessantes faixas do disco, Eu Preciso Te Tirar do Sério e Paz Nunca Mais, foram compostas em conjunto, respectivamente, com Maurício Negão e Erasmo Carlos. A parceria com Negão - um dos bons nomes da nova safra pop carioca - acabou virando o primeiro single do CD. "Essa música foi composta de um jeito diferente do que costumo fazer", narra Frejat. "Geralmente eu faço sozinho a letra ou a melodia, e o outro parceiro vem e completa. Desta vez eu e o Negão sentamos e pensamos a melodia toda juntos. O refrão demorou a sair a beça, e aquele riff de guitarra - bem hendrixiano, tanto eu como ele somos fãs de Jimi Hendrix - saiu na hora de gravar, foi bem espontâneo." O trabalho solo de Maurício Negão, ligado conceitualmente à black music e a uma MPB modernizada, aparentemente não tem muito a ver com a música de Frejat. "Mas senti a necessidade de ter contato com a geração dele", explica o cantor. "A música dele é bonita, forte, quis abrir espaço para ele, dar uma força."

Já com Erasmo, decano do nosso rock, a identificação é naturalmente maior. "Eu fiquei com a maior inveja do Max de Castro!", fala Frejat, referindo-se à canção A História da Morena Nua que Abalou as Estruturas do Esplendor do Carnaval 30'' excerptsparceria entre o filho de Wilson Simonal e o Tremendão, lançada em 2002. "Nos conhecemos há anos, mas nunca tínhamos feito nada juntos. Quando sugeri uma parceria, ele sacou na hora um rascunho de letra... que depois foi completamente mudada!", relembra o cantor sobre a gênese de Paz Nunca Mais, uma quase-balada de versos sugestivos ("Desfrutar do que não vê / do céu da boca ao ponto G"). "Foi um privilégio para mim trabalhar com um cara a quem admiro desde criança. Agora me sinto um outro Roberto, disse até isso para ele", brinca Frejat sobre a união com Erasmo.

No mais, Frejat pisa em território familiar, repetindo a produção de Tom Capone e aliando-se aos velhos parceiros Maurício Barros e Mauro Santa Cecília. "Eles são muito próximos mas, curiosamente, de forma diferente. Mauro é meu amigo de colégio, enquanto que minha relação criativa com o Maurício hoje é completamente outra que no início do Barão, há mais de 20 anos", analisa o cantor. Juntos ou separados, Maurício e Mauro co-assinam seis das 11 faixas do álbum. Também estão de volta os companheiros de Barão Vermelho, Peninha (percussão), Rodrigo Santos (baixo) e Fernando Magalhães (que não toca no disco, mas compôs O que Mais Me Encanta, com Frejat e Mauro). Há até mesmo uma inédita da dobradinha clássica Frejat/Cazuza: Trapaça da Dor. "Quando comecei a pensar no repertório, em outubro do ano passado, encontrei uma fita com a música pronta: tinha a voz, bateria programada, baixo e guitarra. Essa, nem Lucinha (Araújo, mãe de Cazuza) tinha! O impressionante é que, 20 e tantos anos depois, a música tem tudo a ver com meu trabalho solo", diz Frejat.

Por falar em Cazuza, e como vai o Barão Vermelho? Com a carreira solo de Frejat cada vez mais consolidada - Amor pra Recomeçar recebeu disco de ouro e o videoclipe da música Segredos ganhou vários prêmios - ainda haverá espaço para o retorno do dinossauro do rock carioca? "Vamos voltar em 2004", fala Frejat. "Estamos juntos há mais de 20 anos e agora precisamos de um tempo maior entre os discos e turnês, para só retornar quando houver um trabalho que justifique isso. Além disso, todos os membros do grupo estão trabalhando, tocando coisas paralelas. Ninguém está parado." Em relação à projeção individual que o vocalista ganhou nos últimos dois anos, Frejat diz que não há recalques internos. "Todos ficam felizes, ninguém tem mágoa", fala, lembrando que a pausa nas atividades do Barão foi uma decisão unilateral. "O Guto (Goffi, baterista e único remanescente da formação original junto a Frejat) foi obrigado a parar porque eu queria parar. Ele queria continuar tocando. Mas isso foi naquela época (2000). Agora, não há mais discussões e continuamos mantendo contato com freqüência", garante.