Gal Costa e Edu Lobo enfrentam público frio

Show da dupla comemorando os seis anos do ATL Hall (RJ) apostou num repertório de clássicos da MPB, privilegiando Tom Jobim, Ary Barroso e canções da dupla Edu & Chico Buarque

Rodrigo Faour
02/09/2000
Foi um show correto. Músicos bons – Cristóvão Bastos (piano), Jurim Moreira (bateria e percussão) e Bororó (baixo) –, repertório de clássicos da MPB, um Edu Lobo à vontade no palco (chegou até a contar piadinhas) e uma Gal Costa discreta. Mas não chegou a ser apoteótico. A platéia que foi sexta-feira prestigiar o show da dupla no aniversário de seis anos do ATL Hall (ex-Metropolitan) não foi das maiores e estava um pouco fria. Gal e Edu (que substituiu o hospitalizado Baden Powell) tiveram que penar para arrancar o coro de algumas músicas, como Pra Dizer Adeus (uma das que cantaram em dupla). E nada de gritinhos – tão comuns ao público carioca. Tudo estava muito bem comportado. Salvo a corda de violão de Edu, que se rompeu antes que ele anunciasse a entrada de Gal ao palco, no meio do show, tudo ocorreu dentro do previsto e do previsível.

Edu cantou suas canções mais famosas – Ponteio, Corrida de Jangada, Choro Bandido, Beatriz, Upa Neguinho, mais Boto (Tom Jobim e Jararaca) e o Trenzinho do Caipira, de Villa-Lobos com letra de Ferreira Gullar – e Gal investiu em canções manjadas de seu repertório, como Camisa Amarela e Aquarela do Brasil (Ary Barroso), Força Estranha e Luz do Sol (Caetano Veloso), Samba do Avião, Chega de Saudade e A Felicidade (da lavra jobiniana). Só clássicos, sem maiores invenções nos arranjos vocais e instrumentais.

O ponto alto da noite foram os duetos. Especialmente aquele que ocorreu logo após à quebra da corda do violão de Edu: o delicioso fox A História de Lily Brown (Edu & Chico Buarque) – que Gal gravara magistralmente no álbum O Grande Circo Místico, de 1983. A cantora mostrou charme, boa divisão ritmica e belos floreios vocais neste número – em seus demais números solo o tom foi mais morno. Mais para o final, outros bons duetos aconteceram com a dupla entoando a outra (rara) menos conhecida do repertório, A Mulher de Cada Porto (também de Edu & Chico), composta para a peça O Corsário do Rei (1985). Piano na Mangueira e a indefectível Se Todos Fossem Iguais a Você (peça clichê de encerramentos de shows) finalizaram o espetáculo. O bis foi o belo Canto Triste e novamente o Piano na Mangueira, com os dois no palco.

A temporada de Edu & Gal vai até domingo. Quem quiser ouvir canções clássicas da MPB sem maiores pretensões vai gostar. Quem esperar mais energia e um repertório mais inventivo da dupla é melhor esperar outra oportunidade. O melhor da noite foi comprovar que já foi o tempo em que Edu Lobo era um rapaz tímido em palco – ele segurou a apresentação muito bem para quem é, acima de tudo, um compositor. Quanto a Gal, apesar de sua grande técnica e alguns bons momentos, dá saudades de sua fase enérgica de Galtropical. Mas como a diva já se renovou muitas vezes, é possível que quando menos se espere ela surpreenda com alguma novidade.