Gal Costa e os clássicos da era pré-Bossa Nova
Cantora revisita sucessos dos anos 20 aos 50 Todas as Coisas e Eu, primeiro CD pela Indie Records
Marco Antonio Barbosa
21/11/2003
Gal Costa foi mais uma a aderir ao crescente bloco de medalhões da MPB que se
afastou das grandes gravadoras; Maria Bethânia, Paulinho da Viola, Milton
Nascimento e outros já romperam com o tradicional esquema de contratos
(milionários e de longo prazo) com multinacionais. Entretanto, parece que o
relacionamento da baiana com seu novo selo, a Indie Records, começou de pé
esquerdo. Divergências marcaram o primeiro projeto de Gal na Indie, o álbum
Todas as Coisas e Eu, que, afinal de contas, acaba de chegar às lojas -
nem exatamente do jeito que a cantora queria, nem bem da maneira que a gravadora
desejava. Mas para Gal, tudo já é água sob a ponte. "Foi um processo
desgastante, frustrante. Um episódio chato. Mas a música me fez superar esses
problemas iniciais. Quando eu canto, eu levito, viajo, esqueço tudo", afirma a
intérprete.
Recapitulando o "episódio chato", como Gal o classificou: Todas as Coisas e Eu deveria ter sido gravado ao vivo, num show superproduzido na casa noturna Canecão (RJ), dirigido por Bia Lessa. O espetáculo, marcado para outubro último e amplamente divulgado, foi cancelado em cima da hora - segundo a gravadora, por "não haver tempo hábil para confeccionar o ambicioso projeto da diretora". Gal explica: "O show foi rejeitado por questões de orçamento. Entre fazer de qualquer jeito, sem cumprir o compromisso que firmei com Bia e com o próprio público, e adiar, preferi a segunda opção." Um buraco mais embaixo ainda era a vontade da Indie de tascar a rubrica "ao vivo" no disco, possivelmente para garantir mais vendas. "Líber (Gadelha, presidente da gravadora) queria que fosse ao vivo, com o DVD saindo ao mesmo tempo. Não queria gravar ao vivo sem toda a preparação que eu e Bia fizemos. Vou gravar o DVD ano que vem, com o cenário e o roteiro completos", garante Gal.
O novo álbum acabou sendo feito em estúdio, em tempo recorde; do anúncio do cancelamento até o lançamento do CD, não se passou mais de um mês. "Já tínhamos ensaiado muito, fizemos toda uma preparação para o show que não houve, por isso a gravação foi rápida", fala Gal, que em Todas as Coisas e Eu trabalhou com Marcus Teixeira (violão), Jorge Helder (baixo), Jurim Moreira (bateria), Marcos Suzano (percussão), João Rebouças (piano) e Zé Canuto (sax), sob a produção de Mariozinho Rocha. "Deu mais trabalho para reouvir as versões originais do repertório, para termos uma base sobre a qual trabalhar, do que gravar para valer", lembra a cantora.
O repertório, como também foi ampla e antecipadamente divulgado, constitui-se apenas de clássicos da música brasileira compostos entre as décadas de 1920 e 1950. Segundo Gal, "todas são músicas que me acompanham desde menina, (as quais) eu cresci cantando. Nem tive trabalho para decorar as letras." Originalmente, a seleção seria escolhida pelo público, em um concurso promovido pela Rede Globo de Televisão (o que explica a parceria Indie/Som Livre no CD e a produção de Mariozinho Rocha, diretor musical da emissora). Mas a decisão final ficou a cargo da cantora e do produtor, concentrados sobre uma ampla lista de sucessos pré-Bossa Nova. "Foi difícil cortar, reduzir o repertório", fala Gal. "Todas as músicas são muito marcantes, estão em minha memória afetiva."
A lista que chegou ao CD tem 19 canções (um pout-pourri junta em uma só faixa Sábado em Copacabana, de Caymmi/Guinle e Copacabana, de Braguinha/Alberto Ribeiro, e outro compila quatro sambas de Noel Rosa, O Orvalho Vem Caindo, Fita Amarela, Até Amanhã e Palpite Infeliz). Gal cita suas preferidas pessoais: "Sempre amei Fim de Caso (Dolores Duran), Pra Machucar Meu Coração (Ary Barroso) e a versão de Dalva de Oliveira para Ave-Maria no Morro (Herivelto Martins).
Junto a outras pérolas como Folhas Secas (Cavaquinho/De Brito), Brigas (Evaldo Gouveia/Jair Amorim) e Nervos de Aço (Lupicínio Rodrigues), essas preferidas podem dar a impressão que Gal fez um álbum melancólico. "A maioria das músicas tem essa conotação, sim. Mas fiz questão de dar sempre uma interpretação pra cima, jovial. Acho que dei uma cara nova ao repertório", fala a cantora, que exemplifica pinçando a gravação que fez de Alguém Como Tu (Jair Amorim/José Maria de Abreu). "Dick Farney, quando gravou a versão clássica desta música, fez em tom de fossa. Eu coloco num registro mais latino, com suingue", resume Gal.
Alvo de polêmicas no passado recente - como quando, por exemplo, teria afirmado que "falta qualidade nos novos compositores" - Gal diz enxergar "ousadia" em Todas as Coisas e Eu, ainda que o álbum soe, em forma e conteúdo, conservador. "Não deixa de ser ousado tentar colocar uma marca pessoal num repertório tão amplo, e ao mesmo tempo tão antigo", insiste a baiana. Indagada sobre o que tem ouvido de novidades interessantes na MPB, Gal pára e pensa. "Gravei Wander Lee no Bossa Tropical (2002), gosto também de Chico César... Penso em gravar um disco só com compositores novos, mas isso quando me der na veneta. Não venham com cobranças, hein?!", afirma, brincalhona e na defensiva.
Recapitulando o "episódio chato", como Gal o classificou: Todas as Coisas e Eu deveria ter sido gravado ao vivo, num show superproduzido na casa noturna Canecão (RJ), dirigido por Bia Lessa. O espetáculo, marcado para outubro último e amplamente divulgado, foi cancelado em cima da hora - segundo a gravadora, por "não haver tempo hábil para confeccionar o ambicioso projeto da diretora". Gal explica: "O show foi rejeitado por questões de orçamento. Entre fazer de qualquer jeito, sem cumprir o compromisso que firmei com Bia e com o próprio público, e adiar, preferi a segunda opção." Um buraco mais embaixo ainda era a vontade da Indie de tascar a rubrica "ao vivo" no disco, possivelmente para garantir mais vendas. "Líber (Gadelha, presidente da gravadora) queria que fosse ao vivo, com o DVD saindo ao mesmo tempo. Não queria gravar ao vivo sem toda a preparação que eu e Bia fizemos. Vou gravar o DVD ano que vem, com o cenário e o roteiro completos", garante Gal.
O novo álbum acabou sendo feito em estúdio, em tempo recorde; do anúncio do cancelamento até o lançamento do CD, não se passou mais de um mês. "Já tínhamos ensaiado muito, fizemos toda uma preparação para o show que não houve, por isso a gravação foi rápida", fala Gal, que em Todas as Coisas e Eu trabalhou com Marcus Teixeira (violão), Jorge Helder (baixo), Jurim Moreira (bateria), Marcos Suzano (percussão), João Rebouças (piano) e Zé Canuto (sax), sob a produção de Mariozinho Rocha. "Deu mais trabalho para reouvir as versões originais do repertório, para termos uma base sobre a qual trabalhar, do que gravar para valer", lembra a cantora.
O repertório, como também foi ampla e antecipadamente divulgado, constitui-se apenas de clássicos da música brasileira compostos entre as décadas de 1920 e 1950. Segundo Gal, "todas são músicas que me acompanham desde menina, (as quais) eu cresci cantando. Nem tive trabalho para decorar as letras." Originalmente, a seleção seria escolhida pelo público, em um concurso promovido pela Rede Globo de Televisão (o que explica a parceria Indie/Som Livre no CD e a produção de Mariozinho Rocha, diretor musical da emissora). Mas a decisão final ficou a cargo da cantora e do produtor, concentrados sobre uma ampla lista de sucessos pré-Bossa Nova. "Foi difícil cortar, reduzir o repertório", fala Gal. "Todas as músicas são muito marcantes, estão em minha memória afetiva."
A lista que chegou ao CD tem 19 canções (um pout-pourri junta em uma só faixa Sábado em Copacabana, de Caymmi/Guinle e Copacabana, de Braguinha/Alberto Ribeiro, e outro compila quatro sambas de Noel Rosa, O Orvalho Vem Caindo, Fita Amarela, Até Amanhã e Palpite Infeliz). Gal cita suas preferidas pessoais: "Sempre amei Fim de Caso (Dolores Duran), Pra Machucar Meu Coração (Ary Barroso) e a versão de Dalva de Oliveira para Ave-Maria no Morro (Herivelto Martins).
Junto a outras pérolas como Folhas Secas (Cavaquinho/De Brito), Brigas (Evaldo Gouveia/Jair Amorim) e Nervos de Aço (Lupicínio Rodrigues), essas preferidas podem dar a impressão que Gal fez um álbum melancólico. "A maioria das músicas tem essa conotação, sim. Mas fiz questão de dar sempre uma interpretação pra cima, jovial. Acho que dei uma cara nova ao repertório", fala a cantora, que exemplifica pinçando a gravação que fez de Alguém Como Tu (Jair Amorim/José Maria de Abreu). "Dick Farney, quando gravou a versão clássica desta música, fez em tom de fossa. Eu coloco num registro mais latino, com suingue", resume Gal.
Alvo de polêmicas no passado recente - como quando, por exemplo, teria afirmado que "falta qualidade nos novos compositores" - Gal diz enxergar "ousadia" em Todas as Coisas e Eu, ainda que o álbum soe, em forma e conteúdo, conservador. "Não deixa de ser ousado tentar colocar uma marca pessoal num repertório tão amplo, e ao mesmo tempo tão antigo", insiste a baiana. Indagada sobre o que tem ouvido de novidades interessantes na MPB, Gal pára e pensa. "Gravei Wander Lee no Bossa Tropical (2002), gosto também de Chico César... Penso em gravar um disco só com compositores novos, mas isso quando me der na veneta. Não venham com cobranças, hein?!", afirma, brincalhona e na defensiva.