Gerson King Combo volta ao disco

Ídolo dos bailes black do subúrbio carioca, hoje reverenciado pelos rappers, o cantor entra em estúdio mês que vem para gravar A Nata do Soul

Silvio Essinger
31/07/2000
Por mais que se busque manter o mesmo espírito, um baile soul dos anos 70 não tem o mesmo clima que uma festa hip hop em 2000. "Acho isso aqui uma loucura, mas tenho que acompanhar a época", reconhece Gerson King Combo, o astro da black music carioca de outrora, confraternizando com a juventude rap sábado passado, na festa Zoeira, que acontece semanalmente na Sinuca da Lapa (RJ).

Para os rappers, Gerson é um ídolo: seus dois LPs, de 1977 e 1978, o consagraram como uma espécie de James Brown brasileiro, cantando com muito suingue músicas que foram hits nos bailes, como Mandamentos Black e God Save The King – e a Zoeira o aplaudiu em peso no sábado quando dublou e dançou os Mandamentos. Em 1984, ele gravou seu último disco, o compacto com a Melô do Mão Branca, que pode ser considerado um precursor (bem-humorado, porém) do rap de temática bandida que anda tendo muito apelo em São Paulo.

Afastado da música na última década, Gerson agora volta com força total. Mês que vem, ele entra em estúdio para gravar seu primeiro álbum depois de 22 anos: A Nata do Soul, que terá cinco remixes de faixas antigas e seis músicas inéditas. "Mas não vai ter hip hop. É o som da época, com palavras novas", adianta o cantor. Entre as músicas novas, estão Tenha Paciência, Amigo e outras que nem letra ganharam ainda.

Só não será a estréia oficial de Gerson no formato digital porque a Universal incluiu a faixa Andando nos Trilhos (do LP Gerson King Combo, de 1977) na compilação Soul Brasileiro, que acaba de ser lançada (ver crítica). Cópias piratas em CDR de seus dois discos podem ser facilmente achadas em São Paulo. Já os vinis originais viraram peças de colecionador e custam fortunas em sebos do Brasil e do exterior.

Sensação nos bailes black do subúrbio carioca nos 70, com suas extravagantes capas, sua voz de trovão e sua dança à la James Brown, o cantor foi reaparecendo discretamente, dois anos atrás, em participações nos shows da banda Clave de Soul e da cantora soul Andréa Dutra. Fã de Gerson, o discotecário Ademar Matias da Silva, o Dema, que vem promovendo no Rio bailes soul nos moldes daqueles de 25 anos atrás, estava atento à movimentação.

Ele aproveitou a homenagem ao movimento Black Rio, feita com pompa ano passado na Câmara Municipal, para convencer o cantor a voltar a participar dos bailes. "Mexi com os brios dele", conta. E Gerson foi às festas reencontrar seu público – algum tempo depois, estava participando do disco da banda mineira Berimbau. Era uma questão de honra para o DJ que Gerson gravasse um disco próprio.

Por intermédio de contatos feitos com representantes de rádios comunitárias, Dema chegou a Vilso Ceroni, do selo paulistano de rap União de Idéias, que grava os grupos Realidade Urbana, IDR e Rap Company e distribuidui discos de outros como GOG, Facção Urbana e DMN. Vilso emcampou a idéia do disco do astro funk carioca. Marcou para a próxima semana uma reunião para escolher produtores e banda. Inicialmente, a previsão é que o CD seja lançado no dia 30 de novembro, quando Gerson comemora 55 anos de idade. Vilso promete que o disco terá também uma tiragem especial (3 mil cópias) em vinil, para os DJs. O velho balanço promete sacudir novas pistas.