Gil e Milton ganham o público com carisma
Show da dupla valorizou várias canções do novo disco e foi repleto de bom humor. Faltaram apenas ensaio e um roteiro mais enxuto
Rodrigo Faour
24/11/2000
O que se podia esperar de um espetáculo reunindo dois mitos da MPB do porte de Milton Nascimento e Gilberto Gil? Que fosse o melhor show dos últimos tempos. Muita gente pensou o mesmo e foi conferi-lo de perto. Inclusive muitos vips. Só do meio musical, estavam ali os cantores Caetano Veloso, Nana Caymmi, Lulu Santos, Jorge Mautner e Flávio Venturini, o compositor Ronaldo Bastos e até a veterana rainha do baião, Carmélia Alves. De fato, o show do disco Gil e Milton , que estreou na quinta-feira à noite no palco do Canecão (RJ), pode vir a ser inesquecível, caso a dupla faça alguns ajustes ao longo da temporada.
Analisando alguns números da dupla, individualmente, veremos que há alguns muito bonitos, reforçados pela ótima banda de apoio, na qual se destaca a figura do percussionista Marquinho Lobo e seus efeitos climáticos. Ponta de Areia (cantada por Milton, com coro de Gil), Cafuné na Cabeça Eu Quero Até de Macaco (poema de Leila Diniz musicado por Milton nos anos 70) e várias do disco conjunto, como o rock Lar Hospitalar (Milton/Gil), Dora (Dorival Caymmi), Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón (Fito Paez) e Trovoada (Gil/Milton), ganharam boa dimensão no palco. O número final, com Cálix Bento e Andar Com Fé conseguiu finalmente levantar o público, com coro e palmas da platéia. Já no bis, a versão de Mas que Nada, de Jorge Ben Jor, empolgou mais pelo inusitado do que pela interpretação da dupla. É que Milton pulou para a platéia e ficou improvisando "obá, obá, obá" até que se completassem duas horas e meia de espetáculo.
Milton e Gil, como se sabe, têm estilos distintos no palco. O primeiro é mais tranqüilo e o segundo, mais explosivo. Como o show não teve diretor, o que se viu foi um Gil tentando segurar as pontas para se adequar ao timing mais contido de Milton. Além disso, o show parecia pouco ensaiado (houve desencontros nos duetos e entradas fora do tom em algumas canções), além de falhas no retorno do cantor do Clube da Esquina, que também se atrapalhou na hora de se revezar nos três instrumentos que tocou – muito bem, diga-se de passagem – durante o show: sanfona, violão e teclados.
Felizmente, o carisma da dupla foi capaz de superar alguns dos contratempos. Aliás, Milton estava especialmente divertido, fazendo piadas a cada falha técnica. "No próximo show não vai ter sanfona, não!", brincou ele, referindo-se ao troca-troca de instrumentos. Vale dizer que foi justamente a pequena sanfona – que Milton ganhou quando criança – que proporcionou alguns dos momentos mais charmosos do show, colorindo a melodia de algumas canções. Gil também tocou sua sanfoninha – por coincidência, como o amigo, ele a ganhou quando criança, daí a idéia de cada um levar a sua para o palco – mas em apenas um número: a sertaneja Duas Sanfonas. Foi quando Gil contou que não pegava no instrumento desde os 18 anos de idade. Milton não resistiu e devolveu: "Me engana que eu gosto". Risos gerais. Em outro momento, em que se confundiu quanto à música que iria cantar, Bituca ainda brincou com a ausência de direção do show. "Tudo isso que está acontecendo foi ensaiado pelo diretor." Mais risos.
Os dois cantores ficaram o tempo inteiro no palco e trataram de desfiar as 30 canções do roteiro alinhavando antigos sucessos individuais, composições do novo CD, canções do mais recente álbum solo de Milton (Crooner) e dos últimos de Gil. O problema é que, além de o show ter sido muito longo, algumas vezes o roteiro parecia sem um fio condutor muito definido, como na porção final do show, em que cantaram a caribenha Cravo e Canela, o xote O Vendedor de Caranguejo (Gordurinha), a beatle Something (George Harrison), o rock Beat It (Michael Jackson) e... Xica da Silva (Jorge Ben Jor), antes das místicas Cálix Bento e Andar Com Fé. Menos de um minuto depois, os dois voltaram para um bis ensaiado com dois forrós: Baião da Garoa (Hervê Cordovil/Luiz Gonzaga) e o novo hit de Gil, Esperando na Janela, seguido de Mas que Nada. Enxugando o roteiro, redimensionando a iluminação, caprichando no cenário (cujas projeções ficaram confusas) e ensaiando mais, teremos um show impagável e, aí sim, inesquecível, no nível que eles merecem.
Analisando alguns números da dupla, individualmente, veremos que há alguns muito bonitos, reforçados pela ótima banda de apoio, na qual se destaca a figura do percussionista Marquinho Lobo e seus efeitos climáticos. Ponta de Areia (cantada por Milton, com coro de Gil), Cafuné na Cabeça Eu Quero Até de Macaco (poema de Leila Diniz musicado por Milton nos anos 70) e várias do disco conjunto, como o rock Lar Hospitalar (Milton/Gil), Dora (Dorival Caymmi), Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón (Fito Paez) e Trovoada (Gil/Milton), ganharam boa dimensão no palco. O número final, com Cálix Bento e Andar Com Fé conseguiu finalmente levantar o público, com coro e palmas da platéia. Já no bis, a versão de Mas que Nada, de Jorge Ben Jor, empolgou mais pelo inusitado do que pela interpretação da dupla. É que Milton pulou para a platéia e ficou improvisando "obá, obá, obá" até que se completassem duas horas e meia de espetáculo.
Milton e Gil, como se sabe, têm estilos distintos no palco. O primeiro é mais tranqüilo e o segundo, mais explosivo. Como o show não teve diretor, o que se viu foi um Gil tentando segurar as pontas para se adequar ao timing mais contido de Milton. Além disso, o show parecia pouco ensaiado (houve desencontros nos duetos e entradas fora do tom em algumas canções), além de falhas no retorno do cantor do Clube da Esquina, que também se atrapalhou na hora de se revezar nos três instrumentos que tocou – muito bem, diga-se de passagem – durante o show: sanfona, violão e teclados.
Felizmente, o carisma da dupla foi capaz de superar alguns dos contratempos. Aliás, Milton estava especialmente divertido, fazendo piadas a cada falha técnica. "No próximo show não vai ter sanfona, não!", brincou ele, referindo-se ao troca-troca de instrumentos. Vale dizer que foi justamente a pequena sanfona – que Milton ganhou quando criança – que proporcionou alguns dos momentos mais charmosos do show, colorindo a melodia de algumas canções. Gil também tocou sua sanfoninha – por coincidência, como o amigo, ele a ganhou quando criança, daí a idéia de cada um levar a sua para o palco – mas em apenas um número: a sertaneja Duas Sanfonas. Foi quando Gil contou que não pegava no instrumento desde os 18 anos de idade. Milton não resistiu e devolveu: "Me engana que eu gosto". Risos gerais. Em outro momento, em que se confundiu quanto à música que iria cantar, Bituca ainda brincou com a ausência de direção do show. "Tudo isso que está acontecendo foi ensaiado pelo diretor." Mais risos.
Milton e Gil estréiam show no Canecão
Foto: Betí Niemeyer |