Gonzaguinha: uma referência para a MPB
Gal Costa, Ivan Lins, Aldir Blanc, Elba Ramalho, Marlene, Fafá, Alcione e outros intérpretes, amigos e parceiros relebram o compositor como uma pessoa reservada, de imenso talento
Rodrigo Faour
26/04/2001
Gal Costa
(gravou O Gosto do Amor, De Volta ao Começo , Muito por Demais e Morro de Saudade)
"Era uma pessoa muito próxima de nós, intérpretes. Quando eu estava para gravar algum disco, ele me ligava, ia à minha casa e me mostrava coisas, conversava... estava sempre por perto. Acho que era um compositor fantástico. Sua morte foi uma perda irreparável, um choque enorme. Era uma pessoa carinhosa comigo. Pouco tempo antes de morrer, lembro-me bem que ele esteve em minha casa me mostrando músicas e me disse que queria participar de maneira mais próxima no meu trabalho. Se ele era uma pessoa reservada? Não sei. Comigo, era ótimo!"
Aldir Blanc
(contemporâneo de MAU - Movimento Artístico Universitário - que não foi seu parceiro por mero acaso)
"Quando nos conhecemos, batemos um papo e ele me mostrou a primeira fase de sua produção, com músicas como O Trem e Só Não Vou Mais Ser de Paciência, que até hoje são as que eu mais gosto dele. Apesar de mais tarde ele ter aberto um pouco mais a concepção de seu repertório, tornando-se mais popular - o que é uma atitude para lá de correta - confesso que prefiro aquele Gonzaguinha longo, elaborado, seco, próximo ao do João Cabral de Melo Neto. Fomos classificados no festival e fundamos o MAU, com grandes amigos, como Ivan e Lúcia Lins, César Costa Filho, Sidney Matos, Rolando (do Les Étoiles), Sílvio da Silva Jr, mais de 30 pessoas... O curioso é que apesar de tão próximos, só depois de 10 anos conversamos sobre uma possível parceria, mas entre uma viagem e outra ele morreu."
Angela Maria
(gravou Começaria Tudo Outra Vez e Mulher, e Daí? - Apenas Mulher )
"Gonzaguinha era uma pessoa fechada. Olhando-o de longe, achava-o muito triste. Ele pouco falava mas comigo sempre conversou. Batemos longos papos. Ele tinha razões de ter aquele temperamento, eu sabia de sua vida pessoal. Como compositor, era um dos meus favoritos. Mas, através daquele estado de espírito peculiar em que ele se encontrava sempre, saíam aquelas melodias tão bonitas."
Fafá de Belém
(gravou Memória e Gostoso )
"Na época do meu disco Crença (1980), mostrei uns textos escrevi para Roberto Santana falando de algumas inquietações minhas - sobre a pessoa que existe atrás do personagem da Fafá, uma mulher que sofre e chora, com um coração que pulsa por dentro. O Gonzaguinha leu isso e fez Eu Apenas Queria que Você Soubesse ('que aquela menina hoje é uma mulher'). Mas na época achei essa música muito leve e não quis gravá-la - na verdade eu é quem estava tensa e pesada (risos). Quando a ouvi cantada pela Gal Costa num show fiquei louca. Chorei muito e me arrependi de não tê-la gravado."
Alcione
(gravou Salve a Lama Negra, Geraldinos e Arquibaldos II , E Vamos à Luta , Mesa de Bar , Recado , Bonito, Explode Coração e Mulher e Daí? - Apenas Mulher )
"Uma vez, pedi a Gonzaguinha uma música, Mesa de Bar, e quando eu pensei que ele estivesse me mandando a fita para eu ouvir, ele me apareceu lá em casa com seu violão. Tratei logo de convidá-lo para dividir a faixa comigo. Quando ele morreu, deixou uma fita gravada com a sua última esposa na qual dizia querer que a música Bonito fosse gravada por mim e com Os Cariocas fazendo coro. E assim foi feito. Gonzaguinha era uma pessoa reservada. Mas aprendi nessa vida que temos que aprender a lidar com as pessoas do jeito que elas são."
Ivan Lins
(parceiro de Gonzaguinha em quatro músicas)
"A única parceria nossa que ficou conhecida foi Desenredo . Recentemente, a Leila Pinheiro gravou Sedução - tive que fazer outra música para a letra porque simplesmente esqueci como era a original. Ela foi composta em 1975 e não houve jeito de me lembrar. Na época do MAU, chegamos a compor mais duas. Uma é em homenagem ao Milton Nascimento e se chama Some Day a W's Boy (W's Boy foi a banda que o Milton tinha na adolescência em Minas com Wagner Tiso). Acho que o único que gravou ela, mesmo assim de forma instrumental, foi o saxofonista Ricardo Pontes.
Conheci Gonzaguinha em 1968, época dos festivais universitários. Ele era uma pessoa muito fechada, bastante séria apesar de que, quando queria ser engraçado, conseguia. O negócio é que ele sempre foi muito desconfiado - descontraiu-se com o passar do tempo, mas tudo isso acontecia porque foi uma pessoa sofrida. Ele trazia dentro de si uma certa revolta em relação à realidade. Era um contestador e não levava desaforo para casa. Ele foi uma pedra no sapato das elites e dos militares. Não era amargo, era um cara realista. Batia porque achava que tinha que bater mesmo. Estava mais preocupado em sacudir as pessoas, fazê-las acordar porque na verdade elas viviam um certo adormecimento até pela auto-censura e pelo medo."
Elba Ramalho
(gravou A Casca do Ovo , Sai da Frente, Um Bilhete pro Seu Lua e Caminhos do Coração )
"Aqui vai minha reza para o Gonzaguinha. Apesar do vazio que ficou em nossos corações pela ausência física desse grande pensador e músico, sentimos uma imensa alegria e um êxtase que só a música tem o poder de propiciar, ao ouvirmos suas canções de amor, que são verdadeiras lições de vida. Estas nos levam ao sagrado, ao sublime, ao eterno e nos faz crer cada vez mais em Deus e toda a sua força criadora, cônscios da grandeza que está na alma de todo artista e a certeza de que mesmo na morte, é somente vida! Com saudades, um beijo fraterno ao irmão das estrelas, Gonzaguinha! Luz e paz, Elba Ramalho."
Selma Reis
(gravou o CD Achados e Perdidos, em 1996, com 13 canções de Gonzaguinha)
"Ele foi ver meu primeiro show profissional, no Jazzmania (RJ), e falou rapidamente comigo, elogiando-me. Mas decidi gravar um disco dedicado ao seu repertório porque nos identificamos num ponto: a gente nunca teve vergonha de demonstrar nossas emoções. Ele pagava um preço alto por ter as emoções afloradas, era despudorado. Uma música que exemplifica bem isso é Sangrando . Em cada música, ele estava ali por inteiro."
Leila Pinheiro
(gravou o CD Reencontro , com sete músicas de Gonzaguinha, incluindo a inédita Sedução, em parceria com Ivan Lins)
"Tive um breve contato com ele em Juiz de Fora, num festival em que ele era jurado. Gravei suas canções por causa da força que elas têm. É como se elas tivessem acabado de ser feitas. Muitas foram sucessos estrondosos - como Explode Coração e Espere por Mim, Morena . Gonzaguinha é um compositor de extrema sensibilidade musical. A parte mais política do início de sua carreira eu achava muito chata, meio datada, mas a parte romântica é maravilhosa. Entre as mais políticas, gravei É, que é mais leve, não é tão violenta."
Leny Andrade
(gravou É )
"O Gonzaginha foi cantar em dois shows beneficentes que eu produzi. No segundo, ele disse para mim: 'Tô quase terminando uma coisa que fiz para você, chamada Gentileza'. Eu disse: 'Não me diga, é mesmo? Você fez para mim?' E ele respondeu: 'Sim, porque isso que você tem feito aqui é uma gentileza. Já comecei a escrever, daqui a pouco eu ligo para a gente se encontrar e mostrar a música'. Seis meses se passaram e, quando eu estava no Aeroporto de Curitiba, soube da notícia da sua morte. Foi terrível."
Marlene
(gravou Galope, O Trem e Meu Coração É um Pandeiro)
"Fui a primeira amiga dele na MPB. Gonzaguinha compôs Galope para mim, que lancei no show Te Pego pela Palavra. Freqüentava minha casa e quando percebia que eu estava meio triste, escrevia um bilhete para mim escrito 'Te cuida'. Chorei tanto na missa de sétimo dia, tinha que torcer o lenço. Ele era um cara muito fechado, mas muito sincero. Amava tanto aquele homem... ele era bom em tudo. Nos correspondíamos por telefone quase que diariamente. Tive uma amizade com ele que nunca tive com nenhum outro colega do meio musical."
Claudette Soares
(gravou Mundo Novo, Vida Nova e regrava este ano Grito de Alerta )
"Quando aconteceu o Festival Universitário do Rio de Janeiro, o diretor artístico era Lúcio Alves. E o Gonzaguinha estava concorrendo com duas músicas: O Trem e Mundo Novo, Vida Nova. Várias grandes cantoras não quiseram cantar esta última porque era uma música muito difícil. E essa maluca aqui, um pitbull mirim (risos) enlouqueceu com ela. O maestro Gaya fez um arranjo lindo. Ficamos em terceiro lugar, mas ele também ficou em primeiro com O Trem. Acho que o Gonzaguinha foi a continuação de um Taiguara - eles eram extrema vanguarda."
Elza Soares
(gravou O Gato)
"Ninguém sabe o quanto conheço o Gonzaguinha... Eu fazia meu cabelo na Lapa num salão chamado Merilde's, e me lembro de esse menino ter aparecido lá bem pequenininho com a mãe. Depois, a gente se encontrou já na fase da Odeon, onde gravávamos. Ele me deu a música O Gato (1972). Nessa época, era um cara fechado, e como tenho medo de importunar esse tipo de pessoa, tivemos um afastamento do qual sinto muito. Gonzaguinha partiu muito cedo e deixou uma lacuna. Sinceramente, gostaria de ter gravado tudo dele se tivesse chance."
Cauby Peixoto
(gravou Estrelas Solitárias , Sangrando e Começaria Tudo Outra Vez )
"Era um cara maravilhoso, mas uma pessoa muito tímida, apesar de ter sido sempre muito aberto para os colegas. Compôs Estrelas Solitárias especialmente para mim. Considero-o um dos maiores poetas desse país. Já viajamos juntos. Era um sujeito muito simples."
Ruy (MPB-4)
(o grupo gravou Alegria, Brasil, O Que É o Que É , Tá Certo Doutor , Galope, Assim Seja Amém , Chão Pó Poeira e Se Meu Time Não Fosse Campeão)
"Gonzaguinha foi dos autores que o MPB-4 mais gravou. Nós o víamos como uma pessoa muito preocupada em fazer as coisas direito, de acertar politicamente, uma pessoa direita, correta, com ética. Era muito preocupado com essa coisa, honestidade. Imagine se ele fosse vivo, como ia ver esse caso do líder do governo José Roberto Arruda... (risos) Sempre cantamos suas músicas. No nosso show atual, cantamos Galope e o samba O Que É o Que É - quando a gente canta essa, é sempre um sucesso fantástico."
Roberto Menescal
(era diretor artístico da Philips na época em que Gonzaguinha lançou suas primeiras gravações no disco do Festival Universitário do RJ)
"Eu falava muito para o Gonzaguinha: 'Vai ser difícil você vender disco com essas músicas de 10 minutos'. Ele ria. Anos depois, no fim dos anos 70, eu estava gravando um disco com Emílio Santiago, ele entrou na sala de gravação e me disse: 'Você vai ver que baixei o tempo das minhas músicas e vou vender mais'. Logo depois, estourou com Explode Coração . Muita gente me falava que Gonzaguinha era uma pessoa antipática, mas comigo sempre foi muito simpático. Quando passou aquela fase de músicas pesadas e difíceis, ele deu um frescor ao bolero e ao samba-canção. De Explode Coração, por exemplo, não sei nem escrever a partitura. É tão livre... A inovação dele foi essa: fazer as palavras andarem na música."
(gravou O Gosto do Amor, De Volta ao Começo , Muito por Demais e Morro de Saudade)
"Era uma pessoa muito próxima de nós, intérpretes. Quando eu estava para gravar algum disco, ele me ligava, ia à minha casa e me mostrava coisas, conversava... estava sempre por perto. Acho que era um compositor fantástico. Sua morte foi uma perda irreparável, um choque enorme. Era uma pessoa carinhosa comigo. Pouco tempo antes de morrer, lembro-me bem que ele esteve em minha casa me mostrando músicas e me disse que queria participar de maneira mais próxima no meu trabalho. Se ele era uma pessoa reservada? Não sei. Comigo, era ótimo!"
Aldir Blanc
(contemporâneo de MAU - Movimento Artístico Universitário - que não foi seu parceiro por mero acaso)
"Quando nos conhecemos, batemos um papo e ele me mostrou a primeira fase de sua produção, com músicas como O Trem e Só Não Vou Mais Ser de Paciência, que até hoje são as que eu mais gosto dele. Apesar de mais tarde ele ter aberto um pouco mais a concepção de seu repertório, tornando-se mais popular - o que é uma atitude para lá de correta - confesso que prefiro aquele Gonzaguinha longo, elaborado, seco, próximo ao do João Cabral de Melo Neto. Fomos classificados no festival e fundamos o MAU, com grandes amigos, como Ivan e Lúcia Lins, César Costa Filho, Sidney Matos, Rolando (do Les Étoiles), Sílvio da Silva Jr, mais de 30 pessoas... O curioso é que apesar de tão próximos, só depois de 10 anos conversamos sobre uma possível parceria, mas entre uma viagem e outra ele morreu."
Angela Maria
(gravou Começaria Tudo Outra Vez e Mulher, e Daí? - Apenas Mulher )
"Gonzaguinha era uma pessoa fechada. Olhando-o de longe, achava-o muito triste. Ele pouco falava mas comigo sempre conversou. Batemos longos papos. Ele tinha razões de ter aquele temperamento, eu sabia de sua vida pessoal. Como compositor, era um dos meus favoritos. Mas, através daquele estado de espírito peculiar em que ele se encontrava sempre, saíam aquelas melodias tão bonitas."
Fafá de Belém
(gravou Memória e Gostoso )
"Na época do meu disco Crença (1980), mostrei uns textos escrevi para Roberto Santana falando de algumas inquietações minhas - sobre a pessoa que existe atrás do personagem da Fafá, uma mulher que sofre e chora, com um coração que pulsa por dentro. O Gonzaguinha leu isso e fez Eu Apenas Queria que Você Soubesse ('que aquela menina hoje é uma mulher'). Mas na época achei essa música muito leve e não quis gravá-la - na verdade eu é quem estava tensa e pesada (risos). Quando a ouvi cantada pela Gal Costa num show fiquei louca. Chorei muito e me arrependi de não tê-la gravado."
Alcione
(gravou Salve a Lama Negra, Geraldinos e Arquibaldos II , E Vamos à Luta , Mesa de Bar , Recado , Bonito, Explode Coração e Mulher e Daí? - Apenas Mulher )
"Uma vez, pedi a Gonzaguinha uma música, Mesa de Bar, e quando eu pensei que ele estivesse me mandando a fita para eu ouvir, ele me apareceu lá em casa com seu violão. Tratei logo de convidá-lo para dividir a faixa comigo. Quando ele morreu, deixou uma fita gravada com a sua última esposa na qual dizia querer que a música Bonito fosse gravada por mim e com Os Cariocas fazendo coro. E assim foi feito. Gonzaguinha era uma pessoa reservada. Mas aprendi nessa vida que temos que aprender a lidar com as pessoas do jeito que elas são."
Ivan Lins
(parceiro de Gonzaguinha em quatro músicas)
"A única parceria nossa que ficou conhecida foi Desenredo . Recentemente, a Leila Pinheiro gravou Sedução - tive que fazer outra música para a letra porque simplesmente esqueci como era a original. Ela foi composta em 1975 e não houve jeito de me lembrar. Na época do MAU, chegamos a compor mais duas. Uma é em homenagem ao Milton Nascimento e se chama Some Day a W's Boy (W's Boy foi a banda que o Milton tinha na adolescência em Minas com Wagner Tiso). Acho que o único que gravou ela, mesmo assim de forma instrumental, foi o saxofonista Ricardo Pontes.
Conheci Gonzaguinha em 1968, época dos festivais universitários. Ele era uma pessoa muito fechada, bastante séria apesar de que, quando queria ser engraçado, conseguia. O negócio é que ele sempre foi muito desconfiado - descontraiu-se com o passar do tempo, mas tudo isso acontecia porque foi uma pessoa sofrida. Ele trazia dentro de si uma certa revolta em relação à realidade. Era um contestador e não levava desaforo para casa. Ele foi uma pedra no sapato das elites e dos militares. Não era amargo, era um cara realista. Batia porque achava que tinha que bater mesmo. Estava mais preocupado em sacudir as pessoas, fazê-las acordar porque na verdade elas viviam um certo adormecimento até pela auto-censura e pelo medo."
Elba Ramalho
(gravou A Casca do Ovo , Sai da Frente, Um Bilhete pro Seu Lua e Caminhos do Coração )
"Aqui vai minha reza para o Gonzaguinha. Apesar do vazio que ficou em nossos corações pela ausência física desse grande pensador e músico, sentimos uma imensa alegria e um êxtase que só a música tem o poder de propiciar, ao ouvirmos suas canções de amor, que são verdadeiras lições de vida. Estas nos levam ao sagrado, ao sublime, ao eterno e nos faz crer cada vez mais em Deus e toda a sua força criadora, cônscios da grandeza que está na alma de todo artista e a certeza de que mesmo na morte, é somente vida! Com saudades, um beijo fraterno ao irmão das estrelas, Gonzaguinha! Luz e paz, Elba Ramalho."
Selma Reis
(gravou o CD Achados e Perdidos, em 1996, com 13 canções de Gonzaguinha)
"Ele foi ver meu primeiro show profissional, no Jazzmania (RJ), e falou rapidamente comigo, elogiando-me. Mas decidi gravar um disco dedicado ao seu repertório porque nos identificamos num ponto: a gente nunca teve vergonha de demonstrar nossas emoções. Ele pagava um preço alto por ter as emoções afloradas, era despudorado. Uma música que exemplifica bem isso é Sangrando . Em cada música, ele estava ali por inteiro."
Leila Pinheiro
(gravou o CD Reencontro , com sete músicas de Gonzaguinha, incluindo a inédita Sedução, em parceria com Ivan Lins)
"Tive um breve contato com ele em Juiz de Fora, num festival em que ele era jurado. Gravei suas canções por causa da força que elas têm. É como se elas tivessem acabado de ser feitas. Muitas foram sucessos estrondosos - como Explode Coração e Espere por Mim, Morena . Gonzaguinha é um compositor de extrema sensibilidade musical. A parte mais política do início de sua carreira eu achava muito chata, meio datada, mas a parte romântica é maravilhosa. Entre as mais políticas, gravei É, que é mais leve, não é tão violenta."
Leny Andrade
(gravou É )
"O Gonzaginha foi cantar em dois shows beneficentes que eu produzi. No segundo, ele disse para mim: 'Tô quase terminando uma coisa que fiz para você, chamada Gentileza'. Eu disse: 'Não me diga, é mesmo? Você fez para mim?' E ele respondeu: 'Sim, porque isso que você tem feito aqui é uma gentileza. Já comecei a escrever, daqui a pouco eu ligo para a gente se encontrar e mostrar a música'. Seis meses se passaram e, quando eu estava no Aeroporto de Curitiba, soube da notícia da sua morte. Foi terrível."
Marlene
(gravou Galope, O Trem e Meu Coração É um Pandeiro)
"Fui a primeira amiga dele na MPB. Gonzaguinha compôs Galope para mim, que lancei no show Te Pego pela Palavra. Freqüentava minha casa e quando percebia que eu estava meio triste, escrevia um bilhete para mim escrito 'Te cuida'. Chorei tanto na missa de sétimo dia, tinha que torcer o lenço. Ele era um cara muito fechado, mas muito sincero. Amava tanto aquele homem... ele era bom em tudo. Nos correspondíamos por telefone quase que diariamente. Tive uma amizade com ele que nunca tive com nenhum outro colega do meio musical."
Claudette Soares
(gravou Mundo Novo, Vida Nova e regrava este ano Grito de Alerta )
"Quando aconteceu o Festival Universitário do Rio de Janeiro, o diretor artístico era Lúcio Alves. E o Gonzaguinha estava concorrendo com duas músicas: O Trem e Mundo Novo, Vida Nova. Várias grandes cantoras não quiseram cantar esta última porque era uma música muito difícil. E essa maluca aqui, um pitbull mirim (risos) enlouqueceu com ela. O maestro Gaya fez um arranjo lindo. Ficamos em terceiro lugar, mas ele também ficou em primeiro com O Trem. Acho que o Gonzaguinha foi a continuação de um Taiguara - eles eram extrema vanguarda."
Elza Soares
(gravou O Gato)
"Ninguém sabe o quanto conheço o Gonzaguinha... Eu fazia meu cabelo na Lapa num salão chamado Merilde's, e me lembro de esse menino ter aparecido lá bem pequenininho com a mãe. Depois, a gente se encontrou já na fase da Odeon, onde gravávamos. Ele me deu a música O Gato (1972). Nessa época, era um cara fechado, e como tenho medo de importunar esse tipo de pessoa, tivemos um afastamento do qual sinto muito. Gonzaguinha partiu muito cedo e deixou uma lacuna. Sinceramente, gostaria de ter gravado tudo dele se tivesse chance."
Cauby Peixoto
(gravou Estrelas Solitárias , Sangrando e Começaria Tudo Outra Vez )
"Era um cara maravilhoso, mas uma pessoa muito tímida, apesar de ter sido sempre muito aberto para os colegas. Compôs Estrelas Solitárias especialmente para mim. Considero-o um dos maiores poetas desse país. Já viajamos juntos. Era um sujeito muito simples."
Ruy (MPB-4)
(o grupo gravou Alegria, Brasil, O Que É o Que É , Tá Certo Doutor , Galope, Assim Seja Amém , Chão Pó Poeira e Se Meu Time Não Fosse Campeão)
"Gonzaguinha foi dos autores que o MPB-4 mais gravou. Nós o víamos como uma pessoa muito preocupada em fazer as coisas direito, de acertar politicamente, uma pessoa direita, correta, com ética. Era muito preocupado com essa coisa, honestidade. Imagine se ele fosse vivo, como ia ver esse caso do líder do governo José Roberto Arruda... (risos) Sempre cantamos suas músicas. No nosso show atual, cantamos Galope e o samba O Que É o Que É - quando a gente canta essa, é sempre um sucesso fantástico."
Roberto Menescal
(era diretor artístico da Philips na época em que Gonzaguinha lançou suas primeiras gravações no disco do Festival Universitário do RJ)
"Eu falava muito para o Gonzaguinha: 'Vai ser difícil você vender disco com essas músicas de 10 minutos'. Ele ria. Anos depois, no fim dos anos 70, eu estava gravando um disco com Emílio Santiago, ele entrou na sala de gravação e me disse: 'Você vai ver que baixei o tempo das minhas músicas e vou vender mais'. Logo depois, estourou com Explode Coração . Muita gente me falava que Gonzaguinha era uma pessoa antipática, mas comigo sempre foi muito simpático. Quando passou aquela fase de músicas pesadas e difíceis, ele deu um frescor ao bolero e ao samba-canção. De Explode Coração, por exemplo, não sei nem escrever a partitura. É tão livre... A inovação dele foi essa: fazer as palavras andarem na música."
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