Gravadoras despejam carregamento de São João

Seis discos relançados de Gonzagão, caixa com oito expoentes do forró, novos CDs de Dominguinhos, Tânia Alves, Chiclete com Banana e dos estreantes Forróçacana e Fala Mansa animam as festas juninas

Rodrigo Faour
01/06/2000
Enquanto no Sudeste a tradição das festas juninas está restrita aos colégios e às cidades do interior, no Nordeste ela ainda tem pique para parar cidades inteiras. O próprio Dominguinhos, em recente entrevista, declarou que há um boom de sanfoneiros novos por aquelas bandas provando que os arraiais estão com tudo. Para o consumidor afeito aos folguedos juninos, uma boa notícia: este ano, as gravadoras estão lançando diversos CDs do gênero, longe da tenebrosa oxente music (espécie de forró pasteurizado). Ou seja, quem gosta de forró autêntico, com triângulo, zabumba e sanfona, já pode preparar o chapéu de palha, a canjiquinha e o lenço no pescoço por que as opções são muitas.

A melhor notícia da temporada é a continuação do relançamento da obra de Luiz Gonzaga, iniciada ano retrasado pela BMG. Depois dos doze títulos já reeditados, agora mais seis voltam ao mercado pela primeira vez no formato digital. O Véio Macho e São João na Roça (ambos de 1962), Sanfona do Povo (1964), São João do Araripe e Canaã (ambos de 1968) e a coletânea Luiz Gonzaga Canta Seus Sucessos com Zédantas (59). Para os festejos juninos, o mais indicado do pacote é São João na Roça, com eternos clássicos como Fogueira de São João, Olha pro Céu, Dança da Moda e São João do Carneirinho.

Além dos CDs de Gonzagão, a BMG (gravadora com o maior número de discos de forró autêntico no mercado) bota mais lenha na fogueira com a caixa de oito CDs Eu Só Quero um Forró. São coletâneas de alguns dos principais intérpretes do estilo: Luiz Gonzaga, Elba Ramalho, Genival Lacerda, Marinês e Sua Gente, Nando Cordel, Fagner, Dominguinhos e até Clemilda & Gerson Filho (da fase anterior à de rainha do pornoforró). É uma oportunidade das melhores para rever, por exemplo, o repertório exclusivamente forrozeiro de Fagner (Pedras que cantam, Amor pra Dar, Forró do Tio Augusto), sem suas baladas radiofônicas ou para conferir o talento da quase sempre esquecida Marinês e Sua Gente (Chamego na Farinha, Quatro Cravos, Tá Virando Emprego).

O sanfoneiro Dominguinhos que está sempre em todas, não poderia ficar de fora das festas deste ano. Além da coletânea da série Eu Só Quero um Forró (com pérolas como Dançador Ruim, em duo com Gonzagão, mais Isso Aqui Tá Bom Demais, com Chico Buarque, Bota Severina pra Moer e Depois da Derradeira), ele lança pela Velas o CD Dominguinhos Ao Vivo, com seus maiores sucessos. Entre toadas, xotes e forrós, o mestre da sanfona comemora 50 (!) anos de carreira (começou aos nove) revendo baiões clássicos, como Numa Sala de Reboco e Derramaro o Gai, e parcerias recentes com Chico Buarque (Xote de Navegação) e Djavan (Retrato da Vida), além da sua Só Quero um Xodó, que acumula mais de 250 regravações, inclusive em holandês, italiano e inglês.

Tão tradicional quanto Dominguinhos é o baiano Trio Nordestino. O grupo também lançou pela Nikita Music um CD comemorando seus 40 anos frente ao ritmo. Em Nós Tudo Junto, eles revivem momentos importantes de sua carreira como Chupando Gelo e Vamos Chamegar. Mas há ainda outros veteranos com discos novos de forró...

Ninguém acredita que a cantora e atriz Tânia Alves seja carioca. Seu estigma de nordestina em virtude de papéis clássicos vividos no cinema, como em Paraíba Mulher Macho, e por seu próprio biotipo, acabou levando-a a defender também canções nordestinas, nem que seja só na época de São João – todo ano a cantora não deixa de realizar seus shows juninos pelo Nordeste. Agora, ela deu um tempo em sua longa fase bolerista e decidiu levar esse seu outro lado novamente ao disco. Todos os Forrós (Abril Music), com produção de Robertinho do Recife, traz uma versão forrozeira de De Noite na Cama (Caetano Veloso), Beijar é Bom (Armando Alexandre), na trilha sonora da novela Marcas da Paixão, da TV Record, e o Xote da Internet (Miltinho Edilberto).

Surpresas e revelações
Além dos veteranos, há surpresas nos lançamentos juninos. Por exemplo, a banda percursora da axé music, Chiclete com Banana (BMG), completando 20 anos de carreira, deu um tempo nos ritmos do carnaval baiano industrial e gasta sua energia na folia junina no CD São João de Rua. Então, reuniu sucessos próprios adaptados ao ritmo, como Uma Noite Especial, traçou alguns já conhecidos como Fogaréu, de Walter Queiroz, imortalizado por Fafá de Belém em 1986, mais Sétimo Céu, de Geraldo Azevedo e Fausto Nilo e vários forrós de Nando Cordel, incansável compositor do estilo. A sonoridade varia do andamento original dos forrós aos mais pop.

Entre os novos talentos do estilo, há os CDs de estréia das bandas Forróçacana (carioca) e Falamansa (paulista), além da dupla jovem de forrozeiros (goiana) Marcos & Fernando. O Forróçacana estréia em disco com Vamo que Vamo (Independente). Formado por Duani (voz e zabumba), Mará (sanfona), Chris (triângulos, percussão e vocais), Cachaça (guitarra, cavaquinho e vocais), Marquinhos (rabeca, bandolim, percussão e vocais) e Cláudio Ribeiro (baixo), o grupo defende um repertório totalmente autoral, em baiões como Suor de Pele Fina, O Cabra, Telepatia no Salão, Lelé, Doidim e Rosa Amar Ela.

Já o Falamansa teve mais sorte e estreou por uma gravadora maior, a Abril Music. Também formado por jovens com idades variando entre 23 e 25 anos (a exceção do tarimbado Waldir do Acordeon), o grupo já faz tanto sucesso no circuito alternativo paulistano que, em 15 dias de lançado, o CD de estréia do grupo, Deixa Entrar, vendeu toda a tiragem inicial de 20 mil cópias. A exemplo do Forróçacana, o repertório do grupo é autoral, com números como Forró de Tóquio, Zeca Violeiro e Avisa. Para completar, os novatos Marcos & Fernando lançaram pela EMI seu primeiro álbum. Na linha do forró com humor, eles cantam Armação, Sogra e Socorro.

Finalmente, várias gerações de forrozeiros estão presentes no álbum O melhor do Forró no Maior São João do Mundo (BMG), gravado ao vivo no Parque do Povo, em Campina Grande, na Paraíba. O álbum tem este nome porque o local tem bailes diários durante todo o mês de junho e traz os principais cantores do gênero, de notoriedade nacional (Elba e Zé Ramalho, Marinês, Fagner, Dominguinhos, Cascabulho) e outros de caráter mais regional como Biliu de Campina, Os Três do Nordeste, Capilé, entre outros. Com tantos lançamentos, a animação nos arraiais está garantida...