Guilherme Arantes enfrenta a maturidade
Cantor reflete sobre seus 25 anos de carreira solo e ensaia a volta às paradas com álbum e DVD ao vivo
Marco Antonio Barbosa
11/09/2001
O tempo não pára, e se há alguém ciente disso é Guilherme Arantes. A prova desta consciência é a sinceridade com que o cantor e compositor avalia a si mesmo e a sua carreira num marco importante em sua trajetória. Aos 47 anos, Guilherme comemora em 2001 seus 25 anos de carreira - contados a partir do estouro da canção Meu Mundo e Nada Mais, em 1976 - lançando o álbum Guilherme Arantes Ao Vivo
(Sony), que também terá versão em DVD. Há tempos afastado das paradas e atualmente dedicado a um portentoso projeto paralelo - a construção de um misto de pousada de estudos ambientais e estúdio de gravação em Salvador, Bahia - o cantor reflete em entrevista ao Cliquemusic sobre os desmandos do sucesso e os rumos que pretende dar a sua música.
"Acho que sou tão bom - componho e canto tão bem - quanto era antes. Fiz seis discos na última década, todos muito bons. Só que fui silenciado. Foi a constatação da dominação das maiorias, que preferem caricaturas de gêneros popularescos", fala Guilherme Arantes, comparando seu momento atual com o sucesso de outrora. E emenda, de forma franca e sarcástica: "É claro que muita coisa mudou, mais em mim do que no público: envelheci, a calvície chegou, meu peso aumentou... Fiquei cansado também, fisicamente. Mas para mim o sucesso não fez falta. Na verdade, acho que do jeito que a música brasileira está, eu teria de ter feito algo suspeito para conseguir estar nas paradas. Não tenho rancor, encaro meu envelhecimento como algo lúdico, sem seriedade. O importante é que ainda mantenho minha vitalidade." Com total honestidade cronológica, a carreira de Guilherme remonta ao começo dos anos 70, quando começou a tocar com o grupo Moto Perpétuo. Mas ele prefere citar 1976 como marco, o ano em que seu primeiro álbum solo fez sucesso impulsionado por Meu Mundo e Nada Mais (incluída na telenovela Anjo Mau). "Foi naquele ano que eu comecei sozinho mesmo, com o meu nome. Era a minha estréia de uma forma solitária", afirma o cantor. O novo álbum - 22º da carreira e seu terceiro registro ao vivo - traz uma batelada de grandes sucessos, como Aprendendo a Jogar, Deixa Chover, Planeta Água, Cheia de Charme, Balão Azul e, claro, Meu Mundo e Nada Mais. Tudo evidenciando a por vezes subestimada verve de Guilherme como um dos mais brilhantes artífices do pop brazuca.
"Queria fazer um disco ao vivo decente, um trabalho de respeito. Os outros ao vivo que fiz (Meu Mundo e Nada Mais, de 1991, e Guilherme Arantes Ao Vivo, do ano passado) são mal-gravados, sem expressão. Especialmente este último - um disco que nem era para ter sido lançado, uma gravação solo, apenas eu cantando ao piano. Para este disco eu juntei uma banda de verdade, bem consistente", explica Guilherme, justificando sua opção por mais um disco ao vivo em uma época tão inflacionada de lançamentos similares. "Para gravar o álbum (que foi registrado em dois shows gravados em São Paulo, em julho), eu e os músicos ensaiamos em um ritmo draconiano; foram 16 dias consecutivos de ensaios, tocando dez horas por dia. Desde o tempo do Moto Perpétuo eu não fazia uma imersão tão intensiva na música. E o álbum não teve nenhuma maquiagem de estúdio, é o só que foi gravado ao vivo", conta o cantor.
Além dos hits, o disco inclui duas faixas inéditas, Prontos Para Amar e Vai Ficar Pra Mim. "Como compositor, eu funciono na base de safras", relata Guilherme. "Geralmente faço sete ou oito músicas de uma vez, depois paro um tempo. Estou com um bom número de canções novas, mas não quis pô-las todas de uma vez no disco ao vivo. A melhor de todas, Mata de Onde Vim, guardei para o meu próximo disco, que vai sair ano que vem. Este álbum era mais um registro que eu devia para mim mesmo; estou ali, cantando melhor do que nunca, com uma ótima conexão entre minha voz e o piano...", reflete o cantor.
Por essas e outras, Guilherme não tem medo de ser classificado como oportunista - aproveitando um momento de baixa popularidade, apelando para um disco ao vivo com grandes sucessos. "É, o mercado está mesmo conservador, medroso. Parece que só querem discos ao vivo", admite o cantor. "É uma coisa muito tendenciosa, mas não me sinto acomodado. Daqui a seis meses entro em estúdio para fazer um disco só de inéditas." Quanto à atual entressafra de hits, Guilherme abre o verbo: "A música popular anda muito chata, monótona. O público acabou sendo diluído em uma massa de gêneros mais popularescos, pagode, axé... que na verdade não passam de operações de marketing. As coisas chegam e daqui a dois anos não existem mais. Cadê o Katinguelê agora? A obsolescência é muito rápida. Nesse ponto eu me acho até meio aristocrático, não tenho mais a ambição de atingir este povão."
Nesta veia aristocrática, Guilherme prepara um salto mais alto: a construção de um "complexo" no litoral de Camaçari (Salvador) que mistura a antiga preocupação ecológica (presente no sucesso Planeta Água, em 1981) com a progressão da carreira. "Lá em Salvador eu estou plantando uma seqüência para minha vida", conta Guilherme. "Estou construindo uma pousada que vai ter um núcleo de estudo de horticultura, com um estúdio de gravação em conjunto. Quero envelhecer com dignidade, não desejo mais ficar correndo o mundo, em turnês longas, ou enfurnado em estúdios - quem tem essa obrigação é Sandy & Junior, ou o KLB. Montando esse estúdio, vou poder ficar em contato com novos artistas, me reciclando, sem precisar sair do meu canto ."
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"Acho que sou tão bom - componho e canto tão bem - quanto era antes. Fiz seis discos na última década, todos muito bons. Só que fui silenciado. Foi a constatação da dominação das maiorias, que preferem caricaturas de gêneros popularescos", fala Guilherme Arantes, comparando seu momento atual com o sucesso de outrora. E emenda, de forma franca e sarcástica: "É claro que muita coisa mudou, mais em mim do que no público: envelheci, a calvície chegou, meu peso aumentou... Fiquei cansado também, fisicamente. Mas para mim o sucesso não fez falta. Na verdade, acho que do jeito que a música brasileira está, eu teria de ter feito algo suspeito para conseguir estar nas paradas. Não tenho rancor, encaro meu envelhecimento como algo lúdico, sem seriedade. O importante é que ainda mantenho minha vitalidade." Com total honestidade cronológica, a carreira de Guilherme remonta ao começo dos anos 70, quando começou a tocar com o grupo Moto Perpétuo. Mas ele prefere citar 1976 como marco, o ano em que seu primeiro álbum solo fez sucesso impulsionado por Meu Mundo e Nada Mais (incluída na telenovela Anjo Mau). "Foi naquele ano que eu comecei sozinho mesmo, com o meu nome. Era a minha estréia de uma forma solitária", afirma o cantor. O novo álbum - 22º da carreira e seu terceiro registro ao vivo - traz uma batelada de grandes sucessos, como Aprendendo a Jogar, Deixa Chover, Planeta Água, Cheia de Charme, Balão Azul e, claro, Meu Mundo e Nada Mais. Tudo evidenciando a por vezes subestimada verve de Guilherme como um dos mais brilhantes artífices do pop brazuca.
"Queria fazer um disco ao vivo decente, um trabalho de respeito. Os outros ao vivo que fiz (Meu Mundo e Nada Mais, de 1991, e Guilherme Arantes Ao Vivo, do ano passado) são mal-gravados, sem expressão. Especialmente este último - um disco que nem era para ter sido lançado, uma gravação solo, apenas eu cantando ao piano. Para este disco eu juntei uma banda de verdade, bem consistente", explica Guilherme, justificando sua opção por mais um disco ao vivo em uma época tão inflacionada de lançamentos similares. "Para gravar o álbum (que foi registrado em dois shows gravados em São Paulo, em julho), eu e os músicos ensaiamos em um ritmo draconiano; foram 16 dias consecutivos de ensaios, tocando dez horas por dia. Desde o tempo do Moto Perpétuo eu não fazia uma imersão tão intensiva na música. E o álbum não teve nenhuma maquiagem de estúdio, é o só que foi gravado ao vivo", conta o cantor.
Além dos hits, o disco inclui duas faixas inéditas, Prontos Para Amar e Vai Ficar Pra Mim. "Como compositor, eu funciono na base de safras", relata Guilherme. "Geralmente faço sete ou oito músicas de uma vez, depois paro um tempo. Estou com um bom número de canções novas, mas não quis pô-las todas de uma vez no disco ao vivo. A melhor de todas, Mata de Onde Vim, guardei para o meu próximo disco, que vai sair ano que vem. Este álbum era mais um registro que eu devia para mim mesmo; estou ali, cantando melhor do que nunca, com uma ótima conexão entre minha voz e o piano...", reflete o cantor.
Por essas e outras, Guilherme não tem medo de ser classificado como oportunista - aproveitando um momento de baixa popularidade, apelando para um disco ao vivo com grandes sucessos. "É, o mercado está mesmo conservador, medroso. Parece que só querem discos ao vivo", admite o cantor. "É uma coisa muito tendenciosa, mas não me sinto acomodado. Daqui a seis meses entro em estúdio para fazer um disco só de inéditas." Quanto à atual entressafra de hits, Guilherme abre o verbo: "A música popular anda muito chata, monótona. O público acabou sendo diluído em uma massa de gêneros mais popularescos, pagode, axé... que na verdade não passam de operações de marketing. As coisas chegam e daqui a dois anos não existem mais. Cadê o Katinguelê agora? A obsolescência é muito rápida. Nesse ponto eu me acho até meio aristocrático, não tenho mais a ambição de atingir este povão."
Nesta veia aristocrática, Guilherme prepara um salto mais alto: a construção de um "complexo" no litoral de Camaçari (Salvador) que mistura a antiga preocupação ecológica (presente no sucesso Planeta Água, em 1981) com a progressão da carreira. "Lá em Salvador eu estou plantando uma seqüência para minha vida", conta Guilherme. "Estou construindo uma pousada que vai ter um núcleo de estudo de horticultura, com um estúdio de gravação em conjunto. Quero envelhecer com dignidade, não desejo mais ficar correndo o mundo, em turnês longas, ou enfurnado em estúdios - quem tem essa obrigação é Sandy & Junior, ou o KLB. Montando esse estúdio, vou poder ficar em contato com novos artistas, me reciclando, sem precisar sair do meu canto ."