Guinga chega aos 50 com todo o gás
Músico renova contrato com a gravadora, faz shows de Norte a Sul do país, prepara novas músicas e espera ser conhecido como compositor de canções. Tudo isso sem abandonar a profissão de dentista.
Nana Vaz de Castro
13/06/2000
"Eu componho quando me dá saudade do violão". Assim Guinga define sua rotina – ou melhor, sua não-rotina – de compositor. "Posso ter tocado ontem o dia inteiro, mas se ouço música boa hoje, vou correndo pegar o violão", diz. Bem diferente da rotina do dentista Carlos Althier de Souza Lemos Escobar, que continua dando consultas duas vezes por semana. Apesar de ter fechado o seu próprio consultório no bairro carioca do Grajaú, onde clinicava havia 25 anos, Guinga continua exercendo a profissão, agora em Copacabana, em um consultório dividido com uma amiga e ex-paciente.
E não pensa em parar, apesar do ritmo pesado de shows que seu último disco, Suíte Leopoldina (1999), impõe. Recentemente passou por Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Paraíba e agora está indo para o Rio Grande do Sul, onde já esteve antes, mas volta devido ao sucesso. Suíte Leopoldina é o quarto de seus álbuns solos, todos lançados pela Velas – gravadora, por sinal, criada em 1991 por Ivan Lins e Victor Martins especialmente para lançar o disco de estréia daquele compositor e violonista que intrigou músicos dos quatro cantos do mundo com suas harmonias elaboradas e melodias surpreendentes.
Guinga acabou de renovar seu contrato com a Velas para mais quatro discos. E já tem músicas inéditas para um próximo CD, ainda sem previsão para ser gravado, "talvez no fim do ano", arrisca. O compositor agora quer dar prioridade às canções, letradas pelo parceiro Aldir Blanc. A mais recente é um blues, com título provisório Yes, já reservado para o disco da cantora Ana Hollanda. "Não quero ficar estigmatizado apenas como violonista; não que isso me desonre, muito pelo contrário, mas atualmente me considero, acima de tudo, compositor de canções".
As músicas instrumentais inéditas – que não devem passar de três no próximo disco –, entretanto não caem no esquecimento. O quarteto de violões Maogani, por exemplo, está com um grande problema: tem que escolher apenas uma entre três inéditas de Guinga para seu segundo CD.
Noites insones
Guinga completou 50 anos no dia 10 de junho, mesma data em que João Gilberto fez 69. Os dois moram na mesma rua, no bairro do Leblon. Assim como João Gilberto – que, dizem as más línguas, provocou o suicídio de seu gato de tanto repetir uma música –, é capaz de passar horas trabalhando apenas um trecho de música. Os dois são considerados inovadores da linguagem violonística da MPB. João quase não sai de casa, a não ser de madrugada. Guinga é um "notívago doméstico". Dorme cedo, acorda de madrugada e fica escutando a Rádio MEC, de música erudita. É fã do programa Radar, que vai ao ar de segunda a Sexta, a partir da uma da manhã, com programação voltada para a música contemporânea.
As semelhanças param por aí. Guinga comparece a todos os shows marcados, não reclama do som nem do público, e dá entrevistas com prazer. Tem horror a computador ("eu já acho máquina de escrever uma coisa supermoderna!"), e recorre às duas filhas para assuntos de informática. E-mail nem pensar. "Meu negócio é o boca-a-boca", garante o fanático torcedor do Vasco, arrasado pela recente derrota para o arqui-rival Flamengo. Preocupado, ele não entende como a tensão entre os artilheiros vascaínos Romário e Edmundo pode se sustentar: "É impossível construir qualquer coisa com base no ódio", lamenta. Construtor de verdadeiros edifícios melódicos e harmônicos, baseados em seu amor à música, Guinga sabe do que está falando.
E não pensa em parar, apesar do ritmo pesado de shows que seu último disco, Suíte Leopoldina (1999), impõe. Recentemente passou por Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Paraíba e agora está indo para o Rio Grande do Sul, onde já esteve antes, mas volta devido ao sucesso. Suíte Leopoldina é o quarto de seus álbuns solos, todos lançados pela Velas – gravadora, por sinal, criada em 1991 por Ivan Lins e Victor Martins especialmente para lançar o disco de estréia daquele compositor e violonista que intrigou músicos dos quatro cantos do mundo com suas harmonias elaboradas e melodias surpreendentes.
Guinga acabou de renovar seu contrato com a Velas para mais quatro discos. E já tem músicas inéditas para um próximo CD, ainda sem previsão para ser gravado, "talvez no fim do ano", arrisca. O compositor agora quer dar prioridade às canções, letradas pelo parceiro Aldir Blanc. A mais recente é um blues, com título provisório Yes, já reservado para o disco da cantora Ana Hollanda. "Não quero ficar estigmatizado apenas como violonista; não que isso me desonre, muito pelo contrário, mas atualmente me considero, acima de tudo, compositor de canções".
As músicas instrumentais inéditas – que não devem passar de três no próximo disco –, entretanto não caem no esquecimento. O quarteto de violões Maogani, por exemplo, está com um grande problema: tem que escolher apenas uma entre três inéditas de Guinga para seu segundo CD.
Noites insones
Guinga completou 50 anos no dia 10 de junho, mesma data em que João Gilberto fez 69. Os dois moram na mesma rua, no bairro do Leblon. Assim como João Gilberto – que, dizem as más línguas, provocou o suicídio de seu gato de tanto repetir uma música –, é capaz de passar horas trabalhando apenas um trecho de música. Os dois são considerados inovadores da linguagem violonística da MPB. João quase não sai de casa, a não ser de madrugada. Guinga é um "notívago doméstico". Dorme cedo, acorda de madrugada e fica escutando a Rádio MEC, de música erudita. É fã do programa Radar, que vai ao ar de segunda a Sexta, a partir da uma da manhã, com programação voltada para a música contemporânea.
As semelhanças param por aí. Guinga comparece a todos os shows marcados, não reclama do som nem do público, e dá entrevistas com prazer. Tem horror a computador ("eu já acho máquina de escrever uma coisa supermoderna!"), e recorre às duas filhas para assuntos de informática. E-mail nem pensar. "Meu negócio é o boca-a-boca", garante o fanático torcedor do Vasco, arrasado pela recente derrota para o arqui-rival Flamengo. Preocupado, ele não entende como a tensão entre os artilheiros vascaínos Romário e Edmundo pode se sustentar: "É impossível construir qualquer coisa com base no ódio", lamenta. Construtor de verdadeiros edifícios melódicos e harmônicos, baseados em seu amor à música, Guinga sabe do que está falando.