Há anos sem gravar, Sérgio Ricardo volta com 2 CDs

Autor de Zelão e Beto Bom de Bola atualizou musical feito em cima de cordel de Carlos Drummond de Andrade e regravou seus sucessos ao lado de músicas inéditas

Tárik de Souza
30/06/2000
Figura básica da ala engajada da bossa nova, o cantor e compositor Sérgio Ricardo, depois de anos afastado da música, reapareceu em setembro passado numa apresentação de gala no Teatro Municipal carioca de João Joana, poema cordel de Carlos Drummond de Andrade musicado por ele. Lançado em LP numa edição independente de pequena tiragem em meados dos 80 com arranjos do maestro Radamés Gnattali, o disco foi refeito por Sérgio com as participações especiais de Chico Buarque, Elba Ramalho, João Bosco, Geraldo Azevedo, Alceu Valença e Telma Tavares. "Tirei a minha voz da matriz e misturei com as dos outros intérpretes e também mexi nos arranjos", informa.

O CD que está na boca do forno para lançamento através do selo da rádio MEC do Rio (o mesmo de Eu e eles, o mais recente de Hermeto Pascoal) não é seu único disparo no setor. Com o título sugestivo de Quando Menos se Espera, Sérgio lança um outro CD, que mistura músicas conhecidas como Zelão, O Nosso Olhar, Calabouço e uma corajosa releitura de Beto, Bom de Bola (pivô da célebre cena do violão atirado no auditório do festival em vaias) a inéditas como a faixa título, Vida Brasileira, Do Morro à Matriz, Chama, Predador ("todos sambas ") e o choro Pipoca Doce, ao piano. No elenco instrumental, cobras criadas como Carlos Malta (sopros), Luciana Rabello (cavaquinho), Andréa Ernst Dias (flauta), Neco (violão) e Bororó (baixo).

O disco sairá ainda este ano pela Casa Jorge, selo da família do prefeito de Niterói, Jorge Roberto da Silveira, um ex-roqueiro apaixonado pela MPB. A Secretaria de Cultura de seu governo apoia um terceiro projeto de Sérgio Ricardo – o Cantareira – em fase de formatação. A idéia é utilizar a lona cultural niteroiense com este nome para uma série de shows sobre a MPB. "Quero tentar reatar o elo rompido pelo AI-5, responsável pelo desvio de rumo da cultura brasileira", acredita ele que defendeu a tese no livro Quem Quebrou meu Violão (Editora Record, 1991).

Artistas consagrados apadrinham estreantes
A série, a ser aberta dia 31 de julho com uma noite de discussão sobre o tema, teria em seguida uma Semana Retrospectiva reunindo shows, filmes e peças do eixo bossa nova/ cinema novo/ teatro de arena. Personagens atuantes da época como o próprio Sérgio e o grupo MPB-4 desfilariam repertórios referenciais (Geraldo Vandré, Sidney Miller, Edu Lobo, Chico Buarque, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra) junto com artistas novos.

Na etapa seguinte, o projeto vai acoplar a cada apresentação intérpretes conhecidos e estreantes apadrinhados por estes como ocorreu com o Disco de Bolso do Pasquim idealizado por Sérgio, de onde saíram singles de Fagner e João Bosco propulsionados nas faces principais por gravações de (quem diria!) Caetano Veloso e Tom Jobim (a estréia do megaclássico Águas de março). Os futuros encontros também virariam discos e as duplas percorreriam um circuito de vinte cidades já traçado.