Hamilton de Holanda pluga o choro no Club

Tárik de Souza
20/10/2000
Com as atrações nacionais acondicionadas literalmente num quarto do cardápio do Free Jazz Festival deste ano (a proporção é de 16 a 4), o choro ocupou seu lugar com a garra do bandolim de Hamilton de Holanda, carioca criado em Brasília e revelado no duo Dois de Ouro com o irmão. No restrito Club, na edição carioca do festival, Hamilton abriu ontem a noite estrelada pelo decano baterista do jazz Max Roach. Seu desempenho aliciante com o instrumento plugado (até o pandeiro do grupo estava conectado) não ficou restrito à gramática do choro. Ao lado do pai e incentivador Américo e do irmão Fernando com quem formou o Dois de Ouro, ele atacou os baiões Qui Nem Giló, de Gonzagão, Baião Malandro, de Egberto Gismonti, além, de seu próprio Rumo à Felicidade e os sambas exaltação Aquarela do Brasil (acondicionado em dois formatos para melhor exploração de sua célula rítmica), Isso Aqui o Que É e mesmo O Que É o Que É, de Gonzaguinha. Não deixou de fora nomes tradicionais do choro como o heráldico Pixinguinha, de quem tocou uma suíte (Carinhoso, Rosa, Lamentos) acrescida de uma leve pitada de salsa e Jacob do Bandolim, de quem escolheu uma obra menos conhecida, Santa Morena, de tendência espanholada enfatizada nas castanholas da percussão. Também entraram clássicos como Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu) e Pedacinhos do Céu (Waldir Azevedo) sempre em releituras que fogem à burocracia do óbvio. Aplaudido de pé, obrigado a bisar pela platéia empolgada, HH atestou que o choro melancólico e nostálgico é apenas um retrato amarelecido na parede. E chega de saudade.