Herbert Vianna: um ano depois, a esperança

Evolução do estado de saúde do líder dos Paralamas permite ao grupo planejar sua volta aos estúdios ainda este ano

Marco Antonio Barbosa
05/02/2002
Há exatamente um ano, o país inteiro - e não apenas os mais ligados em música pop - assistia comovido ao drama vivido por Herbert Vianna, líder dos Paralamas do Sucesso. O dia: 4 de fevereiro de 2001, um domingo. O lugar: a praia de Mangaratiba, litoral norte do Estado do Rio de Janeiro. Dando um salto para o presente momento, um ano depois do acidente de ultraleve que deixou Herbert entre a vida e a morte (e vitimou sua esposa Lucy), os Paralamas do Sucesso encaram um futuro desafiador, mas cheio de esperanças. A recuperação do líder do grupo superou qualquer expectativa e o trio (completado pelo baixista Bi Ribeiro e o baterista João Barone) ensaia regularmente na casa de Herbert. Pistas sobre os rumos dos Paralamas levam a crer que o grupo pode voltar à ativa bem antes do que se esperava.

Os membros dos Paralamas e a família de Herbert mantêm algumas reservas sobre o real estado do compositor. Mas, aqui e ali, esclarece-se um panorama animador. "Nas últimas semanas temos ensaiado duas ou três vezes por semana, religiosamente. Isso é parte integral da recuperação dele, o entrosamento conosco, a vontade de voltar a tocar. É incrível vê-lo cantando e tocando de novo", contou a Cliquemusic o baixista Bi Ribeiro, durante um ensaio de sua banda paralela, o combo Reggae B.

Tão ou mais incrível é a declarada vontade do trio de gravar seu décimo disco de estúdio, que originalmente - antes do acidente - tinha lançamento previsto para meados do ano passado. Bi adianta alguns detalhes sobre o anteprojeto de álbum: "Devemos nos ater aos instrumentos básicos, só mesmo o baixo, a guitarra e a bateria. Mesmo porque estamos concentrados em manter a união em torno do trio. Não vai ter metais, teclados, percussão... Vai ser tudo mais simples, com uma pegada mais rock'n'roll, direta. Quase um retorno ao clima do Passo do Lui ouvir 30s (disco de 1983 do grupo, com hits como Óculos, Ska e Meu Erro), só nós três tocando."

O conteúdo do disco ainda é motivo de segredo, mas sabe-se que Herbert já anda compondo novas canções. "Nos ensaios, temos tocado tanto músicas antigas quanto algumas coisas inéditas.Tínhamos algum material guardado, coisas compostas em jam sessions há algum tempo e que podem ser resgatadas", fala Bi. Mantendo-se o ritmo de evolução atual no estado de saúde do líder do grupo, o trio planeja entrar em estúdio em julho. Uma outra possibilidade foi levantada por João Barone: um disco ao vivo. Segundo o baterista, os registros dos shows que o grupo fez no Rock in Rio II (1991) podem ver a luz do dia. "É uma das poucas, talvez a única, gravação ao vivo com qualidade profissional daquela época. Gostaria de arrumar o nosso baú de gravações e ver isso em um CD bem mixado e arrumadinho", diz o batera.

Apesar da animação, deve-se levar em conta que Herbert ainda está convalescente, e que não se sabe até ponto sua progressão física e mental pode ir. "Não trabalhamos com perspectiva alguma de tempo. Estamos trabalhando no ritmo dele, não dá para apressar nada", afirma Bi. "As pessoas ficam perguntando quando é que vamos voltar a fazer a show, se o Herbert vai tocar de pé ou sentado, se vai dar para festejar o vigésimo aniversário da banda (em setembro)... nossa vontade é essa, mas não dá para saber. Ele (Herbert) quer andar de qualquer jeito, mas sabe que não dá para ter pressa."

Os médicos que cuidam de Herbert afirmam que é cedo para dizer se a paraplegia do músico pode ser revertida. Lesões no cérebro e na medula eliminaram os movimentos das pernas de Herbert. As sessões diárias de fisioterapia e hidroginástica fizeram com que o compositor apresentasse movimentos na parte frontal das coxas, ainda insuficientes para permitir que ele ande sem apoio. Usando aparelhos especiais e barras, Herbert consegue ficar de pé. Em comunicados oficiais, os médicos já deixaram claro que quanto mais tempo Herbert passar sem movimentos, mais difícil será que ele volte a andar como antes do acidente. A recuperação da memória do Paralama, em contrapartida, foi elogiada pela equipe médica.

Enquanto esperam e torcem, Bi Ribeiro e João Barone não estão parados. O baixista agita o Reggae B, grupo paralelo tocado por Bi, João Fera (tecladista dos Paralamas) e membros das bandas Afrorreggae e Negril. Barone se dedica à surf music, liderando a banda The Silvas junto a Liminha (guitarra). Ambos os grupos tem caráter bem descontraído e congregam um batalhão de convidados especiais a cada show. "A brincadeira está funcionando. O lema da banda é no stress", brinca Barone. Bi fala sobre o Reggae B: "A banda está muito unida, estamos compondo nossas primeiras músicas próprias agora." O baixista esclarece um ponto: "Essas bandas são apenas projetos paralelos. Nunca vão nos desviar dos Paralamas. Mas o Herbert acha legal que a gente toque, sempre nos encorajou a ter outros meios de expressão."