Humor e melodia no novo ataque do rock gaúcho
Video Hits e Bidê ou Balde lançam seus discos de estréia pela Abril Music e enfrentam com personalidade a barreira que a mídia nacional oferece às bandas do Sul
Silvio Essinger
02/04/2001
O que eles têm em comum, além do fato de serem bandas de Porto Alegre fundadas no fim dos anos 90? Bom, uma predileção pela jovem guarda e o rock alternativo de melodias e guitarras sessentistas, duplas de meninas fazendo coros, além de letras que refletem um senso de humor muito próprio, tipicamente gaúcho, e que mergulham sem medir conseqüências no velho tema do amor. Ah, e principalmente, ambas as bandas têm discos de estréia que chegaram há pouco ao mercado com o selinho da Abril Music. O do Video Hits é Registro Sonoro Oficial (leia crítica e ouça trechos) e o do Bidê ou Balde, Se o Sexo é o Que Importa, Só o Rock é Sobre Amor (que foi anteriormente lançado pelo selo gaúcho Antídoto — leia crítica e ouça trechos). Agora que (Vo)C (música do Video) e Melissa (do Bidê) começam a disputar seu quinhão de sucesso nas rádios do Sudeste, fica a pergunta: depois de Engenheiros do Hawaii e Nenhum de Nós, serão eles os gaúchos da vez?
A questão parece ser irrelevante para Diego Medina, vocalista, guitarrista e líder do Video Hits, cuja maior referência dentro do rock local é a finada banda Graforréia Xilarmônica, que quase nenhum sucesso fez além de um círculo de iniciados (leia matéria). Em 1994, ele gravava sozinho no seu quarto as fitas demo do projeto Dois Eu Mim Dois Ema (uma desconstrução do seu próprio nome), que eram de um experimentalismo à la Frank Zappa. O trabalho chamou a atenção da Banguela Discos (selo fundado pelos Titãs, que lançou os Raimundos), que fechou suas portas justamente quando ia lançar o disco do gaúcho.
O Dois Eu acabou em 96. Diego deixou o Zappa de lado e começou a ouvir mais o rock dos anos 60 — Beatles, Kinks e The Who — e o CD Pinkerton, do Weezer, banda americana da metade dos 90. "Esse é um disco muito pesado e romântico", comenta. O Weezer também é uma fixação do Bidê ou Balde, fundado no fim de 98 pelos estudantes de Comunicação Carlinhos Carneiro (vocal) e Rossato (guitarra) para fazer a trilha de uma pornochanchada. Melissa, música da primeira fita demo da banda, tomou de assalto as rádios em 99 e garantiu o contrato para um disco. Assim, em Se o Sexo é o Que Importa, além de composições próprias como Sr. Promotor, Me Envergonha, K-7 e Spaceball, eles também gravaram uma versão em português de Buddy Holly, sucesso do Weezer. "Todo mundo queria tocar uma deles, mas só a gente teve a cara-de-pau", diz a tecladista e vocalista do Bidê, Katia.
Para lançar a faixa, a banda (que ainda tem Vivi nos vocais, Sá na guitarra, André no baixo e Pedro na bateria) tentou uma liberação da música via editora, mas não teve resposta alguma. A solução veio por intermédio de um amigo dos gaúchos, que conseguiu abordar o líder e compositor do Weezer, Rivers Cuomo, na platéia de um show em Los Angeles, e mostrou e ele a versão que havia sido mandada por e-mail em MP3. Encantado, Rivers aprovou a regravação e disse para acertarem tudo com seu empresário.
Amor e ódio pelos anos 80
Além do rock alternativo americano dos 90 e das sonoridades sessentistas, uma grande referência do Bidê ou Balde é o rock brasileiro dos anos 80, de Ultraje a Rigor, Blitz e outros. "A gente respeita muito essas bandas por elas terem quebrado barreiras", diz a tecladista, que ainda teoriza sobre a questão: "Dizem que a cada 20 anos as coisas sempre voltam. Os anos 80 são um espelho dos 60." Diego, pelo lado do Video Hits, tem uma opinião bem diferente: "A gente não suporta a música dos anos 80!" O nome da banda, por sinal, é uma grande ironia — Video Hits era o nome de uma popular série de coletâneas de sucessos internacionais dos anos 80.
Originalmente, a banda formada em 1997 por Diego Medina e o baterista Michel Vontobel se chamava Grupo Musical Jerusalém — um sarro com os nomes típicos das bandas cover que infestam o Rio Grande do Sul. Eles resolveram optar por Video Hits porque — ironia suprema! — já existia um Grupo Musical Jerusalém fazendo covers pelo interior do estado. No ano passado, a banda (completada por Eduardo Bisogno nos teclados, Guto Bozzetti na guitarra, Gustavo Steffens no baixo e Carla Viceconti e Vivian Schäfer nos vocais) gravou seu primeiro CD demo, produzido por Thomas Dreher. Ele caiu nas mãos de Marcelo Camelo, líder dos Los Hermanos, que mostrou para o produtor Rafael Ramos. Este levou o CD para o pai, João Augusto, diretor artístico da Abril Music, que fechou contrato com a banda. As músicas foram regravadas no Rio de Janeiro, em meados do ano passado, com produção de Rafael, responsável pelo som mais power que se ouve em Registro Oficial Sonoro.
O Video Hits e o Bidê ou Balde têm passado períodos em São Paulo, divulgando seus discos. Mas a coisa não tem sido tão fácil, principalmente em termos de comunicação. "Um problema que as bandas do Sul têm é esse humor nas letras, que é diferente daquele do resto do país", diz Katia, acrescentando: "Somos irônicos, não histriônicos." Dia 14 próximo, o Bidê tenta a sorte apresentando-se pela primeira vez no Rio, na festa Loud!. Diego Medina, por sua vez, não acredita que seus versos amalucados sejam um problema para o Video Hits. "Como tem consumidor para letras cabeça e panfletárias, tem também para as letras bem-humoradas", acredita. Ele explica que, em suas músicas, tenta retratar o cotidiano, mas sempre colocando algum elemento bizarro. "Como em A Day in The Life, dos Beatles", ilustra.
Mas voltemos aos pontos em comum entre Video Hits e Bidê ou Balde. Por exemplo, ambas insistem em continuar radicadas em Porto Alegre. "O sonho de todas as bandas é sair daqui — o que não se quer é morar em outro lugar. Há uma cena em Porto Alegre que não se encontra em nenhum outro lugar", defende Diego. "Aqui há rádios e bandas e, além disso, o povo gaúcho é muito roqueiro", diz, por sua vez, Katia, lembrando que o Bidê consegue manter uma agenda de três shows por semana só no Rio Grande do Sul. De uma maneira ou de outra, o caminho está aberto para os grupos.
A questão parece ser irrelevante para Diego Medina, vocalista, guitarrista e líder do Video Hits, cuja maior referência dentro do rock local é a finada banda Graforréia Xilarmônica, que quase nenhum sucesso fez além de um círculo de iniciados (leia matéria). Em 1994, ele gravava sozinho no seu quarto as fitas demo do projeto Dois Eu Mim Dois Ema (uma desconstrução do seu próprio nome), que eram de um experimentalismo à la Frank Zappa. O trabalho chamou a atenção da Banguela Discos (selo fundado pelos Titãs, que lançou os Raimundos), que fechou suas portas justamente quando ia lançar o disco do gaúcho.
O Dois Eu acabou em 96. Diego deixou o Zappa de lado e começou a ouvir mais o rock dos anos 60 — Beatles, Kinks e The Who — e o CD Pinkerton, do Weezer, banda americana da metade dos 90. "Esse é um disco muito pesado e romântico", comenta. O Weezer também é uma fixação do Bidê ou Balde, fundado no fim de 98 pelos estudantes de Comunicação Carlinhos Carneiro (vocal) e Rossato (guitarra) para fazer a trilha de uma pornochanchada. Melissa, música da primeira fita demo da banda, tomou de assalto as rádios em 99 e garantiu o contrato para um disco. Assim, em Se o Sexo é o Que Importa, além de composições próprias como Sr. Promotor, Me Envergonha, K-7 e Spaceball, eles também gravaram uma versão em português de Buddy Holly, sucesso do Weezer. "Todo mundo queria tocar uma deles, mas só a gente teve a cara-de-pau", diz a tecladista e vocalista do Bidê, Katia.
Para lançar a faixa, a banda (que ainda tem Vivi nos vocais, Sá na guitarra, André no baixo e Pedro na bateria) tentou uma liberação da música via editora, mas não teve resposta alguma. A solução veio por intermédio de um amigo dos gaúchos, que conseguiu abordar o líder e compositor do Weezer, Rivers Cuomo, na platéia de um show em Los Angeles, e mostrou e ele a versão que havia sido mandada por e-mail em MP3. Encantado, Rivers aprovou a regravação e disse para acertarem tudo com seu empresário.
Amor e ódio pelos anos 80
Além do rock alternativo americano dos 90 e das sonoridades sessentistas, uma grande referência do Bidê ou Balde é o rock brasileiro dos anos 80, de Ultraje a Rigor, Blitz e outros. "A gente respeita muito essas bandas por elas terem quebrado barreiras", diz a tecladista, que ainda teoriza sobre a questão: "Dizem que a cada 20 anos as coisas sempre voltam. Os anos 80 são um espelho dos 60." Diego, pelo lado do Video Hits, tem uma opinião bem diferente: "A gente não suporta a música dos anos 80!" O nome da banda, por sinal, é uma grande ironia — Video Hits era o nome de uma popular série de coletâneas de sucessos internacionais dos anos 80.
Originalmente, a banda formada em 1997 por Diego Medina e o baterista Michel Vontobel se chamava Grupo Musical Jerusalém — um sarro com os nomes típicos das bandas cover que infestam o Rio Grande do Sul. Eles resolveram optar por Video Hits porque — ironia suprema! — já existia um Grupo Musical Jerusalém fazendo covers pelo interior do estado. No ano passado, a banda (completada por Eduardo Bisogno nos teclados, Guto Bozzetti na guitarra, Gustavo Steffens no baixo e Carla Viceconti e Vivian Schäfer nos vocais) gravou seu primeiro CD demo, produzido por Thomas Dreher. Ele caiu nas mãos de Marcelo Camelo, líder dos Los Hermanos, que mostrou para o produtor Rafael Ramos. Este levou o CD para o pai, João Augusto, diretor artístico da Abril Music, que fechou contrato com a banda. As músicas foram regravadas no Rio de Janeiro, em meados do ano passado, com produção de Rafael, responsável pelo som mais power que se ouve em Registro Oficial Sonoro.
O Video Hits e o Bidê ou Balde têm passado períodos em São Paulo, divulgando seus discos. Mas a coisa não tem sido tão fácil, principalmente em termos de comunicação. "Um problema que as bandas do Sul têm é esse humor nas letras, que é diferente daquele do resto do país", diz Katia, acrescentando: "Somos irônicos, não histriônicos." Dia 14 próximo, o Bidê tenta a sorte apresentando-se pela primeira vez no Rio, na festa Loud!. Diego Medina, por sua vez, não acredita que seus versos amalucados sejam um problema para o Video Hits. "Como tem consumidor para letras cabeça e panfletárias, tem também para as letras bem-humoradas", acredita. Ele explica que, em suas músicas, tenta retratar o cotidiano, mas sempre colocando algum elemento bizarro. "Como em A Day in The Life, dos Beatles", ilustra.
Mas voltemos aos pontos em comum entre Video Hits e Bidê ou Balde. Por exemplo, ambas insistem em continuar radicadas em Porto Alegre. "O sonho de todas as bandas é sair daqui — o que não se quer é morar em outro lugar. Há uma cena em Porto Alegre que não se encontra em nenhum outro lugar", defende Diego. "Aqui há rádios e bandas e, além disso, o povo gaúcho é muito roqueiro", diz, por sua vez, Katia, lembrando que o Bidê consegue manter uma agenda de três shows por semana só no Rio Grande do Sul. De uma maneira ou de outra, o caminho está aberto para os grupos.
Leia ainda:
|