Inglês se defende das acusações de pirataria
Dono do selo Far Out, que lançou na Inglaterra discos de Marcos Valle, Joyce e Azymuth, Joe Davis denuncia uma campanha difamatória da imprensa brasileira, mas admite erros ao creditar a autoria de músicas em suas compilações
Nana Vaz de Castro
21/06/2000
LONDRES — Com cinco anos de existência, o selo londrino Far Out Records foi criado para trabalhar com a música brasileira que mais faz sucesso nas pistas de dança da Europa: o estilo samba-jazz dos anos 70, altamente dançante, com muita percussão, geralmente instrumental ou com poucos vocais. Seu dono, o inglês descendente de indianos Joe Davis, 31 anos, ele mesmo um colecionador de vinis, começou a ir ao Brasil em 1986 atrás de discos raros encontrados em sebos brasileiros e vendidos no mercado europeu por preços bastante rentáveis. Com o dinheiro proveniente dessas transações, montou sua própria gravadora, que hoje lança discos com Marcos Valle, Joyce, Azymuth, Dom Um Romão, Robertinho Silva, Celia Vaz, Cama de Gato e outros artistas brasileiros.
De uns anos pra cá, entretanto, uma série de acusações começou a aparecer na imprensa brasileira contra Davis. Entre outras coisas, o produtor teria pirateado gravações, registrado músicas de outros compositores como sendo dele e deixado de pagar direitos autorais. Irritado com os jornalistas que, segundo ele, nunca vieram perguntar qual a sua versão da história, Joe Davis recebeu CliqueMusic com exclusividade em seu pequeno escritório no bairro residencial de Osterley, afastado do centro de Londres, para esclarecer cada uma das acusações. É uma casa com dois quartos: em um funciona o escritório de Davis; no outro trabalha o cérebro eletrônico da Far Out, Steve, que no momento finaliza o novo disco de Marcos Valle.
"Se eu fosse o mau caráter que os jornais brasileiros dizem que eu sou, não estaria trabalhando ainda ao lado de músicos maravilhosos como Marcos Valle, Joyce e Azymuth", diz Davis, que acredita existir uma campanha contra ele no Brasil. "Há jornalistas que nem me conhecem, nunca falaram comigo, dizendo que eu pirateio discos. Isso é um absurdo total. Existem outras pessoas que fazem isso, sim, e estão ganhando muito dinheiro, mas eu nunca fiz nem faria cópias piratas", diz o produtor, indignado.
Pixinguinha omitido
Sobre as acusações de que teria registrado músicas com seu próprio nome, Davis admite que cometeu um grande erro na compilação Friends from Rio 2, de 1998. Em uma das faixas, uma adaptação house da música Benguelê, de Pixinguinha, os créditos da composição indicam apenas os nomes de Aricia Mess e Fábio Fonseca, autores da versão, e não citam o nome de Pixinguinha.
Davis tira de seus arquivos um documento que recebeu de Fonseca, uma lista com os nomes das músicas e seus autores. Lá consta, entre parênteses, a frase "utiliza partes da música Benguelê, de Pixinguinha". O produtor, entretanto, afirma ter se tratado de uma distração a não-inclusão do nome do compositor. "Eu simplesmente ignorei o que estava entre parênteses. Não foi uma decisão consciente", diz. Segundo esta mesma lista, inclusive, o nome da música deveria ser trocado para Macumbê. "Teria sido muito pior se tivéssemos trocado o nome", admite.
Ele afirma, entretanto, que o problema foi resolvido rapidamente pelos advogados, e a música já está devidamente registrada. Mas a dor de cabeça que o quiprocó legal causou foi tanta que Davis decidiu relançar as demais faixas do disco em outra compilação, ainda a ser elaborada, e que não incluirá Benguelê.
Bola fora
Outro problema de autoria aconteceu no disco Samba de Futebol, uma outra compilação lançada pela Far Out por ocasião da Copa do Mundo da França. Em uma das faixas aparece, sem crédito de autor, a música Na Cadência do Samba, do compositor Luís Bandeira, mais conhecida do público brasileiro como a música-tema do cinedocumentário Canal 100, cuja primeira frase — "Que bonito é…" — tornou-se sinônimo musical de futebol.
Mais uma vez Joe Davis mostra um documento, a liberação para uso da música, onde, de fato, não consta o nome de nenhum autor. E mais uma vez afirma que tudo foi resolvido rapidamente, com alguns telefonemas.
Depois de admitir esses dois erros em suas compilações (nenhuma delas lançada no Brasil), Davis rebate todas as outras acusações — de que teria usado fonogramas pertencentes a outras editoras sem autorização, de que teria feito remixes não autorizados, entre outras — com argumentos que variam entre a diferença da legislação referente a direitos autorais no Brasil e na Inglaterra e o desconhecimento completo das acusações. "O fato é que ninguém veio falar diretamente comigo, só fiquei sabendo desses absurdos por meio de amigos que leram nos jornais", diz.
Daqui para a frente, diversificação
Apesar de seu profundo interesse pela música brasileira, Davis agora pretende diversificar seus interesses, e quer criar um outro selo voltado exclusivamente para música eletrônica. "Alguma coisa que eu goste e que seja mais rentável", especifica o produtor, garantindo que a Far Out nunca foi um negócio muito lucrativo, e que só agora, depois de cinco anos, começa a dar algum lucro. A maior parte do dinheiro investido, garante o empresário, vem de sua atividade como DJ nas pistas de dança de todo o mundo e da venda de discos raros trazidos do Brasil. "Mesmo assim, esse mercado agora está saturado. Por isso quero andar pra frente, diversificar os investimentos".
Ele garante, no entanto, que não deixará a Far Out de lado, e é com grande empolgação que mostra faixas já mixadas do novo disco de Marcos Valle. Os planos para lançar os discos no Brasil, entretanto não são nada animadores. "As experiências nesse sentido que tive até agora foram péssimas", lamenta, sem fazer mais previsões.
De uns anos pra cá, entretanto, uma série de acusações começou a aparecer na imprensa brasileira contra Davis. Entre outras coisas, o produtor teria pirateado gravações, registrado músicas de outros compositores como sendo dele e deixado de pagar direitos autorais. Irritado com os jornalistas que, segundo ele, nunca vieram perguntar qual a sua versão da história, Joe Davis recebeu CliqueMusic com exclusividade em seu pequeno escritório no bairro residencial de Osterley, afastado do centro de Londres, para esclarecer cada uma das acusações. É uma casa com dois quartos: em um funciona o escritório de Davis; no outro trabalha o cérebro eletrônico da Far Out, Steve, que no momento finaliza o novo disco de Marcos Valle.
"Se eu fosse o mau caráter que os jornais brasileiros dizem que eu sou, não estaria trabalhando ainda ao lado de músicos maravilhosos como Marcos Valle, Joyce e Azymuth", diz Davis, que acredita existir uma campanha contra ele no Brasil. "Há jornalistas que nem me conhecem, nunca falaram comigo, dizendo que eu pirateio discos. Isso é um absurdo total. Existem outras pessoas que fazem isso, sim, e estão ganhando muito dinheiro, mas eu nunca fiz nem faria cópias piratas", diz o produtor, indignado.
Pixinguinha omitido
Sobre as acusações de que teria registrado músicas com seu próprio nome, Davis admite que cometeu um grande erro na compilação Friends from Rio 2, de 1998. Em uma das faixas, uma adaptação house da música Benguelê, de Pixinguinha, os créditos da composição indicam apenas os nomes de Aricia Mess e Fábio Fonseca, autores da versão, e não citam o nome de Pixinguinha.
Davis tira de seus arquivos um documento que recebeu de Fonseca, uma lista com os nomes das músicas e seus autores. Lá consta, entre parênteses, a frase "utiliza partes da música Benguelê, de Pixinguinha". O produtor, entretanto, afirma ter se tratado de uma distração a não-inclusão do nome do compositor. "Eu simplesmente ignorei o que estava entre parênteses. Não foi uma decisão consciente", diz. Segundo esta mesma lista, inclusive, o nome da música deveria ser trocado para Macumbê. "Teria sido muito pior se tivéssemos trocado o nome", admite.
Ele afirma, entretanto, que o problema foi resolvido rapidamente pelos advogados, e a música já está devidamente registrada. Mas a dor de cabeça que o quiprocó legal causou foi tanta que Davis decidiu relançar as demais faixas do disco em outra compilação, ainda a ser elaborada, e que não incluirá Benguelê.
Bola fora
Outro problema de autoria aconteceu no disco Samba de Futebol, uma outra compilação lançada pela Far Out por ocasião da Copa do Mundo da França. Em uma das faixas aparece, sem crédito de autor, a música Na Cadência do Samba, do compositor Luís Bandeira, mais conhecida do público brasileiro como a música-tema do cinedocumentário Canal 100, cuja primeira frase — "Que bonito é…" — tornou-se sinônimo musical de futebol.
Mais uma vez Joe Davis mostra um documento, a liberação para uso da música, onde, de fato, não consta o nome de nenhum autor. E mais uma vez afirma que tudo foi resolvido rapidamente, com alguns telefonemas.
Depois de admitir esses dois erros em suas compilações (nenhuma delas lançada no Brasil), Davis rebate todas as outras acusações — de que teria usado fonogramas pertencentes a outras editoras sem autorização, de que teria feito remixes não autorizados, entre outras — com argumentos que variam entre a diferença da legislação referente a direitos autorais no Brasil e na Inglaterra e o desconhecimento completo das acusações. "O fato é que ninguém veio falar diretamente comigo, só fiquei sabendo desses absurdos por meio de amigos que leram nos jornais", diz.
Daqui para a frente, diversificação
Apesar de seu profundo interesse pela música brasileira, Davis agora pretende diversificar seus interesses, e quer criar um outro selo voltado exclusivamente para música eletrônica. "Alguma coisa que eu goste e que seja mais rentável", especifica o produtor, garantindo que a Far Out nunca foi um negócio muito lucrativo, e que só agora, depois de cinco anos, começa a dar algum lucro. A maior parte do dinheiro investido, garante o empresário, vem de sua atividade como DJ nas pistas de dança de todo o mundo e da venda de discos raros trazidos do Brasil. "Mesmo assim, esse mercado agora está saturado. Por isso quero andar pra frente, diversificar os investimentos".
Ele garante, no entanto, que não deixará a Far Out de lado, e é com grande empolgação que mostra faixas já mixadas do novo disco de Marcos Valle. Os planos para lançar os discos no Brasil, entretanto não são nada animadores. "As experiências nesse sentido que tive até agora foram péssimas", lamenta, sem fazer mais previsões.