Ivan Lins estréia seu <i>Pôr-do-Sol</i> em BH

Com performance contida, o cantor, pianista e compositor apresentou as músicas do novo disco (entre elas versões de músicas de Chico César e Caetano Veloso) intercaladas com seus antigos sucessos

Wagner Merije
22/09/2000
BELO HORIZONTE – Ivan Lins continua sendo um craque vitorioso. Em meio a um momento tão bom de sua carreira com sucesso comercial e homenagens nos Estados Unidos, sua performance na noite de ontem, na estréia nacional do show A Cor do Pôr-do-Sol (que chega dia 27 ao Rio, para temporada de uma semana no Canecão) não poderia deixar de ser absolutamente cool, possivelmente reflexo de seu estado de espírito e da nova direção de sua música. De seu visual de cabelos curtos ao figurino de conjuntos brancos com detalhes em bordados usados pelo grupo e assinados por Biza Vianna, passando pela agradável e eficiente iluminação de Marcelo Linhares e a direção de Túlio Feliciano, o clima era de relaxamento, mas com concisão. (O público belorizontino não teve a oportunidade de conhecer a cenografia completa do espetáculo, de Catasini, o que é um prejuízo grande em uma produção tão bem cuidada.)

Durante o show de aproximadamente 85 minutos o cantor, compositor e tecladista dirigiu poucas palavras à platéia. Em dois momentos fez improvisos curtos sobre a saudade de BH. Mais adiante, falou de seus novos parceiros, Celso Viáfora, Totonho Villeroy e Caetano Veloso. Depois, o salgueirense explicou rapidamente o caso de "amor e traição" contido em Emoldurada, feita em homenagem à Portela. E no final, o tradicional agradecimento ao público e aos realizadores. Sem muitas delongas, sem espaço para suas fãs mais afoitas.

Ivan conseguiu que o público (que tomou quase todo o Teatro Sesiminas, com suas 684 cadeiras) prestasse atenção à "trilha de um filme imaginário que capta imagens da metamorfose do artista". Sentada em cadeiras confortáveis, a grande maioria dos presentes preferiu ouvir a cantar, e ainda reagiu com timidez aos apelos do artista para que participasse de determinados trechos. Nem os velhos hits ganharam o embalo costumeiro. Talvez a cachacinha servida na entrada não tenha surtido efeito para esquentar a agradável noite que antevia a chegada da primavera.

Dividido em seis partes, com direção artística do próprio Ivan e do baterista Téo Lima, o espetáculo conduz o ouvinte pelas transformações da natureza, do Pôr-do-Sol ao Sol a Pino, costurando canções como Encontro das Águas, que abre o show, Lembra de Mim, Bilhete, Lua Soberana, Desesperar Jamais, Meu País, com as novas, feitas com vários parceiros. Na linha de canções de amor e dor, apresentou sua versão de Mulher Eu Sei, de Chico César, emendada com Lua de São Jorge, do novo parceiro (em Dois Córregos) Caetano Veloso. A latinidad da nova Cuidate Más esquentou o caldo de Ai Ai Ai Ai Ai Ai.

A parte "porrada", como Ivan costuma dizer, recaiu sobre as palavras fortes e o ritmo pulsante de Ladrão, parceria com o gaúcho Totonho Villeroy, e do rap feito com Formigueiro, um dos melhores momentos da apresentação ao lado do bis com Voa (criada a partir de um poema de Lêda Selma), Vitoriosa e Madalena. Com uma banda tão afiada composta, além do baterista Téo, por Zé Carlos (violão, guitarra e cavaquinho), Tavinho (violão e guitarra), Marco Brito (teclados), Nema Antunes (baixo) e André Siqueira (percussão), faltou uma interação maior entre os músicos. Já Ivan, que em certas horas pareceu que ia se soltar e dançar, acabava logo voltando ao seu posto de capitão do navio.