Ivo Perelman: um brasileiro na terra do jazz
Saxofonista paulistano que vive há 20 anos nos EUA aposta em uma música vanguardista, que, apesar dos vários elogios, ainda não conseguiu penetrar no Brasil
Carlos Calado
23/04/2001
É bem provável que você nunca tenha ouvido falar em Ivo Perelman, apesar de esse saxofonista brasileiro já ter lançado 24 CDs no mercado internacional (quatro deles também no Brasil), gozando de alto prestígio nos círculos do jazz de vanguarda e da chamada new music. A prova está em críticas das mais conceituadas publicações especializadas no gênero. "Uma das mais distintas e imponentes vozes do sax tenor que surgiram nos últimos anos", avalizou a revista norte-americana Down Beat. "Perelman produz música de grandeza absolutamente hipnotizante", elogiou a também americana Cadence. "Graças a Deus por álbuns como esse", agradeceu a britânica Straight No Chaser, referindo-se ao CD Children of Beiji, que Perelman lançou em 1992.
Vivendo no exterior desde 1981, quando foi para Boston (EUA) cursar a influente Berklee School, Perelman (hoje com 40 anos) nasceu em São Paulo. Estudou vários instrumentos, como violão, piano, violoncelo, trombone e clarinete, até se definir pelo sax tenor. O ensino padronizado da Berklee não o convenceu. Desenvolveu seu aprendizado com professores particulares, como o vanguardista Marty Krystall. Também chegou a morar algum tempo na Itália e em Los Angeles, antes de se radicar, enfim, em Nova York, onde mora hoje.
Ironicamente, desde que saiu do Brasil, Perelman, que está passando alguns dias em São Paulo, nunca mais se apresentou em palcos do país. "O fato de eu ser brasileiro quase não pesa no teor da minha música que faço. Ela é alienígena à tradição vocal e lírica da música brasileira", justifica o saxofonista, que estreou no mercado fonográfico em 1989, com o elogiado álbum Ivo (K2B2 Records). Acompanhado por feras do jazz e da música instrumental brasileira, como o baterista Peter Erskine, o baixista John Patitucci, a pianista Eliane Elias e o percussionista Airto Moreira, Perelman improvisava sobre cantigas de roda do folclore brasileiro, num estilo vanguardista que os norte-americanos costumam chamar de free jazz ou new music.
Apesar de essa relativa dose de "brasilidade" ter ajudado a imprimir sua marca musical, num primeiro momento, Perelman já se distanciou há muito tempo daquela fase. "Aquele foi só um degrau da escada. Eu tenho que ser fiel ao que me dá tesão ao tocar. O que me atrai hoje são timbres, tocar com formações diferentes, como quartetos de sax ou com cordas", diz ele, antecipando que em seu próximo disco, que será lançado em breve pelo selo norte-americano Box Holder Records, seu sax tenor estará acompanhado por duas baterias e dois contrabaixos acústicos.
Cuspindo tinta
O fato de sua música vanguardista ter dificuldades maiores de penetração no Brasil do que na Europa, por exemplo, não chega a desanimar o saxofonista, que faz o que pode para ver seus discos circularem no mercado brasileiro. O próximo será Sieiro, álbum editado originalmente pelo selo inglês Leo Records, que a Atração Fonográfica planeja lançar aqui no próximo mês. Por iniciativa da gravadora brasileira, o álbum ganhará nova capa e encarte, que vão utilizar pinturas do próprio Perelman, baseadas na técnica do action painting - lançada por artistas plásticos, como Jackson Pollock e Franz Kline. "Eu jogo a tinta na tela, uso os dedos, às vezes até cuspo na tela com uma tinta não-tóxica", explica o brasileiro, que encontrou nessa forma de expressionismo abstrato um meio de expressão visual similar à de sua música aleatória.
Gravado em 1999, Sieiro destaca o sax de Perelman, tocando na companhia de outra formação instrumental pouco usual: cello (Tomas Urlrich), baixo (Dominic Duval) e bateria (Jay Rosen). "Sou muito ligado na sonoridade do cello, que criou uma cor muito especial nesse projeto. Em alguns momentos, eu e o celista tocamos em uníssono, num registro próximo que produziu uma cor bem original", analisa o saxofonista. A faixa-título é uma homenagem ao jazzófilo paulista José Sieiro, dono de uma vasta discoteca - provavelmente a maior do país - na área do free jazz e da new music.
Atuando num restrito filão do mercado musical, no qual o prestígio entre a imprensa especializada não parece acompanhar em igual medida as oportunidades para se apresentar em público, Perelman costuma fazer uma média de 30 shows por ano. Por outro lado, sua discografia como líder é bem mais extensa do que a da maioria dos músicos de jazz de sua geração. "Uma cara como o Joshua Redman está ligado a uma grande gravadora, que tem um cronograma de lançamentos e por aí afora. Esse é um mundo totalmente estranho para mim", reconhece o saxofonista. Acostumado a gravar seus álbuns com orçamentos mínimos, em estúdios baratos, numa média de três horas de trabalho, Perelman já chegou a fazer um deles (The Eye Listens, lançado no ano passado pela Boxhouder Records), em apenas uma hora.
"Enquanto houver alguém que banque meus discos, eu vou lá e faço, porque adoro gravar. Além de ser uma experiência mágica, no meu caso, a gravação é o melhor fator de crescimento na arte em que eu estou fazendo. É graças a ela que eu posso avaliar para onde a minha música está indo. Gravando constantemente você pode monitorar isso", reflete o saxofonista.
Vivendo no exterior desde 1981, quando foi para Boston (EUA) cursar a influente Berklee School, Perelman (hoje com 40 anos) nasceu em São Paulo. Estudou vários instrumentos, como violão, piano, violoncelo, trombone e clarinete, até se definir pelo sax tenor. O ensino padronizado da Berklee não o convenceu. Desenvolveu seu aprendizado com professores particulares, como o vanguardista Marty Krystall. Também chegou a morar algum tempo na Itália e em Los Angeles, antes de se radicar, enfim, em Nova York, onde mora hoje.
Ironicamente, desde que saiu do Brasil, Perelman, que está passando alguns dias em São Paulo, nunca mais se apresentou em palcos do país. "O fato de eu ser brasileiro quase não pesa no teor da minha música que faço. Ela é alienígena à tradição vocal e lírica da música brasileira", justifica o saxofonista, que estreou no mercado fonográfico em 1989, com o elogiado álbum Ivo (K2B2 Records). Acompanhado por feras do jazz e da música instrumental brasileira, como o baterista Peter Erskine, o baixista John Patitucci, a pianista Eliane Elias e o percussionista Airto Moreira, Perelman improvisava sobre cantigas de roda do folclore brasileiro, num estilo vanguardista que os norte-americanos costumam chamar de free jazz ou new music.
Apesar de essa relativa dose de "brasilidade" ter ajudado a imprimir sua marca musical, num primeiro momento, Perelman já se distanciou há muito tempo daquela fase. "Aquele foi só um degrau da escada. Eu tenho que ser fiel ao que me dá tesão ao tocar. O que me atrai hoje são timbres, tocar com formações diferentes, como quartetos de sax ou com cordas", diz ele, antecipando que em seu próximo disco, que será lançado em breve pelo selo norte-americano Box Holder Records, seu sax tenor estará acompanhado por duas baterias e dois contrabaixos acústicos.
Cuspindo tinta
O fato de sua música vanguardista ter dificuldades maiores de penetração no Brasil do que na Europa, por exemplo, não chega a desanimar o saxofonista, que faz o que pode para ver seus discos circularem no mercado brasileiro. O próximo será Sieiro, álbum editado originalmente pelo selo inglês Leo Records, que a Atração Fonográfica planeja lançar aqui no próximo mês. Por iniciativa da gravadora brasileira, o álbum ganhará nova capa e encarte, que vão utilizar pinturas do próprio Perelman, baseadas na técnica do action painting - lançada por artistas plásticos, como Jackson Pollock e Franz Kline. "Eu jogo a tinta na tela, uso os dedos, às vezes até cuspo na tela com uma tinta não-tóxica", explica o brasileiro, que encontrou nessa forma de expressionismo abstrato um meio de expressão visual similar à de sua música aleatória.
Gravado em 1999, Sieiro destaca o sax de Perelman, tocando na companhia de outra formação instrumental pouco usual: cello (Tomas Urlrich), baixo (Dominic Duval) e bateria (Jay Rosen). "Sou muito ligado na sonoridade do cello, que criou uma cor muito especial nesse projeto. Em alguns momentos, eu e o celista tocamos em uníssono, num registro próximo que produziu uma cor bem original", analisa o saxofonista. A faixa-título é uma homenagem ao jazzófilo paulista José Sieiro, dono de uma vasta discoteca - provavelmente a maior do país - na área do free jazz e da new music.
Atuando num restrito filão do mercado musical, no qual o prestígio entre a imprensa especializada não parece acompanhar em igual medida as oportunidades para se apresentar em público, Perelman costuma fazer uma média de 30 shows por ano. Por outro lado, sua discografia como líder é bem mais extensa do que a da maioria dos músicos de jazz de sua geração. "Uma cara como o Joshua Redman está ligado a uma grande gravadora, que tem um cronograma de lançamentos e por aí afora. Esse é um mundo totalmente estranho para mim", reconhece o saxofonista. Acostumado a gravar seus álbuns com orçamentos mínimos, em estúdios baratos, numa média de três horas de trabalho, Perelman já chegou a fazer um deles (The Eye Listens, lançado no ano passado pela Boxhouder Records), em apenas uma hora.
"Enquanto houver alguém que banque meus discos, eu vou lá e faço, porque adoro gravar. Além de ser uma experiência mágica, no meu caso, a gravação é o melhor fator de crescimento na arte em que eu estou fazendo. É graças a ela que eu posso avaliar para onde a minha música está indo. Gravando constantemente você pode monitorar isso", reflete o saxofonista.