Jairzinho começa a atacar no exterior

Cantor e compositor ganha remix do DJ Patife (que estourou Max de Castro nas pistas inglesas) e tem seu disco em destaque na programação de Jazz FM de Londres

Silvio Essinger
22/03/2001
Depois de remixar Pra Você Lembrar ouvir 30s, música de Max de Castro, e transformá-la num sucesso nas pistas londrinas, o DJ Patife agora ataca de Jairzinho Oliveira. Ele acabou de fazer um remix para a vinheta Grooves, Ritmos, Sons e Vinhetas (Jungle Pandeiro), do disco de estréia do músico, Dis'ritmia ouvir 30s, lançado em outubro passado pela Trama. Quem dá a notícia é o próprio Jairzinho, que aproveitou passagem pelo Rio para bater um papo com CliqueMusic. Patife está indo com o remix (que deve entrar no disco de estréia do DJ) para Londres, onde Dis'ritmia esteve, recentemente, em primeiro lugar na parada da Jazz FM (o disco foi licenciado para alguns países europeus e para os Estados Unidos). "Lá fora a percepção é diferente", comenta o filho de Jair Rodrigues. "Se aqui no Brasil eu sou visto mais como um artista de R&B, jazz ou até rap, lá eles vêem como música brasileira."

Ciente de que seu disco terá uma assimilação mais lenta do que os de outros colegas de Trama - como o a irmã Luciana Mello e Pedro Mariano -, Jairzinho segue com o trabalho de divulgação: no próximo dia 7, apresenta-se no Centro Cultural São Paulo. "Agora que eu estou começando a sentir a reação do público ao disco, a identificação que ele tem por certas letras", diz. Suas composições, no entanto, não cessam de ser requisitadas e gravadas. Elas estão nos discos de Luciana (Assim Que Se Faz amostras de 30s), Pedro Mariano (Voz no Ouvido amostras de 30s), Simoninha (Volume 2) e nos das cantoras Patrícia Coelho (Simples Desejo amostras de 30s) e Wanessa Camargo (filha do sertanejo Zezé Di Camargo). Uma música que mandou para a cantora de Ana Carolina infelizmente acabou não entrando em seu novo disco.

Apesar do grande volume de composições, Jairzinho diz que não é metódico. "Há períodos de seca e outros de grande inspiração. Tudo vem de um lugar que eu não sei onde fica", conta. Suas referências musicais são as mais variadas: o pai, Djavan, Gil, Caetano, Chico, Noel, Moreira da Silva, além dos Nelsons Sargento e Cavaquinho. E muito jazz, soul, R&B e funk, sem preconceitos. "Essa é uma característica comum aos músicos da nossa geração: buscar no passado elementos que levem a alguma coisa interessante para os dias de hoje", diz.

Enquanto compõe e cuida de sua carreira, Jairzinho ainda acha tempo para se dedicar à produção, nos discos do pai, da irmã, do MPB-4, de Vicente Barreto, do grupo vocal feminino Classe, dos Artistas Reunidos e de Wilson Simoninha. Em breve, ele começa a produzir o próximo CD de Jair Rodrigues, que deve sair no próximo semestre. "Não há nada decidido, mas provavelmente ele não será só de inéditas", adianta. E o disco também não deve ter as eletrônicas que aparecem nas produções de Jairzinho para os artistas mais jovens. "Tem que se manter a integridade do artista - os discos do meu pai têm sempre que valorizar a voz", explica. "E, de qualquer forma, ele sempre dá um jeito de inovar em seu trabalho."

Segundo disco em vista
Ele próprio também deve fazer mais um disco ainda em 2001. "Talvez nem seja obrigatório lançar um disco por ano, mas como quero criar uma obra, é importante fazer isso", diz. Se Dis'ritmia obedecia a um conceito que Jairzinho vinha burilando desde 1993, quando estava em Boston estudando produção musical na escola de música Berklee, seu segundo disco deve ser mais aberto, com mais participações (ele produziu, compôs e tocou boa parte dos instrumentos na estréia). Além do seu parceiro mais regular, Daniel Carlomagno, ele pensa em dividir composições com Lenine, Max de Castro, Simoninha e com um de seus ídolos, Ed Motta. "Ed estava sozinho quando apostou em um tipo de música sofisticada, à base de funk, jazz e soul. Quando pintou a Trama, ele era o artista com que a gente mais se identificava", conta.

Passado o tempo, Jairzinho analisa com serenidade seu passado no grupo infantil Balão Mágico - hoje alçado à condição de cult, com a edição em CD de coletâneas. "Até hoje não teve uma pessoa que chegasse dizendo que odiava o Balão", informa. "Eu ainda me impressiono ouvindo os discos, que são muito bem feitos. Tinham arranjos de Lincoln Olivetti e Chiquinho de Moraes. E eram discos de crianças falando para crianças. Hoje em dia, como as opções são poucas, a garotada acaba gostando do que vê na TV - coisas não tão interessantes, com mulheres seminuas", lamenta. Uma das suas frustrações, por sinal, é que os discos do Balão Mágico não tenham sido reeditados individualmente em CD.