Jairzinho e Luciana: novas caras para a MPB
Integrantes do Projeto Artistas Reunidos, os filhos de Jair Rodrigues lançam discos solo simultaneamente pela Trama - ele, o de estréia; ela, o seu segundo
Carlos Calado
06/10/2000
Eles são exemplos de como a boa formação e o estudo sério podem abrir caminho para carreiras promissoras, ainda mais num país desprovido de educação musical como o Brasil. Lançando seus CDs individuais, os irmãos Jairzinho Oliveira, 25 anos, e Luciana Mello, 21 anos, são as mais novas apostas da gravadora Trama. Os dois fazem parte do grupo Artistas Reunidos, que inclui os cantores e compositores Wilson Simoninha, Max de Castro e Pedro Mariano, todos com discos lançados nos últimos meses pela mesma gravadora, que os vem anunciando como "a nova cara da MPB".
Filhos do cantor e sambista Jair Rodrigues, ambos conferem créditos freqüentes ao pai. "Crescemos num ambiente de muita música, convivendo diariamente com compositores e músicos", conta Jairzinho, que teve apoio irrestrito da família quando decidiu trocar a carreira de ídolo infantil (fez parte da banda Balão Mágico) pela respeitada Berklee College of Music, em Boston, onde estudou durante cinco anos. Voltou dos EUA, no início de 1998, formado com especialização em produção musical. "Meu pai nunca forçou nada. Só nos apresentou boa música", reconhece também Luciana, que começou a ter aulas de canto aos seis anos de idade e estuda piano desde os 10.
Foi na discoteca do pai que Jairzinho encontrou os primeiros discos de jazzistas, como Wes Montgomery e Gerry Mulligan, que moldaram sua relação com a música. "Ouvi muito jazz nos Estados Unidos. Acabei fascinado por essa relação harmônico-melódica que existe no jazz e na bossa nova", diz ele, lembrando que os discos de Djavan, João Bosco, Tom Jobim e Gilberto Gil quase não saíam de seu aparelho de som. Nasceu assim um compositor prolifico, que hoje tem mais de 170 canções. A maioria delas, por sinal, com música e letra. "Sempre gostei de escrever", diz ele, citando entre seus escritores e poetas favoritos Machado de Assis, João Cabral de Melo Neto e Pablo Neruda. Um interesse que o levou até a fazer o vestibular para a disputada escola de Jornalismo da Universidade de São Paulo. Foi aprovado entre os primeiros colocados, mas após três meses de aulas decidiu ficar só com a música.
Nada de revolucionário
Jairzinho encara Dis’ritmia, seu CD de estréia, como "um disco de compositor". "Minha performance ainda precisa de um tempo para ser aperfeiçoada", reconhece. Nem os elogios eufóricos do soulman Ed Motta às composições conseguiram inflar o ego do rapaz. "Não tem nada de revolucionário no meu disco. É uma mistura de acid jazz e samba", analisa. Apesar de sua assumida timidez e do gosto pelo trabalho de estúdio (atualmente está produzindo o novo disco do grupo vocal MPB-4), ele não é do tipo que torce o nariz para o palco. "Sempre fui meio tímido, mas o Balão Mágico me trouxe o benefício de lidar com o palco sem muitos problemas. Ajudou até a melhorar meu problema de timidez com as mulheres", confessa, revelando que pretende voltar a se apresentar em bares e casas noturnas, "sem compromisso", assim que o calendário de lançamento de seu disco permitir.
O compositor e violonista só deixa de lado o tom contido quando fala dos dotes musicais de Luciana. "Não é por ser minha irmã, mas ela tem uma voz espetacular. Quando amadurecer, tem potencial para ser uma das grandes cantoras do país", elogia. Essa admiração é correspondida em dose maior ainda pela irmã. "O Jairzinho é meu ídolo maior, meu guru", elogia Luciana, dizendo que não poderia imaginar outro produtor para seu segundo disco (o primeiro, lançado em 1996 pela Movieplay, trazia um repertório mais centrado em sambas de roda, visando ao mercado externo). "Passei a minha vida inteira tocando e cantando com meu irmão. É só ele olhar para mim, eu já sei o que fazer."
Com tanta empatia entre os dois, é natural que ela tenha decidido gravar seis canções de autoria de Jairzinho entre as 11 de seu CD, intitulado Assim Que se Faz. "Eu queria músicas que tivessem a ver comigo, sem aqueles clichês do tipo ‘eu te amo, meu amor’", conta Luciana, que já se arriscou a escrever suas primeiras canções, mas ainda não se sente satisfeita com o resultado. "É preciso dedicar tempo a isso. Talvez eu coloque alguma no próximo disco", admite. Afirmando ter um gosto eclético ("sempre escutei de tudo: MPB, jazz, samba, black music"), ela revela que seu modelo como vocalista é "mais masculino". Cita Ed Motta, Djavan e o jazzista Bobby McFerrin entre seus ídolos, mas surpreende mencionando também a norte-americana Rachelle Ferrell ("ela tem uma extensão incrível"), voz cultuada entre fãs do jazz e do R&B. Diferentemente do irmão, porém, Luciana não se satisfaz apenas com a música. Além dos cursos de dança que vem fazendo há anos, atualmente ela freqüenta o primeiro ano de Filosofia, no Mackenzie, com uma predileção especial pelos escritos de Platão e Sartre. "É quando eu paro um pouco para pensar em mim", justifica.
Filhos do cantor e sambista Jair Rodrigues, ambos conferem créditos freqüentes ao pai. "Crescemos num ambiente de muita música, convivendo diariamente com compositores e músicos", conta Jairzinho, que teve apoio irrestrito da família quando decidiu trocar a carreira de ídolo infantil (fez parte da banda Balão Mágico) pela respeitada Berklee College of Music, em Boston, onde estudou durante cinco anos. Voltou dos EUA, no início de 1998, formado com especialização em produção musical. "Meu pai nunca forçou nada. Só nos apresentou boa música", reconhece também Luciana, que começou a ter aulas de canto aos seis anos de idade e estuda piano desde os 10.
Foi na discoteca do pai que Jairzinho encontrou os primeiros discos de jazzistas, como Wes Montgomery e Gerry Mulligan, que moldaram sua relação com a música. "Ouvi muito jazz nos Estados Unidos. Acabei fascinado por essa relação harmônico-melódica que existe no jazz e na bossa nova", diz ele, lembrando que os discos de Djavan, João Bosco, Tom Jobim e Gilberto Gil quase não saíam de seu aparelho de som. Nasceu assim um compositor prolifico, que hoje tem mais de 170 canções. A maioria delas, por sinal, com música e letra. "Sempre gostei de escrever", diz ele, citando entre seus escritores e poetas favoritos Machado de Assis, João Cabral de Melo Neto e Pablo Neruda. Um interesse que o levou até a fazer o vestibular para a disputada escola de Jornalismo da Universidade de São Paulo. Foi aprovado entre os primeiros colocados, mas após três meses de aulas decidiu ficar só com a música.
Nada de revolucionário
Jairzinho encara Dis’ritmia, seu CD de estréia, como "um disco de compositor". "Minha performance ainda precisa de um tempo para ser aperfeiçoada", reconhece. Nem os elogios eufóricos do soulman Ed Motta às composições conseguiram inflar o ego do rapaz. "Não tem nada de revolucionário no meu disco. É uma mistura de acid jazz e samba", analisa. Apesar de sua assumida timidez e do gosto pelo trabalho de estúdio (atualmente está produzindo o novo disco do grupo vocal MPB-4), ele não é do tipo que torce o nariz para o palco. "Sempre fui meio tímido, mas o Balão Mágico me trouxe o benefício de lidar com o palco sem muitos problemas. Ajudou até a melhorar meu problema de timidez com as mulheres", confessa, revelando que pretende voltar a se apresentar em bares e casas noturnas, "sem compromisso", assim que o calendário de lançamento de seu disco permitir.
O compositor e violonista só deixa de lado o tom contido quando fala dos dotes musicais de Luciana. "Não é por ser minha irmã, mas ela tem uma voz espetacular. Quando amadurecer, tem potencial para ser uma das grandes cantoras do país", elogia. Essa admiração é correspondida em dose maior ainda pela irmã. "O Jairzinho é meu ídolo maior, meu guru", elogia Luciana, dizendo que não poderia imaginar outro produtor para seu segundo disco (o primeiro, lançado em 1996 pela Movieplay, trazia um repertório mais centrado em sambas de roda, visando ao mercado externo). "Passei a minha vida inteira tocando e cantando com meu irmão. É só ele olhar para mim, eu já sei o que fazer."
Com tanta empatia entre os dois, é natural que ela tenha decidido gravar seis canções de autoria de Jairzinho entre as 11 de seu CD, intitulado Assim Que se Faz. "Eu queria músicas que tivessem a ver comigo, sem aqueles clichês do tipo ‘eu te amo, meu amor’", conta Luciana, que já se arriscou a escrever suas primeiras canções, mas ainda não se sente satisfeita com o resultado. "É preciso dedicar tempo a isso. Talvez eu coloque alguma no próximo disco", admite. Afirmando ter um gosto eclético ("sempre escutei de tudo: MPB, jazz, samba, black music"), ela revela que seu modelo como vocalista é "mais masculino". Cita Ed Motta, Djavan e o jazzista Bobby McFerrin entre seus ídolos, mas surpreende mencionando também a norte-americana Rachelle Ferrell ("ela tem uma extensão incrível"), voz cultuada entre fãs do jazz e do R&B. Diferentemente do irmão, porém, Luciana não se satisfaz apenas com a música. Além dos cursos de dança que vem fazendo há anos, atualmente ela freqüenta o primeiro ano de Filosofia, no Mackenzie, com uma predileção especial pelos escritos de Platão e Sartre. "É quando eu paro um pouco para pensar em mim", justifica.