Jane Duboc e a doçura brasileira <i>for export</i>

Cantora lança o disco Sweet Lady Jane, com canções em inglês e português produzidas por Ivan Lins

Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
06/11/2002
Sweet Lady Jane ouvir 30s é o nome perfeito para o novo CD de Jane Duboc. Afinal, não há quem converse e/ou ouça a cantora sem ser envolvido por sua doçura e simpatia. O CD marca seus 30 anos de carreira e está sendo lançado pela Jam Music (gravadora dela e do marido Paulo Amorim). Mas o título em inglês não faz apenas referência à personalidade da intérprete; da sonoridade ao design, o disco procura inserir Jane na onda suave da MPB for export, da qual Ivan Lins é um dos mais destacados propagadores no exterior.

Ivan também não é citação gratuita em relação ao álbum. "Uma noite eu e Paulo conversávamos e ele veio com a idéia de gravar um disco dentro de um estilo que antecedesse a bossa nova, totalmente 'cool jazz'", conta Jane, referindo-se ao som criado por jazzistas como Miles Davis nos anos 50. Naquela mesma noite, o casal estava acompanhado por Ivan Lins, que adorou o projeto e acabou tornando-se o produtor do disco. "Tudo foi muito intuitivo, super-rápido, desenvolvido num clima tranqüilo na casa do Ivan, em Teresópolis", lembra.

A colaboração virou um CD de 12 músicas, no qual Jane interpreta em português e inglês standards do jazz e clássicos da bossa nova. Buscou-se um estilo de arranjos e ambientação que casava a pungência da interpretação de Jane com um contexto sutil, meio termo entre o Brazilian jazz de Flora Purim e a pós-bossa de Tom Jobim, retomada com gosto nos discos mais recentes de Ivan. A cantora compreende o potencial do disco para o mercado norte-americano. "Nunca tinha pensado em desenvolver uma carreira lá fora. Mas com o apoio do Ivan, e com o belo resultado que conseguimos com este disco, pode ser bem possível que dê certo", acredita Jane, que morou nos EUA no fim dos anos 60.

O CD foi gravado e mixado em Nova York e traz a participação de músicos americanos, opções que ela justifica: "Queríamos impregnar o trabalho com 'cool jazz', por isso foi interessante essa condução real, que só alcançaríamos lá." A presença de feras como Randy Brecker, Lew Soloff (sopros) e Steve Rodby (baixo) amplificou essa opção. "A brasilidade ficou por conta do violão do Romero Lubambo e da harmonia moderna de Ivan. Aliás, foi por Ivan ser tão querido por lá que conseguimos arregimentar músicos por preços bem camaradas...", confessa Jane.

Além de produzir e participar de uma faixa do CD (a inédita Evermore, escrita por ele mesmo e Will Lee), Ivan foi quem sugeriu o título. "Ele falou assim: 'Tem uma música aí...' Eu e Paulo ficamos chutando Tom Jobim, Vinícius... Que nada, era Lady Jane, dos Rolling Stones! Mas quando ele começou a cantar, com aquela harmonia, parecia outra. Tinha a coincidência com meu nome, mas a princípio fiquei envergonhada, imagina que prepotência! Mas insistiram tanto, que eu acabei concordando", conta a Sweet Jane.

A cantora faz questão de comentar algumas das faixas do novo disco: "Quando ouvi Verão, achei linda. Rob (Mounsey, arranjador e regente do álbum) traduziu a letra para o inglês e criou o arranjo. Meu fanatismo por Dolores Duran me fez escolher Por Causa de Você, mais ainda por ser em parceria com Tom Jobim. Já Pr'um Samba é do meu amigo Egberto Gismonti, que gosto desde que ele a compôs, em 71".

Jane ainda cita If It's Magic, de Stevie Wonder - "Ivan disse que ela tinha a minha cara e quando vi a letra, me comovi, pois é uma canção de paz, uma forma de protesto" - e a inédita Blues Afins - "Essa é do meu parceiro Tunai, um dos que mais elogiam a Jam Music, com Sérgio Natureza". It Might as Well Be Spring (R. Rodgers/O. Hammerstein), outra sugestão de Ivan Lins, esbarrou em problemas de direitos autorais: "O Ivan fez a letra em português, eu cheguei a gravá-la, mas não foi autorizada porque a tradução não era fiel. Então, ficou a versão original mesmo", explica.

Complementa o disco uma ambiciosa produção ao vivo, que junta Jane à Orquestra Jazz Sinfônica, regida por João Maurício Galindo. O show foi testado em São Paulo no último dia 3 e ainda segue para o Rio (no Canecão, dia 15), Brasília (dia 21, no Teatro Nacional) e Belo Horizonte (13 de dezembro, no Palácio das Artes).

Mesmo envolvida com o novo CD e com os ensaios, Jane não esconde que está muito voltada para a Jam Music. "Me dedico quase que inteiramente à Jam desde que foi criada, há três anos. Nossa vontade é registrar trabalhos originais, bonitos. Temos muitas coisas singulares, adoraria poder gravar tudo, mas é um processo difícil", lamenta, dizendo que tem três malas cheias de CDs-demo. A gravadora tem 26 CDs em seu catálogo, o que, segundo Jane, é um número expressivo: "É muito para uma gravadora pequena. Tem a pré-produção em São Paulo, depois vai ao Rio, onde fica o estúdio... E isso tudo com acúmulo de funções! Mas tudo é muito gratificante", afirma.