Joanna volta a apostar no romantismo

Cantora explica por que voltou à linha popular, desta vez com um acento pop-folk em algumas canções, e investe no mercado latino

Rodrigo Faour
16/03/2001
Nos anos 90, Joanna largou a fórmula desgastada dos discos de baladas bregas, calcadas nos clichês da dupla Sullivan & Massadas e seus seguidores, e dedicou-se a projetos mais ambiciosos, como o de recriar a obra de Lupicínio Rodrigues (Joanna Canta Lupicínio amostras de 30s, 1994) e de diversos ases do samba-canção (Joanna em Samba-Canção amostras de 30s, 97) ou então cantar boleros clássicos (Intimidad amostras de 30s, 98). Depois de uma bem sucedida revisão de carreira (20 Anos Ao Vivo amostras de 30s, 99), onde arriscou outros gêneros como samba, choro, salsa e modinha, ela volta ao berço popular que a consagrou no CD Eu Estou Bem amostras de 30s. Curiosamente é o mesmo título que a cantora Marina Lima pensou em dar para seu disco de retomada pós-depressão (mas acabou optando por Síssi na Sua amostras de 30s). Tal título, no entanto, não traduz apenas seu estado de espírito e sim o nome de uma canção... que não entrou no CD (!).

"Esse título e todo o conceito deste disco nasceram de uma música da Carly Simon. Pedi a Isolda que fizesse uma versão de You're So Vain, mas ela ainda não pôde entrar no disco por questões burocráticas. Nunca ninguém gravou no Brasil uma versão de uma composição assinada pela Carly, então há esse entrave. Mas não houve negação da parte dela, apenas uma demora. A faixa deve entrar como bonus track mais tarde na segunda edição do disco", explica a cantora, que também fez questão de manter esse título porque, como diz, está passando por um "momento pessoal pleno". "Isso está presente até na cor vermelha da capa e do projeto gráfico", frisa. Aliás, um projeto gráfico caprichado, assinado por Ricardo Leite e Rafael Ayres, com fotos de Christian Gaul.

A pergunta que não quer calar é por que Joanna voltou ao popular deslavado? "Estou feliz de ter a oportunidade e a liberdade de trafegar por diversas vertentes da MPB. Poucas cantoras podem fazer isso. Assim como já vendi 300 mil discos de projetos como do Lupicínio - que também era um compositor muito popular em sua época e hoje é tido como clássico -, posso também voltar a fazer um projeto como o atual, de um cunho pop-folk-romântico, ainda mais popular. Sei que meu público vai assimilá-lo muito bem. Mas as portas que abri no 20 Anos Ao Vivo, cantando outros gêneros, não se fecham nunca. Creio que meu disco atual é coerente com minha trajetória."

Essa incursão pelos limites de um som mais internacional, com incursões por baladas folk, segundo a cantora, vem de muitos anos. "Isso me remete aos anos 70, quando escutava muito Carly Simon, Carole King, James Taylor... ainda que seja um som que eu curta até hoje, gosto de cantoras mais contemporâneas, como k.d. lang", diz. Mas ela vai além das portas do folk-country e pega carona no sucesso de dois ícones da música romântica de vendagem milionária, com os quais faz dueto: os brasileiros Zezé Di Camargo (Definitivo Amor) e o italiano Biaggio Antonacci (Mensagem Pra Você, versão de Iris Traletue Poesie, grande sucesso do cantor). "O Biaggio é hoje o cantor de pop/romântico que mais vende na Itália. Ele navega na praia do Eros Ramazzotti. Pedi então à Isolda uma versão, que já guardo há algum tempo para gravar".

México é a meta
Joanna ambiciona voltar a ser bem sucedida no mercado latinoamericano com esse disco. Ela já tem o nome consagrado em países como Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Peru. "A Argentina determina o sucesso dos países do sul da América Latina. Ela tem uma mídia muito forte e dita o sucesso das músicas e dos discos. A emissora de TV Televisa é muito forte", explica ela que atualmente figura nas paradas locais com o hit de seu penúltimo disco, Tô Fazendo Falta. Nesse ano, seu disco será lançado simultaneamente também em Portugal, onde ela também tem público cativo. Mas ela pretende ir além e abocanhar também um mercado bastante receptivo ao seu gênero romântico: o mexicano.

"Se a Argentina é uma porta de entrada em outros países do sul, o México é a porta de entrada na América do Norte", explica ela, que, ao renovar seu contrato com a BMG, pretende por em pauta esse assunto. "Isto certamente é uma das coisas que devem pesar na renovação. Afinal de contas, meu nome já é muito conhecido em vários países da América Latina e sei que se eu tiver apoio, esse sucesso pode se estender ainda mais", acredita ela, que pretende estrear seu novo show entre maio e junho. "Nele, pretendo também reunir músicas de Intimidad e 20 Anos, entre outras, pois não consegui fazer uma turnê muito grande do meu show anterior, nem mesmo pelo Brasil", justifica. Alguém duvida que Joanna "está bem"?