João Bosco nas esquinas do mundo
Na Alemanha, onde dividiu o palco com Jorge Ben Jor, o violonista, cantor e compositor fala a CliqueMusic sobre sua turnê européia e sobre seu novo disco, que sai no próximo mês
Felipe Tadeu
25/07/2000
MUNIQUE, ALEMANHA – O cantor e compositor João Bosco esteve se apresentando no último domingo no festival Münchner Klavier Sommer 2000, promovido pelo Hotel Bayerischer Hof, espécie de Copacabana Palace da cidade da Oktoberfest. Dividindo o palco numa noite que ainda teria Jorge Ben Jor como encerramento do evento (e que teve em outros dias Salif Keita, Los Van Van, The Manhatan Transfer, Al Di Meola e Yellow Jackets), Bosco encantou a platéia de cerca de 1500 pagantes com sua afiadíssima banda: Armando Marçal na percussão, Nelson Faria na guitarra, Kiko Freitas na batera e João Figueiredo no baixo. Após o excelente concerto, ele falou com exclusividade para o CliqueMusic, comentou, entre outros temas, sobre Na Esquina, seu novo disco, que será lançado no mês que vem.
CliqueMusic – João Bosco, você já está em turnê pela Europa desde o final do mês de junho. Quais foram os países por onde você e seus músicos passaram?
João Bosco – Nós fizemos Portugal, depois Suécia, Itália, França, Ilha de Malta, Ilha da Madeira – onde eu nunca havia estado antes –, e agora a Alemanha. É um tipo de turnê que a gente sempre faz no verão europeu. Todo mundo nesta época está muito alegre por aqui, todos despojados, e há um clima propício para se fazer um trabalho de uma certa maneira descontraído, percussivo, algo que se identifica muito com o que eu faço.
CliqueMusic – Quando foi que você tocou aqui na Europa pela primeira vez?
João Bosco – Foi no ano de 1983, quando eu fui fazer o Festival de Montreux, na Suíça, onde nós tivemos uma noite brasileira que era com Caetano Veloso, Ney Matogrosso e eu. Uma noite que inclusive acabou dando em disco ao vivo. A partir daí, eu venho sistematicamente à Europa, não só no verão, como em outras épocas do ano também. Em 2001, por exemplo, já devo vir em março, desta vez acompanhado do pianista cubano Gonzalo Rubalcaba, com quem eu já trabalhei no Brasil este ano algumas vezes. Em março, estaremos então fazendo esta turnê aqui pelo continente.
CliqueMusic – No caso, já tocando o repertório deste seu novo disco, que está para sair agora em agosto, não é?
João Bosco – É, com certeza!
CliqueMusic – Você poderia adiantar para a gente como será este novo álbum? Você vem novamente com parcerias suas com seu filho Francisco?
João Bosco – Esse é um disco em que eu venho inteirinho de novo com o Francisco, pois afinal é o segundo trabalho que a gente grava e ele é um jovem que tem um interesse enorme pela música brasileira, pela poética brasileira, com essa garra estimulante, própria da juventude dele. Estou investindo neste novo trabalho e acho que já fui correspondido, porque ele cresceu muito, se soltando mais ainda. O disco tem o título de Na Esquina, exatamente por ser a esquina um espaço que é próprio de um artista como eu. Um lugar indefinido, por não ser resultante de uma única via. Acho que há nele uma identificação muito grande com o Brasil, já que a nossa cultura tem origem num encontro de vias.
O disco é um trabalho que evoca muito a minha memória e tem muito a ver com o Galos de Briga (1976), onde volto a trabalhar com grande orquestra, onde os arranjos e a produção são de Jacques Morelembaum, com quem eu já havia trabalhado antes no Benguelê (1998), a trilha-sonora que eu fiz para o Grupo Corpo. Foi nesse encontro com o Jaquinho que a gente praticamente decidiu que faria outro projeto juntos. Neste novo disco, eu trabalho com muitos instrumentos, coisa que eu não fazia desde o Zona de Fronteira (1991). Ele é, portanto, o encontro das vias que são o Galos de Briga, o Zona de Fronteira, o Dá Licença, Meu Senhor (1995), com o Benguelê e, naturalmente As Mil e Uma Aldeias (1997), quando eu trabalhei pela primeira vez com a poética do Francisco.
CliqueMusic – Quais os músicos que participam do Na Esquina?
João Bosco – Na percussão, temos Armando Marçal e, no baixo, o Zeca Assumpção, o Arthur Maia e o Jorge Helder. A bateria está entre o Téo Lima e Marcelo Costa, o piano com Cristóvão Bastos, Paulinho Calazans e esse menino que é o tecladista do Milton, o Kiko Continentino. Aliás, nós também estamos com o Lincoln Cheib na bateria, que também toca com o Milton. Já na guitarra, temos o Ricardo Silveira, o Jaquinho fazendo o cello em algumas canções, mas muitos instrumentistas, muitos! Uma orquestra. A ficha técnica do disco é muito numerosa.
CliqueMusic – Você é um dos maiores violonistas da música brasileira contemporânea. Já passou pela tua cabeça de lançar um disco puramente instrumental?
João Bosco – Às vezes eu penso, sim, em fazê-lo, e acho inclusive que, agora, isso está chegando mais perto de se tornar realidade. Tocando com o guitarrista Nélson Faria, nós dois temos conversado muito sobre o violão brasileiro. Nelsinho é uma pessoa que escreveu vários livros sobre o violão no Brasil, que fez um método publicado pela Lumiar... Mas antes tem o trabalho com o Gonzalo Rubalcaba, de piano e violão acústicos. Eu e ele ainda não sabemos se será um álbum de estúdio ou gravado ao vivo, mas é um trabalho que tem me fascinado muito.
Essa via cubana, através de um músico como o Gonzalo, que é um profundo conhecedor de música formal, mais a música jazzística dos Estados Unidos, essa via junto com a música brasileira têm nos proporcionado uma idéia excitante. Neste show que tenho feito pela Europa, eu faço até um encontro do Thelonius Monk com Tom Jobim via Round Midnight e O Amor em Paz, que eu acho que são dois mundos completamente afins.
CliqueMusic – Você pretende também continuar investindo em trilhas para balé?
João Bosco – Depois da experiência que tive com o Grupo Corpo, sim. Eu passei a prestar bastante atenção na música para a dança, para coreografias. Tenho visto, ouvido e acompanhado o trabalho de vários músicos que fizeram trilhas para espetáculos de dança.
CliqueMusic – Edu Lobo?
João Bosco – Não só do Brasil, mas também de músicos estrangeiros. Há um encontro agora do Phillip Glass com músicos africanos que é algo impressionante! Eu devo voltar a fazer música para dança, sim.
CliqueMusic – O álbum Zona de Fronteira é tido por muitos como o seu melhor trabalho nos últimos dez anos. Você continua compondo com Waly Salomão e Antônio Cícero?
João Bosco – Esse é um disco raro porque o encontro é muito raro. Waly e Cícero não haviam feito nada parecido com isso antes, nem depois. Acho que Zona de Fronteira é único. Às vezes eu me encontro com os dois, a gente faz projetos de, quem sabe, voltar a fazer algo novamente juntos, mas esse é um trabalho que já se concretizou. Creio que a probabilidade disso voltar a acontecer é muito difícil.
CliqueMusic – Em 1994, quando vocês três estavam com um projeto de mergulhar na cultura árabe para fazer uma ponte com o Nordeste brasileiro, vocês falavam não só em lançar um disco, como também um livro, que seria escrito pelo trio. A idéia morreu?
João Bosco – Esse livro viria de uma viagem que faríamos juntos à Síria – a origem do Waly –, e à região do Líbano, por ser a minha origem. Acontece que naquele momento em que a gente preparou a viagem, situações que independiam da vontade da gente não permitiram que essa viagem fosse feita. Tivemos com isso que esperar, e essa espera acabou prejudicando a agenda de todos. Quando um podia, o outro não. Enfim, essa idéia acabou ficando cada vez mais distante. O disco As Mil e Uma Aldeias foi lançado, e o livro infelizemente foi adiado. Era um projeto que envolveria as influências árabes de cada um. O Antônio Cícero não tinha muito a ver com esse mundo árabe, mas por ser um nordestino, ele com certeza acabaria tendo muito a ver.
CliqueMusic – João Bosco, você já está em turnê pela Europa desde o final do mês de junho. Quais foram os países por onde você e seus músicos passaram?
João Bosco – Nós fizemos Portugal, depois Suécia, Itália, França, Ilha de Malta, Ilha da Madeira – onde eu nunca havia estado antes –, e agora a Alemanha. É um tipo de turnê que a gente sempre faz no verão europeu. Todo mundo nesta época está muito alegre por aqui, todos despojados, e há um clima propício para se fazer um trabalho de uma certa maneira descontraído, percussivo, algo que se identifica muito com o que eu faço.
CliqueMusic – Quando foi que você tocou aqui na Europa pela primeira vez?
João Bosco – Foi no ano de 1983, quando eu fui fazer o Festival de Montreux, na Suíça, onde nós tivemos uma noite brasileira que era com Caetano Veloso, Ney Matogrosso e eu. Uma noite que inclusive acabou dando em disco ao vivo. A partir daí, eu venho sistematicamente à Europa, não só no verão, como em outras épocas do ano também. Em 2001, por exemplo, já devo vir em março, desta vez acompanhado do pianista cubano Gonzalo Rubalcaba, com quem eu já trabalhei no Brasil este ano algumas vezes. Em março, estaremos então fazendo esta turnê aqui pelo continente.
CliqueMusic – No caso, já tocando o repertório deste seu novo disco, que está para sair agora em agosto, não é?
João Bosco – É, com certeza!
CliqueMusic – Você poderia adiantar para a gente como será este novo álbum? Você vem novamente com parcerias suas com seu filho Francisco?
João Bosco – Esse é um disco em que eu venho inteirinho de novo com o Francisco, pois afinal é o segundo trabalho que a gente grava e ele é um jovem que tem um interesse enorme pela música brasileira, pela poética brasileira, com essa garra estimulante, própria da juventude dele. Estou investindo neste novo trabalho e acho que já fui correspondido, porque ele cresceu muito, se soltando mais ainda. O disco tem o título de Na Esquina, exatamente por ser a esquina um espaço que é próprio de um artista como eu. Um lugar indefinido, por não ser resultante de uma única via. Acho que há nele uma identificação muito grande com o Brasil, já que a nossa cultura tem origem num encontro de vias.
O disco é um trabalho que evoca muito a minha memória e tem muito a ver com o Galos de Briga (1976), onde volto a trabalhar com grande orquestra, onde os arranjos e a produção são de Jacques Morelembaum, com quem eu já havia trabalhado antes no Benguelê (1998), a trilha-sonora que eu fiz para o Grupo Corpo. Foi nesse encontro com o Jaquinho que a gente praticamente decidiu que faria outro projeto juntos. Neste novo disco, eu trabalho com muitos instrumentos, coisa que eu não fazia desde o Zona de Fronteira (1991). Ele é, portanto, o encontro das vias que são o Galos de Briga, o Zona de Fronteira, o Dá Licença, Meu Senhor (1995), com o Benguelê e, naturalmente As Mil e Uma Aldeias (1997), quando eu trabalhei pela primeira vez com a poética do Francisco.
CliqueMusic – Quais os músicos que participam do Na Esquina?
João Bosco – Na percussão, temos Armando Marçal e, no baixo, o Zeca Assumpção, o Arthur Maia e o Jorge Helder. A bateria está entre o Téo Lima e Marcelo Costa, o piano com Cristóvão Bastos, Paulinho Calazans e esse menino que é o tecladista do Milton, o Kiko Continentino. Aliás, nós também estamos com o Lincoln Cheib na bateria, que também toca com o Milton. Já na guitarra, temos o Ricardo Silveira, o Jaquinho fazendo o cello em algumas canções, mas muitos instrumentistas, muitos! Uma orquestra. A ficha técnica do disco é muito numerosa.
CliqueMusic – Você é um dos maiores violonistas da música brasileira contemporânea. Já passou pela tua cabeça de lançar um disco puramente instrumental?
João Bosco – Às vezes eu penso, sim, em fazê-lo, e acho inclusive que, agora, isso está chegando mais perto de se tornar realidade. Tocando com o guitarrista Nélson Faria, nós dois temos conversado muito sobre o violão brasileiro. Nelsinho é uma pessoa que escreveu vários livros sobre o violão no Brasil, que fez um método publicado pela Lumiar... Mas antes tem o trabalho com o Gonzalo Rubalcaba, de piano e violão acústicos. Eu e ele ainda não sabemos se será um álbum de estúdio ou gravado ao vivo, mas é um trabalho que tem me fascinado muito.
Essa via cubana, através de um músico como o Gonzalo, que é um profundo conhecedor de música formal, mais a música jazzística dos Estados Unidos, essa via junto com a música brasileira têm nos proporcionado uma idéia excitante. Neste show que tenho feito pela Europa, eu faço até um encontro do Thelonius Monk com Tom Jobim via Round Midnight e O Amor em Paz, que eu acho que são dois mundos completamente afins.
CliqueMusic – Você pretende também continuar investindo em trilhas para balé?
João Bosco – Depois da experiência que tive com o Grupo Corpo, sim. Eu passei a prestar bastante atenção na música para a dança, para coreografias. Tenho visto, ouvido e acompanhado o trabalho de vários músicos que fizeram trilhas para espetáculos de dança.
CliqueMusic – Edu Lobo?
João Bosco – Não só do Brasil, mas também de músicos estrangeiros. Há um encontro agora do Phillip Glass com músicos africanos que é algo impressionante! Eu devo voltar a fazer música para dança, sim.
CliqueMusic – O álbum Zona de Fronteira é tido por muitos como o seu melhor trabalho nos últimos dez anos. Você continua compondo com Waly Salomão e Antônio Cícero?
João Bosco – Esse é um disco raro porque o encontro é muito raro. Waly e Cícero não haviam feito nada parecido com isso antes, nem depois. Acho que Zona de Fronteira é único. Às vezes eu me encontro com os dois, a gente faz projetos de, quem sabe, voltar a fazer algo novamente juntos, mas esse é um trabalho que já se concretizou. Creio que a probabilidade disso voltar a acontecer é muito difícil.
CliqueMusic – Em 1994, quando vocês três estavam com um projeto de mergulhar na cultura árabe para fazer uma ponte com o Nordeste brasileiro, vocês falavam não só em lançar um disco, como também um livro, que seria escrito pelo trio. A idéia morreu?
João Bosco – Esse livro viria de uma viagem que faríamos juntos à Síria – a origem do Waly –, e à região do Líbano, por ser a minha origem. Acontece que naquele momento em que a gente preparou a viagem, situações que independiam da vontade da gente não permitiram que essa viagem fosse feita. Tivemos com isso que esperar, e essa espera acabou prejudicando a agenda de todos. Quando um podia, o outro não. Enfim, essa idéia acabou ficando cada vez mais distante. O disco As Mil e Uma Aldeias foi lançado, e o livro infelizemente foi adiado. Era um projeto que envolveria as influências árabes de cada um. O Antônio Cícero não tinha muito a ver com esse mundo árabe, mas por ser um nordestino, ele com certeza acabaria tendo muito a ver.