Joel Nascimento, por Henrique Cazes

A trajetória de Joel, o maior chorão vivo - que completa este mês 65 anos -, é analisada pelo músico e pesquisador Cazes em texto inédito

Henrique Cazes
30/09/2002
O ramal de trens da Leopoldina criou em seu rastro uma sequência de subúrbios cariocas de especial vocação para a música. E foi na Penha, o mais musical dos subúrbios da Leopoldina, que nasceu no dia 13 de outubro de 1937 Joel do Nascimento.

Aos doze anos de idade Joel viveu a febre do sucesso de Brasileirinho e aos 15 foi estudar piano. Mais tarde embarcou no modismo do acordeon nas academias de Mario Mascarenhas, se especializando em tangos e boleros e criando o conjunto Joel e Seu Ritmo.

Ao atingir a maioridade, Joel foi estudar no Conservatório Brasileiro de Música com Max de Menezes Gil, estudo que prosseguiu por quatro anos e meio, até que o ouvido esquerdo parasse de funcionar com a otoesclerose. A esta altura Joel trabalhava meio expediente na Panair do Brasil e estudava à noite.

Quando parecia não haver mais perspectivas na área musical, Joel reencontrou o cavaquinho e passou a frequentar as rodas de Choro da casa do Oraci, até que um dia o dono da casa lhe deu de presente um bandolim. Nascia ali com mais de trinta anos de idade um bandolinista que iria mudar a história de seu instrumento.

A vida foi seguindo e Joel tocando aqui e ali. Depois de algum tempo os empregos em hospitais foram substituídos pelo de técnico em radiologia do Instituto Médico Legal, profissão que o próprio Joel sempre chamou de "fotógrafo de presunto".

Só em 74 Joel passou a atuar como profissional graças a iniciativa de João Nogueira que foi o produtor de seu primeiro Lp Chorando Pelos Dedos. O disco teve ótima vendagem e a ele se seguiram O Pássaro e Meu Sonho.

Quando sua carreira de solista atingia grande repercussão, Joel resolveu investir na Camerata Carioca, uma idéia sua batizada por Hermínio Bello de Carvalho e musicalmente iluminada por Radamés Gnattali. Entre 79 e 85, a Camerata gravou três discos instrumentais e fez memoráveis parcerias com Nara Leão, Elizeth Cardoso e Zezé Gonzaga. Em 88 Joel lançou um novo grupo o Sexteto Brasileiro, que contava entre outros com o autor dessas linhas no cavaquinho, Paulo Sérgio Santos no clarinete e Maurício Carrilho no violão. Com o Sexteto realizou vários concertos nos Estados Unidos com destaque para o do Central Park em 88 para cerca de cinco mil espectadores e na Universidade da Califórnia em Los Angeles, transmitido ao vivo costa a costa pela National Public Radio.

Nos últimos anos Joel tem atuado em parcerias com Paulo Moura e Paulinho da Viola, além de ter agenda regular de solista com orquestra, executando a Suíte Retratos e o Concerto para Bandolim de Radamés Gnattali. Gravou recentemente um disco com suas composições camerísticas para bandolim e piano e tem vários projetos para o futuro.

Ao completar sessenta e cinco anos, Joel continua na mesma Penha, vivendo com a simplicidade dos sábios e sendo considerado o maior intérprete vivo do Choro.