Jorge Ben Jor: cadê o novo do preferido da MPB?

Lembrado como referência musical por diferentes gerações de artistas ao longo do ano passado, o compositor há muito não grava disco próprio. O prometido CD de inéditas deve sair ainda em 2001, pela Universal Music

Tom Cardoso
11/01/2001
Por onde anda Jorge Ben Jor? Unanimidade entre todas as gerações de músicos brasileiros, que vão de Gilberto Gil até os rappers dos Racionais MCs, o compositor de Madureira anda sumido desde que lançou há três anos o CD Músicas Para Tocar em Elevador, um projeto conturbado e de pouco retorno de público. As suas poucas aparições em 2000 resumiram-se em discretas participações nos novos discos dos pagodeiros do Só Pra Contrariar (na faixa Balada da Noiteamostras de 30s) e Art Popular (em Quero Meu Dinheiroamostras de 30se Agamamouamostras de 30s) e dos rappers do Doctor MC’s (em O Céu é o Limite, que tem sample de Ive Brussel). Muito pouco para quem é gravado, regravado, sampleado por boa parte da MPB.

Se direitos autorais dessem dinheiro no Brasil, Ben Jor estaria multimilionário. Por aqui, só no ano passado, uma dezena de músicos de diferentes estilos gravou canções do Babulina em seus novos trabalhos. Entre eles, Caetano Veloso (Zumbiamostras de 30s), Gilberto Gil e Milton Nascimento (Xica da Silvaamostras de 30s), Marisa Monte (Cinco Minutos), Forróçacana (Menina Mulher da Pele Preta), Maurício Manieri (País Tropicalamostras de 30s), Sonic Junior (O Telefone Tocou Novamenteamostras de 30s), Wanda Sá e Bossa Três (Zazueiraamostras de 30s), Mundo Livre S/A (a inédita Mexe Mexeamostras de 30s) e Wilson Simoninha (Mas Que Nada e Bebete Vãobora).

Esta lista tão variada de fãs não chega a surpreender, já que Ben Jor sempre circulou à vontade entre os diversos segmentos da MPB. Freqüentou a turma da bossa nova e da jovem guarda, numa época em que fazer as duas coisas ao mesmo tempo era praticamente impossível. Foi venerado pelos tropicalistas; inventou o samba rock e ajudou a divulgar o soul e o funk no Brasil, o que explica o fato de ser tão querido pelos manos do rap.

Lançamento mundial
Músico da banda de Ben Jor há três anos e trombonista do grupo Funk Como Le Gusta, Tiquinho revela que em 2001 o compositor deve, enfim, lançar o seu disco de inéditas, fato que não ocorria desde 1995, quando saiu o álbum Homo Sapiens. Segundo Tiquinho, uma gravadora multinacional (a assessoria de imprensa do artista confirmou que as negociações com a Universal Music estão bem adiantadas) quer iniciar um intenso trabalho de divulgação do compositor no exterior, onde ele tem gozado de maior prestígio do que no Brasil. "A idéia é lançar o CD simultaneamente nos EUA, na Europa e no Japão", diz o trombonista.

O provável contrato assinado com uma multinacional pegou de surpresa alguns amigos e conhecidos de Ben Jor, que apostavam na criação de um novo selo, bancado pelo próprio artista. Na sua última gravadora, a Sony Music, o músico só teve problemas e acabou rompendo contrato depois de várias brigas com diretores artísticos. "O Músicas Pra Tocar em Elevador é um CD irregular, mal gravado e produzido", afirma Eduardo Bidlovski, o BiD, que trabalhou no disco como produtor da faixa Charles Jr.amostras de 30s, que teve participação da Nação Zumbi. "A idéia era genial: juntar no mesmo estúdio o Jorge e grandes convidados, Paralamas, Barão, Skank, com um repertório não tão conhecido. Mas acabou dando tudo errado".

Segundo BiD, o disco começou a desandar depois da desistência de Marisa Monte, que já estava escalada para cantar uma das faixas. "A Marisa marcou com o Jorge no estúdio e ele acabou não indo. Conclusão: ‘para não ficar mal com a Marisa’, o Jorge decidiu também não gravar ao vivo com os outros convidados e o CD perdeu toda a magia, com cada um gravando sua parte para depois o Jorge colocar sua voz", relembra o produtor, que não esconde sua decepção com o resultado da faixa Charles Jr.

"O Nação tinha acabado de perder Chico Science (vocalista da banda, morto num acidente de carro em 1997) e o Jorge (Du Peixe) ainda estava super inseguro para assumir os vocais. Foi decidido que ele apenas faria uma voz-guia só para o Ben Jor ter noção do andamento da canção. Inexplicavelmente, o Ben Jor adorou a voz do Du Peixe e decidiu mantê-la no disco, sem a nossa aprovação".

Jorge Ben x Jorge Ben Jor
Fã doente da fase antiga de Jorge Ben, muito antes de ele decidir mudar o nome artístico para Ben Jor (em 1989), BiD sonha em produzir um disco com o ídolo tocando apenas violão. O projeto, idealizado junto com Mario Caldato Jr. (produtor do grupo norte-americano Beastie Boys e do Planet Hemp) chegou a sair do papel, mas acabou arquivado depois da crise cambial em 1999. "É mais um desejo de fã mesmo. Pois entendo que o Jorge chegou numa fase da vida dele que ele tem o direito de fazer o que quiser", diz BiD, que chegou a ouvir boa parte do disco inédito do compositor.

"Esse álbum rodou por várias gravadoras no ano passado. Cheguei a ouvi-lo e me interessei por pouca coisa, entre elas a canção Mexe Mexe, gravada no último disco do Mundo Livre S/A, produzido por mim. Tá tudo muito parecido com o que ele tem feito nos últimos anos, como W/Brasil e Alcohol. Acho difícil ele largar esse lado Joe Satriani (o virtuose guitarrista norte-americano) dele e voltar ao violão", lamenta.

Leandro Lehart, líder do Art Popular, conta ter ouvido de Ben Jor, durante as gravações do Acústico MTV de sua banda, a explicação para ele ter adotado a guitarra elétrica em certo ponto da carreira. "Ele me disse que isso aconteceu numa época em que fazia muito show e não conseguia ouvir o violão. Depois, acabou se acostumando com a guitarra e não voltou mais", diz. João Parahyba, do Trio Mocotó, grupo que acompanhou Ben Jor nos anos 60 e 70 (e que em breve deve lançar novo disco pela gravadora Y/Brazil), aposta que o autor de Charles, Anjo 45 vai voltar ao seu velho instrumento. "Até a Domingas, a mulher de Jorge, já pegou no pé dele para ele tocar violão", brinca Parahyba. "Esse é o lado mais querido dele tanto aqui como lá fora. Uma álbum como Força Bruta (1970) é difícil de esquecer".

Já para Wilson Simoninha, que junto com o irmão Max de Castro prepara uma nova versão para País Tropical, este tipo de discussão é uma grande bobagem. "Para mim, o que o Jorge Ben fizer está bom. Gosto de tudo que ele fez e faz. É uma fonte inesgotável de boa música e ponto final". Leandro Lehart assina em baixo: "Ele é um cara que não pode ficar de fora do mercado, ele representa muito para a música brasileira. Para muita gente da periferia, ele é Deus. Ben Jor é o Tom Jobim desse pessoal", sentencia.