Jorge Vercilo: aposta com os pés no chão

Cantor e compositor lança seu quarto disco, Elo, depois de atingir o sucesso em 2001 com a música Leve

Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
06/05/2002
O cantor e compositor Jorge Vercilo já suou muito a camisa para se firmar no mercado musical. "Comecei na noite, tocando em bares do Rio, quando tinha 18 anos. Participei de festivais, ganhei alguns, fiz faculdade de jornalismo, mas não segui a profissão - minha meta sempre foi a de compor e cantar", resume Vercilo. Agora ele chega ao seu quarto CD, Elo ouvir 30s (EMI), se mostrando um artista maduro e ciente de todas as dificuldades da profissão. O novo disco vem no embalo do primeiro sucesso de grande porte de Vercilo, a música Leve, que projetou a carreira do compositor no ano passado.

Depois do estouro de Leve o quarto disco de Jorge Vercilo transformou-se na grande aposta da EMI no mercado da MPB, num momento delicado para a gravadora (que passa por uma crise internacional e dispensou há pouco mais da metade de seu cast brasileiro). "A gravadora realmente maximizou o meu trabalho. Mas mantenho os pés no chão. Sei que o sucesso duradouro só vem depois de muito esforço e nesse ponto eu tenho estrada", diz o compositor.

A situação atual contrasta com os rumos que Jorge trilhava há cerca de dois anos, quando lançou o álbum Leve ouvir 30s de forma independente e auto-bancada. "Naquela época eu agia como empresário de mim mesmo: ia pessoalmente às rádios e lojas mostrar o trabalho. Cheguei a vender 10 mil cópias, isso antes do sucesso na novela. Mas o que deslanchou mesmo foi a execução na JB FM (rádio carioca especializada em MPB) e o show - lotado - que banquei no Canecão. Isso chamou a atenção das gravadoras, que começaram a me procurar", conta o cantor. Vercilo vinha de uma estadia de cinco anos na Continental, tendo gravado dois discos (Encontro das Águas, de 93, e Em Tudo o que É Belo, de 96). "Foram trabalhos ótimos, verdadeiros, mas a gravadora não conseguiu fazer uma boa divulgação. Parti então para o caminho independente", diz o compositor.

Vercilo faz questão de dividir com os amigos as lições tiradas da empreitada independente: "Aprendi a negociar com o mercado. Tenho aquele lirismo de pegar o violão, tocar, compor, é lógico. Mas também sei de todos os custos de um disco, de sua divulgação. Eu procuro passar essa experiência para o pessoal que está começando e lembro sempre que hoje, o artista precisa se fazer conhecido, e não esperar que alguém o descubra".

Elo vem para reforçar o foco principal da carreira de Vercilo, que, segundo o próprio, é "o ineditismo e a aposta em músicas próprias." Todas as faixas (exceto No Reino das Águas Claras, da trilha sonora do Sítio do Pica-pau Amarelo) são inéditas e de sua autoria, sozinho ou com parceiros. "Isso não é um desrespeito com o que já foi feito, mas acho que a melhor maneira de valorizar os grandes nomes da MPB é criar um trabalho inédito, sob suas influências ou não. Acho que regravação é nociva, dá a sensação de mesmice. Eu, como público, sempre estou à procura de ouvir coisas novas", opina.

O CD tem 14 faixas, cinco com parceiros - Do Jeito que For, com Marcelo Miranda; Suspense, com Zeppa; Celacanto, com Jota Maranhão; Fênix, com Flávio Venturini e Olhos de Nunca Mais, com Bráulio Tavares. "Conheci o Flávio há alguns anos, eu já havia escrito Telepatia com ele. Zeppa, além de tocar na minha banda, é meu parceiro em Leve e Em Órbita.

Vercilo continua a falar sobre as parcerias: "Bráulio (Tavares) eu conheci na casa da Elba, mandei a melodia, ele fez a letra, eu mexi um pouco, ele fez o acabamento, devolveu e assim Olhos de Nunca Mais ficou pronta", explica. Vercilo lembra que essa música não estava prevista para entrar no disco: "O Torcuato Mariano (da EMI) me infernizou - no bom sentido! - até que eu a colocasse no repertório. Isso é bem interessante, um diretor artístico insistir para incluir uma música tão rica na melodia e hermética na letra", ressalta.

Produzido por Paulo Calazans, o disco retrabalha a sonoridade com a qual os fãs do cantor já estão acostumados. Arranjos basicamente acústicos, privilegiando o violão e a voz de Vercilo - que, tanto no estilo de compor quanto no timbre vocal e na batida do violão, não esconde a influência de Djavan. As frequentes comparações não aborrecem Vercilo. "Encaro com naturalidade. Já provei que meu trabalho tem vida inteligente além das influências e, a cada disco, coloco mais minha personalidade", diz o cantor. Djavan, aliás, deu seu aval a Vercilo participando de seu álbum anterior.