Jorge Vercilo: um final feliz para a primeira década de carreira

Depois de muita batalha, o cantor-compositor de estilo próximo ao de Djavan emplaca duas músicas na parada e comemora o sucesso reestreando show no Teatro Rival (RJ)

Rodrigo Faour
25/04/2001
Depois de quase dez anos na estrada, cantando e tocando seu violão na noite, Jorge Vercilo finalmente está saboreando o sucesso. Depois de lançar dois CDs pouco divulgados pela gravadora Continental, ele arregaçou as mangas e virou seu próprio empresário e produtor. Gravou um CD independente (Leve amostras de 30s) e o foi divulgando em diversos estados por conta própria. Resultado: suas canções começaram a ser executadas, principalmente no Nordeste, chamando a atenção das grandes fábricas. Este ano, a EMI o contratou e relançou o CD, pegando carona no sucesso da música Final Feliz ouvir 30s.

Nas rádios de segmento MPB, a canção - que ele gravou em duo com Djavan, sua principal influência - ficou entre as cinco mais tocadas em todo o Brasil, chegando ao primeiro lugar em muitas capitais. E ela será, por sinal, regravada pelos pagodeiros do Só Pra Contrariar em seu próximo disco, Acústico, num dueto do vocalista Alexandre Pires com ninguém menos que Caetano Veloso. Envaidecido com o reconhecimento, Jorge Vercilo começa hoje uma temporada de suas semanas no Teatro Rival (Rio de Janeiro), onde havia se apresentado com sucesso em novembro do ano passado.

Segundo o cantor e compositor, a razão de seu sucesso é a sinceridade que sempre pontuou seu trabalho. "Estou na batalha há muitos anos, mas mesmo nos meus dois primeiros discos tive a sorte de gravar minha verdade, porque nem todo artista consegue isso. Sempre fui cantor e compositor e meu sonho era o de gravar minhas próprias músicas, do meu jeito", explica ele, que já teve cinco canções incluídas em temas de novelas da TV Globo. Encontro das Águas entrou em Mulheres de Areia, Praia Nua em Tropicaliente, Raios da Manhã foi incluída na minissérie O Fim do Mundo e Infinito Amor na trilha de A Indomada. Já a canção Um Segredo e um Amor foi gravada especialmente para a novela Cara ou Coroa. Além do mais, Jorge participou ano passado do Festival da Música Brasileira com a canção Amanheceu.

Apesar de ser sempre comparado a Djavan, pelo timbre e forma de compor, ele diz que suas influências se estendem a nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento. "Comecei a me ligar em música por causa do Djavan e desde então comecei a compor, cantar e tocar violão. Quando comecei profissionalmente, ele sempre me recebeu com muita atenção. Ele me disse duas coisas que eu nunca esqueci. Uma delas foi: 'Se você quer vencer, tem que se esforçar e lutar muito, porque a fama é divina mas temos que fazer por merecê-la mais do que os outros.' A outra foi: 'Componha sempre mais, porque é sempre um aprendizado muito bom'. Ouvir esses conselhos foi muito importante", conta.

Canções de apelo gay
Por tudo isso, no ano passado, quando estava com material para gravar o CD Leve, ele mostrou as músicas a Djavan, que acabou se interessando por Final Feliz e aceitou o convite de Vercilo para dividir os vocais nesta faixa. Os versos da canção - "Chega de fingir/ Eu não tenho nada a esconder (...) Pode me abraçar sem medo/ Pode encostar sua mão na minha" - sugeriram várias interpretações, entre as quais, a de que ela seria uma declaração de amor gay (afinal, ela é cantada por dois homens).

"Fiz a música falando de duas pessoas com medo de assumir um sentimento. Tenho amigos homossexuais que realmente já tinham feito a associação, mas a letra não foi escrita com essa intenção", explica-se Jorge. "Mas nesse mesmo disco tem uma música chamada Avesso, que realmente fala do amor gay, em homenagem a um produtor meu, Ricardo Camilo, que já faleceu. Por acaso, Avesso fez sucesso no Nordeste antes de Final Feliz e alguns amigos pensaram até que fosse uma continuação. Mas acho maravilhoso que o homossexual também se identifique com meu trabalho. Mesmo sendo hetero, acho legal falar desses assuntos porque o ser humano tem que conviver com as diferenças", ensina.

Apesar das freqüentes comparações com o ídolo Djavan, Vercilo já foi tranqüilizado por produtores como Mariozinho Rocha, que lembrou ter sido o próprio Djavan vítima de comparações no começo da carreira. "Quando ele surgiu, muita gente que ainda não o conhecia o comparava a Gilberto Gil. Tem até cantores que não transparecem tanta influência, mas esse processo é natural. O Mariozinho me disse que eu tenho influência de pessoas ótimas e que não sou uma mentira. Que gradativamente vou conseguir tomar meu rumo", diz. Para Vercilo, o dia em que o público o conhecer melhor, as comparações irão terminar.