Katrina Geenen: uma embaixadora da MPB em New Orleans

Produtora e apresentadora que apresenta programa de rádio há 20 anos garimpa pérolas entre veteranos e alternativos da música brasileira

Carlos Calado
05/05/2001
NEW ORLEANS — Na cidade mais famosa do estado da Louisiana (EUA), que muitos consideram ter sido o "berço do jazz", a produtora e apresentadora Katrina Geenen é conhecida como uma embaixadora informal do Brasil. Apaixonada pela música popular brasileira, essa norte-americana nascida na Pensylvania exibe as últimas novidades da MPB no programa Tudo Bem, que a rádio pública WWOZ FM transmite aos sábados. Sua dedicação mereceria estar no livro dos recordes. Afinal, Katrina tem feito esse trabalho há duas décadas sem ganhar um centavo. "Todos que trabalham na rádio são voluntários. Faço isso pelo amor que tenho por essa música", diz ela.

Para comemorar os 20 anos de seu programa, no ano passado, a produtora realizou um projeto especial: passou dois meses no Rio de Janeiro produzindo 11 programas de duas horas de duração. Dividindo a apresentação com a cantora Ryta de Cassia (ex-Peixoto) e com o pianista e produtor Carlos Fuchs, Katrina exibiu trabalhos – muitas vezes inéditos – não só de veteranos como Nelson Sargento, Wilson das Neves e Lucia Turnbull, mas especialmente de uma talentosa e alternativa geração de cantores e compositores cariocas, como Mathilda Kóvak, Suely Mesquita, Betti Albano, Paulo Bahiano, Marcos Sacramento, Dil Fonseca, Rodrigo Maranhão e a banda feminina TPM, além dos mais conhecidos Toque de Prima e Pedro Luís e a Parede.

"Minha missão era descobrir a música independente do Rio de Janeiro", conta a produtora, que conheceu o casal Ryta e Fuchs por acaso, durante uma viagem anterior ao Rio, na passagem de 1998 para 1999. Dias depois, Katrina já estava hospedada na casa dos dois, no bairro de Santa Tereza, onde também funciona o estúdio Tenda da Raposa, que serviu de base para a produção e gravação dos programas. "Eles logo se tornaram a minha turma", diz Katrina, que jamais poderia imaginar que essa viagem a levaria a retomar algo que não fazia há muito tempo.

Katrina chegou a cantar profissionalmente, em New Orleans, até o início da década de 80, pouco depois de estrear no rádio. "Comecei em San Diego, na Califórnia, ainda no início dos anos 70, cantando folk e tocando violão, principalmente em bares", diz ela, lembrando que seu repertório incluía canções de Bob Dylan e Woody Guthrie. "Eu já gostava de música brasileira, mas tinha dificuldade para tocá-la. Não era exatamente uma violonista", reconhece. "Parei de cantar por várias razões, mais que tudo por não aguentar a competição". Para se manter, passou a vender desenhos que já exibiu em algumas exposições (é bacharel em Artes formada por uma universidade do Texas), além de um empregos ocasionais como garçonete, em bares.

Atraídos pelo belo timbre vocal que Katrina exibe ao apresentar os programas, Ryta e Mathilda perceberam seu talento escondido. "Fui redescoberta no Rio", brinca a cantora, incentivada pelas novas amigas a gravar um álbum próprio, logo depois de fazer uma participação num CD de Mathilda, que ainda não foi lançado. "Gravei uma canção muito bonita, dela com Suely Mesquita, chamada A Billion For Your Thoughts. Mathilda diz que ela foi composta como uma escrita automática saída de Cole Porter. Ela escreveu essa canção na época em que viveu nos Estados Unidos", conta.

Assim nasceu o projeto de High and Low, o álbum de estréia de Katrina Geenen, que está sendo finalizado no Estúdio Cobaia, no Rio, com produção de Paulo Bahiano. No repertório, além de uma nova versão de A Billion For Your Thoughts, entraram outras nove canções com letras em inglês de Mathilda, como My Man Don´t Mind, Small Tragedy, Deconstructing Me, Resurrection e Accept My Love (esta em parceria com Suely Mesquita). A faixa-título, com letra em inglês, português e francês, é uma parceria de Mathilda com Paulo Bahiano. Das gravações também participaram Dil Fonseca (violão), Mathilda e Lucia Turnbull (vocais), além do próprio Bahiano (piano, teclados, percussão eletrônica e arranjos).

"Fizemos quase tudo nas duas última semanas que passei no Rio", diz Katrina, que já iniciou contatos para lançar o CD nos EUA por meio de algum selo alternativo. Ao mesmo tempo tem cultivado a idéia de voltar a se apresentar em bares e cafés. "As pessoas que conheço hoje nem sabiam que eu já tinha cantado antes", diverte-se, contando que também está procurando um violonista para acompanhá-la, em New Orleans. "Na verdade, a minha banda está no Rio", diz a norte-americana, referindo-se a Mathilda, Bahiano e seus outros parceiros cariocas, que já a incentivaram a lançar o CD no Brasil. "Acho que as coisas mudaram, é uma época nova para mim. Não me importo mais com a competição. Se algumas pessoas não gostarem, tudo bem", diz a representante extra-oficial da música brasileira nos EUA.

Quem quiser ouvir o Tudo Bem, programa de Katrina que vai ao ar aos sábados, das 16h às 18h (horário de Brasília), pode sintonizar a WWOZ FM pela Internet, no site www.wwoz.org.