Kid Abelha: em busca da onda perfeita
Banda carioca estréia na Universal Music com o disco Surf e diz esperar por melhores condições de divulgação para que suas músicas sejam sucessos
Silvio Essinger
15/05/2001
Ao lançar Surf , seu primeiro disco pela Universal Music, talvez o Kid Abelha não imaginasse que fosse mergulhar tão profundamente no tema. Durante uma sessão de fotos na praia do Arpoador (RJ), pouco antes da entrevista coletiva, o mar mau humorado, em tarde de ressaca, inesperadamente colheu os três músicos – Paula Toller, George Israel e Bruno Fortunato – como se fossem surfistas de primeira marola. "Fomos pegos pelas ondas ao invés de pegá-las", contou George, já de roupa seca. A idéia da banda ao abraçar esse conceito em seu primeiro disco de inéditas desde Autolove (98) definitivamente não era a de tomar caldo. "O surfista é a idéia utópica de felicidade. Ele pega onda, desafia o mar e é feliz sozinho. Originalmente, o disco ia se chamar Inveja do Surf", revelou Paula.
Ao assinar com a Universal por três discos, depois de 18 anos (ou seja, toda a sua carreira até então) na Warner, o Kid tinha como ponto pacífico a decisão de fazer um disco só de músicas novas e não um Acústico cheio de hits (coisa que eles fizeram em 94, no disco Meio Desligado ). "A gente estava a fim de fazer um CD todo inédito – o que hoje em dia parece uma aberração", provoca Paula, que aliás se mostra bastante preocupada com o painel atual da música brasileira: "É tanta regravação de si próprio, de Roberto Carlos, Tim Maia e Jorge Ben Jor que daqui há 20 anos não se vai ter músicas para regravar."
A banda saiu da Warner deixando como últimos produtos o disco Coleção (do ano passado, com faixas que estavam espalhadas por outros discos) e a coletânea E-Collection (para a qual gravou três faixas adicionais). "A gente fechou um ciclo na gravadora", diz George. Mas nem tudo foi tranqüilo nessa saída. "Não recebemos uma cópia sequer da E-Collection do Kid", denuncia Paula. "Tive que ler no jornal para saber como ele era." A banda diz esperar da Universal Music um trabalho mais eficiente de promoção, que faça seus discos venderem mais. "Não adianta ter músicas que podem ser hits se elas não viram hits", reconhece a vocalista.
No meio da confusão dos últimos três anos, Paula resolveu deixar de lado as letras feitas logo após Autolove – só ficou a de Solidão, Bom Dia!. O restante de Surf foi todo composto ano passado. "Minha vida mudou em 2000. Achei melhor começar tudo de novo", diz ela, que aproveitou muitas anotações que tinha feito ao percorrer a cidade nas suas letras. Em uma delas, a de Gávea-Posto 6, ela canta: "Depois da chuva na Lagoa/ Sombras e silêncios no meu coração/ Hoje o rádio está disposto a me matar". Nada contra a programação das emissoras, ressalva Paula. Matar, sim, mas de alegria com boas surpresas, enquanto se navega pelo dial ao sabor do acaso. "Prefiro ouvir rádio, porque até o random do CD é viciado!", brinca a vocalista.
Repertório para show
Uma das preocupações do Kid Abelha em Surf, conta George Israel, foi recuperar o punch do ao vivo, depois de um Autolove cheio de músicas sofisticadas (até Egberto Gismonti tocou!) que não puderam ser reproduzidas nos shows: "O Kid é uma banda de estrada. Uma das motivações para fazer esse disco era poder renovar o nosso show." Por falar nisso, em julho a banda estará de volta aos palcos com o novo espetáculo, que trará muita coisa do novo disco, mas também "uma porção de sucessos", como adianta Paula.
Nesse "começar de novo", o Kid Abelha também quis dar uma renovada na sua carteira de colaboradores. Quem estréia em trabalhos com a banda em Surf é Max de Castro, de quem o trio tinha ouvido o disco de estréia, Samba Raro . Segundo George, ele foi a pessoa ideal para ativar o "departamento soul" do Kid Abelha, no qual "a banda nunca conseguira atingir o máximo". Max acabou produzindo duas faixas: 10 Minutos e Solidão, Bom Dia!
Ano que vem, quando o Kid provavelmente estará correndo o país com o show de Surf, serão completados os 20 anos da sua primeira gravação: duas faixas no pau-de-sebo Rock Voador, Distração e Vida de Cão é Chato Pra Cachorro. "Vamos comemorar esse aniversário, sim", garante Paula, lembrando que foi justamente ali, no Arpoador, que o Circo Voador se instalou 20 anos atrás – lá, onde o Kid faria seus primeiros shows. Num deles, recorda-se a vocalista, a banda tocou uma versão de 20 minutos de Pintura Íntima, com um Celso Blues Boy, de chapéu, solando alucinadamente. "Tinham uma 50 pessoas no palco", diverte-se ao lembrar.
Paula é sincera ao descrever os primeiros dias do então Kid Abelha & Seus Abóboras Selvagens: "A gente era amador. Não existia essa idéia de disco, de empresário. A gente ia fazendo à medida que as coisas iam aparecendo." George acrescenta: "O Kid tinha um formato estranho. Na época não existiam muitas bandas pop, só de rock. Nosso parentesco era com a Blitz e a Gang 90 e Absurdetes. E o pop era associado com armação." Nessa, a vocalista logo arremata, para finalizar a sessão nostalgia: "O curioso é que hoje até os rocks mais pesados viraram armação!"
Ao assinar com a Universal por três discos, depois de 18 anos (ou seja, toda a sua carreira até então) na Warner, o Kid tinha como ponto pacífico a decisão de fazer um disco só de músicas novas e não um Acústico cheio de hits (coisa que eles fizeram em 94, no disco Meio Desligado ). "A gente estava a fim de fazer um CD todo inédito – o que hoje em dia parece uma aberração", provoca Paula, que aliás se mostra bastante preocupada com o painel atual da música brasileira: "É tanta regravação de si próprio, de Roberto Carlos, Tim Maia e Jorge Ben Jor que daqui há 20 anos não se vai ter músicas para regravar."
A banda saiu da Warner deixando como últimos produtos o disco Coleção (do ano passado, com faixas que estavam espalhadas por outros discos) e a coletânea E-Collection (para a qual gravou três faixas adicionais). "A gente fechou um ciclo na gravadora", diz George. Mas nem tudo foi tranqüilo nessa saída. "Não recebemos uma cópia sequer da E-Collection do Kid", denuncia Paula. "Tive que ler no jornal para saber como ele era." A banda diz esperar da Universal Music um trabalho mais eficiente de promoção, que faça seus discos venderem mais. "Não adianta ter músicas que podem ser hits se elas não viram hits", reconhece a vocalista.
No meio da confusão dos últimos três anos, Paula resolveu deixar de lado as letras feitas logo após Autolove – só ficou a de Solidão, Bom Dia!. O restante de Surf foi todo composto ano passado. "Minha vida mudou em 2000. Achei melhor começar tudo de novo", diz ela, que aproveitou muitas anotações que tinha feito ao percorrer a cidade nas suas letras. Em uma delas, a de Gávea-Posto 6, ela canta: "Depois da chuva na Lagoa/ Sombras e silêncios no meu coração/ Hoje o rádio está disposto a me matar". Nada contra a programação das emissoras, ressalva Paula. Matar, sim, mas de alegria com boas surpresas, enquanto se navega pelo dial ao sabor do acaso. "Prefiro ouvir rádio, porque até o random do CD é viciado!", brinca a vocalista.
Repertório para show
Uma das preocupações do Kid Abelha em Surf, conta George Israel, foi recuperar o punch do ao vivo, depois de um Autolove cheio de músicas sofisticadas (até Egberto Gismonti tocou!) que não puderam ser reproduzidas nos shows: "O Kid é uma banda de estrada. Uma das motivações para fazer esse disco era poder renovar o nosso show." Por falar nisso, em julho a banda estará de volta aos palcos com o novo espetáculo, que trará muita coisa do novo disco, mas também "uma porção de sucessos", como adianta Paula.
Nesse "começar de novo", o Kid Abelha também quis dar uma renovada na sua carteira de colaboradores. Quem estréia em trabalhos com a banda em Surf é Max de Castro, de quem o trio tinha ouvido o disco de estréia, Samba Raro . Segundo George, ele foi a pessoa ideal para ativar o "departamento soul" do Kid Abelha, no qual "a banda nunca conseguira atingir o máximo". Max acabou produzindo duas faixas: 10 Minutos e Solidão, Bom Dia!
Ano que vem, quando o Kid provavelmente estará correndo o país com o show de Surf, serão completados os 20 anos da sua primeira gravação: duas faixas no pau-de-sebo Rock Voador, Distração e Vida de Cão é Chato Pra Cachorro. "Vamos comemorar esse aniversário, sim", garante Paula, lembrando que foi justamente ali, no Arpoador, que o Circo Voador se instalou 20 anos atrás – lá, onde o Kid faria seus primeiros shows. Num deles, recorda-se a vocalista, a banda tocou uma versão de 20 minutos de Pintura Íntima, com um Celso Blues Boy, de chapéu, solando alucinadamente. "Tinham uma 50 pessoas no palco", diverte-se ao lembrar.
Paula é sincera ao descrever os primeiros dias do então Kid Abelha & Seus Abóboras Selvagens: "A gente era amador. Não existia essa idéia de disco, de empresário. A gente ia fazendo à medida que as coisas iam aparecendo." George acrescenta: "O Kid tinha um formato estranho. Na época não existiam muitas bandas pop, só de rock. Nosso parentesco era com a Blitz e a Gang 90 e Absurdetes. E o pop era associado com armação." Nessa, a vocalista logo arremata, para finalizar a sessão nostalgia: "O curioso é que hoje até os rocks mais pesados viraram armação!"