Lágrimas incontroláveis na volta do Rei
Depois de meses isolado por causa da morte da mulher, Roberto Carlos estréia em Recife o show Amor Sem Limite. Tomado por fortes emoções, que embargaram sua voz, o cantor apresentou duas músicas do novo disco, que será todo dedicado a Maria Rita
Débora Nascimento
12/11/2000
RECIFE – “Eu era feliz e não sabia”, conclui Roberto Carlos ao se deparar com imagens suas da época da Jovem Guarda, exibidas no telão ao lado do palco, no rumoroso show que marcou seu retorno à vida artística, na noite de sábado, no Geraldão (o Ginásio Geraldo Magalhães, no bairro da Imbiribeira, em Recife). Mas não demorou muito para que a mesma tela também apresentasse fotos de Maria Rita, a esposa do artista, falecida em dezembro passado – o motivo pelo qual o cantor ingressou na reclusão total. Nesse momento, o Rei caiu em lágrimas, pela quarta vez, diante do público e das câmeras.
A primeira delas aconteceu na tarde do mesmo dia, ao final da entrevista coletiva, no Sheraton Hotel, no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, cidade da região metropolitana do Recife. O Rei contava como estava superando a perda da esposa. “É como diz a própria música (a nova Amor Sem Limite, que dá título ao show): ‘Vivo por ela, ninguém duvida/ porque ela é tudo na minha vida.’”
As outras vezes em que se emocionou aconteceram também ontem durante a apresentação no Geraldão. Na entrevista, o artista avisara que ainda chorava muito a morte de Maria Rita. “Isso atrapalhou um pouco as gravações, porque quando você chora, a voz se modifica, então tem que esperar voltar ao normal. Ainda não estou preparado para retomar a vida artística”, confessou. “Mas preciso fazer força para estar bem. O contato com o público vai ser muito importante”, enfatizou.
Aliás, Roberto Carlos revelou que há um motivo especial para essa volta ser testemunhada pela platéia recifense. “Recife foi a primeira cidade onde fiz meu primeiro show após o sucesso do segundo disco (Splish, Splash). O Geraldão tem me dado muita alegria. Pensei em Cachoeiro do Itapemirim (município capixaba onde nasceu em 19 de abril de 1941), mas optei por Recife”, explica.
Uma vez escolhido o local para o retorno, a Sony, tradicional gravadora de Roberto Carlos, montou o esquema da entrevista coletiva. Nela, foram apresentadas duas canções inéditas do Rei: Tu És a Verdade, Jesus e Amor Sem Limite, que estreiam nas rádios nesta segunda-feira. Com escancarado tema religioso, a primeira tenta repetir o apelo popular que teve Nossa Senhora. A outra é um country de refrão pegajoso, repetido à exaustão: “Vivo por ela, ninguém duvida/ porque ela é tudo na minha vida”.
“Nunca pensei em me tornar sacerdote”
Após a execução das músicas, às 16h, irrompe o artista na sala da entrevista. Trajado com calça e camisa jeans azul claro e com os cabelos tingidos em camadas de tinta preta (para dar o visual grisalho), o Rei cumprimentou os jornalistas com um “muito obrigado por tudo”. Uma de suas primeiras respostas contrariou os boatos surgidos por causa de seu isolamento: “Nunca pensei em me tornar sacerdote.” O cantor também negou que seu aguardado Songbook esteja engatilhado para o próximo ano, durante as comemorações de seus 60 anos de idade. “Ainda estou sem tempo”, justificou-se.
Por enquanto, o que está certo mesmo é o disco de inéditas, que chega às lojas no próximo dia 25, e o lançamento do site www.robertocarlos.art.br. A página do compositor na Internet vai trazer sua biografia, músicas, especiais da TV Globo, depoimentos de amigos, entrevistas, imagens de clipes, os singles de todos os discos e uma seção de compras, na qual serão vendidos artigos variados com a marca Roberto Carlos.
Já a biografia autorizada, também a ser lançada no início de 2001, está sendo preparada pelo jornalista Okky de Souza. “Ele é um grande amigo”, pontuou. O cantor também adiantou que no livro não haverá nenhuma revelação bombástica. “Todos conhecem minha biografia, não tem nada de mais.” Entre os temas polêmicos, com certeza, estará o acidente que o artista sofreu aos seis anos de idade, na linha do trem – quando teve que amputar parte de uma das pernas – e que o fez conviver até hoje com uma prótese.
O disco de canções sertanejas, produzido por Jaques Morelenbaum, pode sair no próximo ano, mas sobre ele Roberto Carlos não quis dar maiores detalhes. Já quanto ao CD que sai dia 25, o cantor adianta que ele não trará a bem-sucedida parceria com seu amigo Erasmo Carlos. “Estas não são letras que deveriam ter sido discutidas com outros parceiros”, argumenta, lembrando o fato de as canções serem totalmente autobiográficas – o disco é dedicado a Maria Rita.
Isso é apontado por Roberto Carlos como uma mudança em seu trabalho, sempre criticado como repetitivo. “Nesse disco só pensei em fazer um disco de amor, uma declaração de amor, que evitasse falar de coisas tristes. Ela quer isso. Em nenhum trecho amor rima com dor, mas pode haver alguma tristeza nas entrelinhas”, disse. Quando perguntaram o que ele gostava de ouvir ultimamemente, o cantor citou a gravação de Ivete Sangalo para “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”, parceria de Herbert Vianna e Paulo Sérgio Valle. Por sinal, Herbert havia oferecido recentemente uma música a Roberto – que ele recusou porque ela não estaria de acordo com o disco. De qualquer forma, o Rei disse considerar o líder dos Paralamas “um dos melhores compositores dessa nova safra”.
Montanha russa de emoções
Talvez pelo excesso de emoção, o espetáculo Amor Sem Limite tenha sido um pouco irregular. O início da apresentação, às 23h, com o ginásio totalmente abarrotado de fãs (cerca de nove mil pessoas), foi com o inconfundível medley de sua banda. Depois, o repertório revezava-se entre músicas alto astral e outras mais deprê.
Desta forma, Roberto emendou Outra Vez, de Isolda (só que interpretada no presente: “Você é...”), com Eu Te Amo, Eu Te Amo, Eu Te Amo, esta em arranjo semelhante ao da gravação original. Mal levantou a platéia, cantou em seguida a plácida Jovens Tardes de Domingo. Depois, fez um medley com os sucessos relativos a carros e à velocidade: Taxista, As Curvas da Estrada de Santos, Caminhoneiro, Por Isso Corro Demais, Parei na Contramão e O Calhambeque.
O Rei concluiu o show com Nossa Senhora, que gerou uma reação do público que Padre Marcelo Rossi conhece muito bem: de pé, a platéia cantava com os braços levantados pedindo redenção, ou com as mãos dadas em forma de oração. O final ainda teve Tu És a Verdade, Jesus, Essa Luz e Amor Sem Limite – nessa, mais uma vez os olhos do artista lacrimejaram. Resta saber se o Rei vai suportar tanta emoção nos próximos shows.
A primeira delas aconteceu na tarde do mesmo dia, ao final da entrevista coletiva, no Sheraton Hotel, no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, cidade da região metropolitana do Recife. O Rei contava como estava superando a perda da esposa. “É como diz a própria música (a nova Amor Sem Limite, que dá título ao show): ‘Vivo por ela, ninguém duvida/ porque ela é tudo na minha vida.’”
As outras vezes em que se emocionou aconteceram também ontem durante a apresentação no Geraldão. Na entrevista, o artista avisara que ainda chorava muito a morte de Maria Rita. “Isso atrapalhou um pouco as gravações, porque quando você chora, a voz se modifica, então tem que esperar voltar ao normal. Ainda não estou preparado para retomar a vida artística”, confessou. “Mas preciso fazer força para estar bem. O contato com o público vai ser muito importante”, enfatizou.
Aliás, Roberto Carlos revelou que há um motivo especial para essa volta ser testemunhada pela platéia recifense. “Recife foi a primeira cidade onde fiz meu primeiro show após o sucesso do segundo disco (Splish, Splash). O Geraldão tem me dado muita alegria. Pensei em Cachoeiro do Itapemirim (município capixaba onde nasceu em 19 de abril de 1941), mas optei por Recife”, explica.
Uma vez escolhido o local para o retorno, a Sony, tradicional gravadora de Roberto Carlos, montou o esquema da entrevista coletiva. Nela, foram apresentadas duas canções inéditas do Rei: Tu És a Verdade, Jesus e Amor Sem Limite, que estreiam nas rádios nesta segunda-feira. Com escancarado tema religioso, a primeira tenta repetir o apelo popular que teve Nossa Senhora. A outra é um country de refrão pegajoso, repetido à exaustão: “Vivo por ela, ninguém duvida/ porque ela é tudo na minha vida”.
“Nunca pensei em me tornar sacerdote”
Após a execução das músicas, às 16h, irrompe o artista na sala da entrevista. Trajado com calça e camisa jeans azul claro e com os cabelos tingidos em camadas de tinta preta (para dar o visual grisalho), o Rei cumprimentou os jornalistas com um “muito obrigado por tudo”. Uma de suas primeiras respostas contrariou os boatos surgidos por causa de seu isolamento: “Nunca pensei em me tornar sacerdote.” O cantor também negou que seu aguardado Songbook esteja engatilhado para o próximo ano, durante as comemorações de seus 60 anos de idade. “Ainda estou sem tempo”, justificou-se.
Por enquanto, o que está certo mesmo é o disco de inéditas, que chega às lojas no próximo dia 25, e o lançamento do site www.robertocarlos.art.br. A página do compositor na Internet vai trazer sua biografia, músicas, especiais da TV Globo, depoimentos de amigos, entrevistas, imagens de clipes, os singles de todos os discos e uma seção de compras, na qual serão vendidos artigos variados com a marca Roberto Carlos.
Já a biografia autorizada, também a ser lançada no início de 2001, está sendo preparada pelo jornalista Okky de Souza. “Ele é um grande amigo”, pontuou. O cantor também adiantou que no livro não haverá nenhuma revelação bombástica. “Todos conhecem minha biografia, não tem nada de mais.” Entre os temas polêmicos, com certeza, estará o acidente que o artista sofreu aos seis anos de idade, na linha do trem – quando teve que amputar parte de uma das pernas – e que o fez conviver até hoje com uma prótese.
O disco de canções sertanejas, produzido por Jaques Morelenbaum, pode sair no próximo ano, mas sobre ele Roberto Carlos não quis dar maiores detalhes. Já quanto ao CD que sai dia 25, o cantor adianta que ele não trará a bem-sucedida parceria com seu amigo Erasmo Carlos. “Estas não são letras que deveriam ter sido discutidas com outros parceiros”, argumenta, lembrando o fato de as canções serem totalmente autobiográficas – o disco é dedicado a Maria Rita.
Isso é apontado por Roberto Carlos como uma mudança em seu trabalho, sempre criticado como repetitivo. “Nesse disco só pensei em fazer um disco de amor, uma declaração de amor, que evitasse falar de coisas tristes. Ela quer isso. Em nenhum trecho amor rima com dor, mas pode haver alguma tristeza nas entrelinhas”, disse. Quando perguntaram o que ele gostava de ouvir ultimamemente, o cantor citou a gravação de Ivete Sangalo para “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim”, parceria de Herbert Vianna e Paulo Sérgio Valle. Por sinal, Herbert havia oferecido recentemente uma música a Roberto – que ele recusou porque ela não estaria de acordo com o disco. De qualquer forma, o Rei disse considerar o líder dos Paralamas “um dos melhores compositores dessa nova safra”.
Montanha russa de emoções
Talvez pelo excesso de emoção, o espetáculo Amor Sem Limite tenha sido um pouco irregular. O início da apresentação, às 23h, com o ginásio totalmente abarrotado de fãs (cerca de nove mil pessoas), foi com o inconfundível medley de sua banda. Depois, o repertório revezava-se entre músicas alto astral e outras mais deprê.
Desta forma, Roberto emendou Outra Vez, de Isolda (só que interpretada no presente: “Você é...”), com Eu Te Amo, Eu Te Amo, Eu Te Amo, esta em arranjo semelhante ao da gravação original. Mal levantou a platéia, cantou em seguida a plácida Jovens Tardes de Domingo. Depois, fez um medley com os sucessos relativos a carros e à velocidade: Taxista, As Curvas da Estrada de Santos, Caminhoneiro, Por Isso Corro Demais, Parei na Contramão e O Calhambeque.
O Rei concluiu o show com Nossa Senhora, que gerou uma reação do público que Padre Marcelo Rossi conhece muito bem: de pé, a platéia cantava com os braços levantados pedindo redenção, ou com as mãos dadas em forma de oração. O final ainda teve Tu És a Verdade, Jesus, Essa Luz e Amor Sem Limite – nessa, mais uma vez os olhos do artista lacrimejaram. Resta saber se o Rei vai suportar tanta emoção nos próximos shows.