Leandro Lehart: <i>Pimpolho</i>, nunca mais

O líder e compositor principal da banda de pagode Art Popular lança Solo, disco em que assume nova faceta musical: agora ele mistura black music e samba com sofisticação

Silvio Essinger
12/01/2001
"Quero a credibilidade artística que essa nova geração do samba não conseguiu e nem vai conseguir", fuzila o líder do Art Popular, Leandro Lehart. É assim mesmo, sem meias palavras, que ele se refere ao seu primeiro disco sem a banda, apropriadamente intitulado Solo (Virgin). Principal compositor do Art (e um dos maiores arrecadadores de direitos autorais do Brasil, graças a sucessos no campo do pagode como Temporal, Requebrabum e Agamamou), Leandro desce dos três seus milhões de discos vendidos para levar ao público da banda um pouco de sua sofisticação musical. Em Solo, definitivamente, não há nada que lembre antigos sucessos da banda do tipo de Amarelinha ou Pimpolho. "Hoje não me vejo mais compondo esse tipo de música", diz o músico de 28 anos de idade, que iniciou carreira aos 12.

Leandro conta que o seu disco solo vinha sendo concebido há uns três anos. Sempre que tinha um tempo livre do Art, ia gravando as músicas em seu estúdio caseiro (o mesmo em que produziu os últimos discos da banda), aos pouquinhos mas aplicadamente. Mas um dia, segundo ele, "não havia mais para onde ir". Assim, acabou sendo forçado a finalizar o Solo. A produção, ele dividiu com uma dos grandes talentos do soul-samba revelados este ano pela Trama: Max de Castro. Nada a se estranhar. "A gente ouviu as mesmas coisas e sempre foi meio pesquisador musical", conta. "Só que o Max faz parte do mundo alternativo e eu era de um outro esquema." Leandro, por sinal, admira o trabalho da Trama em prol da música brasileira de qualidade: "O que eles estão fazendo é resgatar o som lançado no Brasil durante os anos 60 e 70, principalmente em termos de música black. Tem muita coisa interessante sendo lançada por eles, mas o problema é que no país não existe uma cena alternativa."

Quem ouve Olhos, Valsa, Ela Disse Assim, entre outras faixas de Solo, vai perceber que Leandro agora está muito mais para o R&B que para o pagode. "Em São Paulo a black music convive muito bem com o samba. É Earth Wind & Fire com Fundo de Quintal", justifica-se. Outra influências perceptíveis no disco são do Jorge Ben Jor (na parte do samba-rock) e Djavan, nomes que o músico considera seus pilares musicais. Ele não nutre ilusões quanto à receptividade que esse disco solo possa ter entre o público do Art. "Não acho que possa competir com a banda. Existe um padrão de música do qual não dá para fugir."

O próximo disco do Art Popular sai em junho. Espera-se que ele repita o sucesso do último CD, o Acústico MTV (o primeiro feito pela emissora com uma banda de pagode), que saiu há cinco meses e já ganhou platina (mais de 250 mil cópias vendidas). Ainda envolvido com a turnê desse disco, Leandro não fará shows do seu trabalho solo. Mas o divulgará o quanto puder. "Ele é o caminho para muitos outros que virão", aposta.