Leonardo e Belo: astros populares na mira da lei

Cantor romântico e pagodeiro enfrentam, cada qual a seu modo, suas pendências com a Justiça

Marco Antonio Barbosa
15/12/2003
Rita Lee cantou, há muito tempo, que roqueiro brasileiro tinha cara de bandido. Mas não é bem "roqueiro" o perfil de dois astros da música brasileira que, neste fim de ano, se encontram em crescentes rolos com a lei. Os popularíssimos Belo (pagode romântico) e Leonardo (ex-sertanejo romântico, agora só romântico), cada qual com seu grau de gravidade, estão com problemas legais. Belo foi declarado legalmente foragido da justiça desde o dia 11 (última quinta-feira); na semana passada, o cantor foi condenado em segunda instância a oito anos de prisão por tráfico e associação para o tráfico de drogas. Já Leonardo pode ser acusado de homicídio culposo, por ter causado o acidente automobilístico que matou Sebastião Arantes (compadre do cantor) e deixou outros quatro feridos (dois em estado grave), no dia 17 de novembro. Se condenado, pode cumprir pena de dois a quatro anos.

Ambos os cantores se vêem em situações delicadas, pela pressão da mídia e por causa da ampla influência que possuem sobre uma imensa porcentagem da população. O caso de Belo é mais complexo, pois é parte da grave crise de segurança pública que assola o estado do Rio de Janeiro - causada principalmente pelo tráfico de drogas, com o qual o pagodeiro teria envolvimento. Já condenado a seis anos de prisão pela mesma acusação, em dezembro do ano passado, Marcelo Pires Vieira, o Belo, teve a pena aumentada para oito anos. Pesou na sentença, segundo o desembargador Flávio Magalhães (um dos juízes que analisou o recurso do segundo julgamento), o fato da "conduta censurável (do cantor) ter repercutido de forma desfavorável nos admiradores adolescentes".

Leonardo tem o atenuante de ter se envolvido num acidente, e não em uma suposta atividade criminosa. Entretanto, perícia feita no automóvel que o sertanejo dirigia constatou que o carro não sofreu falha mecânica que causasse o desastre; resta saber se houve imperícia ou direção perigosa, condutas sempre reprováveis. Ainda mais quando acarretam a morte de alguém. O acidente parece repetir uma estranha "sina" que envolve astros populares e batidas de carro. Sertanejo como Leonardo, o cantor João Paulo - que fazia dupla com Daniel - morreu num acidente na Rodovia dos Bandeirantes (SP), em 1997. Em 1999, foi a vez de Alexandre Pires atropelar e matar um motoqueiro, em Minas Gerais; o cantor foi absolvido pela justiça mineira por falta de provas. Outro sertanejo, Renner (da dupla Rick & Renner) matou um casal de motociclistas em 2001, ao perder o controle de seu carro de luxo que vinha em alta velocidade, no interior de São Paulo. E o funkeiro Claudinho, famoso pela dupla com Buchecha, engrossou a lista das fatalidades ao morrer no ano passado, em desastre na Via Dutra

Belo: pagodeiro ou traficante?
Belo teve seu nome ligado ao tráfico de drogas em meados do ano passado, quando foram reveladas as gravações de uma grande operação contra o crime organizado desfechada pela polícia fluminense. O pagodeiro seria amigo do traficante Vado, que dominava a venda de tóxicos na favela do Jacarezinho (Zona Norte carioca). Mais: conversas telefônicas implicam Belo na tranferência de somas altas de dinheiro para Vado. O traficante foi morto pela polícia em agosto de 2002 e Belo, depois de passar um bom tempo escondido da polícia, foi preso em junho. Depois de ficar 36 dias encarcerado, em cela comum, o cantor foi libertado e prosseguiu com sua carreira; em dezembro, saiu sua sentença original, de seis anos de prisão. Por ser réu primário, Belo teve o direito de aguardar o julgamento do recurso em liberdade.

A maré virou no último dia 11, quando a 8ª Câmara Criminal do TJ (Tribunal de Justiça) do Rio resolveu aumentar a pena do cantor de seis para oito anos. Os desembargadores analisaram recurso do Ministério Público pedindo ampliação da pena e detenção imediata de Belo e aprovaram a decisão por unanimidade. Belo, no entanto, não se apresentou à polícia até agora. Humberto Teles Machado, advogado do cantor, afirma que "não há provas" contra seu cliente e que vai recorrer da sentença ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. "Vou a qualquer lugar para defendê-lo", fala Machado. O advogado também afirmou que o cantor - com quem tem mantido contato - não tem intenção de se apresentar até o julgamento no Distrito Federal. Equipes da Polinter estão de prontidão para evitar que Belo viaje. "Ele já pode ser considerado foragido", disse no último sábado o diretor da Polinter, Rodolfo Waldeck. Até o fechamento desta matéria, o cantor não havia se entregado.

Leonardo: homicídio culposo?
Leonardo - Emival Eterno da Costa - não está em uma saia tão justa quanto Belo. Mas provavelmente vai ter de dar mais explicações sobre o acidente que sofreu em novembro. O cantor passou quatro dias internado em uma clínica em Goiás; menos de uma semana depois de ter alta, já estava excursionando novamente. A princípio, Leonardo só deve prestar depoimento à polícia na última semana de dezembro, e é aí que a situação pode se complicar. A assessoria de imprensa do cantor divulgou que Leonardo sentiu que o carro (um jipe offroad Land Rover, carro pesado e potente) estava com a direção puxando um pouco para a direita, momentos antes do capotamento. Levantou-se até a hipótese de que uma das rodas do carro teria se soltado. Mas a perícia técnica conduzida pela polícia goiana não comprovou falha mecânica no automóvel (que, de resto, havia sido revisado há pouco tempo).

Leonardo dirigia o Land Rover na noite de 17 de novembro, pela rodovia GO-070, passando pelo município de Jussara (a 240 km da capital Goiânia). Ele viajava com quatro pessoas: Sebastião Figueiredo, Ayrisson Roberto Pequeno, agente da Polícia Civil do Distrito Federal (DF), o músico José das Dores Fernandes, conhecido como Zé Mulato, e Laerte Rodrigues Bessa, diretor da Polícia Civil do DF. O veículo capotou várias vezes e ficou completamente destruído. Sendo o único ocupante do carro a usar cinto de segurança, Leonardo escapou com um traumatismo craniano leve. Ayrisson também safou-se com ferimentos leves, mas Sebastião morreu e Zé Mulato e Laerte ficaram gravemente feridos. Apesar do cantor ainda não ter sido indiciado, sua asessoria já se prestou a declarar que mesmo sem detectar falha mecânica, a perícia tampouco pode afirmar que o acidente foi causado por Leonardo.