Leoni relê seu passado de <i>hitmaker</i>
Compositor cerca-se de amigos de geração, grava sucessos e inédita de Herbert Vianna em Áudio-retrato
Marco Antonio Barbosa
09/06/2003
Leoni: "Quis fazer o meu songbook" (clique para ampliar) |
"Eu estava dando uma olhada em algumas estatísticas de paradas de sucesso dos anos 80 e 90", narra Leoni, "e notei que 16 músicas minhas chegaram ao primeiro lugar de execução em todo o Brasil", completa o compositor, admitindo ter o raro toque de midas dos fazedores de sucessos do pop brazuca. Mas ele mesmo desconversa, em tom modesto. "Acho que eu fui um hitmaker. Tive muitos sucessos, mas a grande parte foi muito concentrada em alguns poucos anos da década de 80", comenta Leoni, referindo-se ao período que vai de 1983 - com o estouro do Kid - até o finalzinho da década, quando os Heróis da Resistência começaram a sucumbir, com o perdão do trocadilho. "Nos anos 90 não teve nada, só mesmo Garotos II, em 1993. Acabei ganhando a fama de hitmaker e não deitei na cama", brinca.
Em Áudio-Retrato, subintitulado Auto-estrada, Registros da Minha Vida Emprestada, Leoni dá novo corpo a nove de seus sucessos, da época do Kid (Educação Sentimental, Fixação, Lágrimas e Chuva e um medley juntando A Fórmula do Amor e Carro e Grana), do Heróis (Só Pro Meu Prazer, Esse Outro Mundo, Double de Corpo) e da carreira solo (Garotos II). Asonoridade, se não pode ser chamada de acústica, é despojada e minimalista. "Esse formato veio naturalmente depois da turnê que eu fiz ano passado", lembra Leoni, "na qual eu fiz muitos shows à base de voz e violão e mais um detalhezinho ou outro: uma guitarra, uma percussão... Ficava mais barato."
À descoberta do formato juntou-se uma vontade do compositor de resumir sua trajetória musical. "Não quis entrar nessa onda de comeback dos 80's. Eu só estou me reapropriando de canções que já eram minhas, mesmo que agora venham num formato menos grandioso. Esse disco é para funcionar como o meu songbook. Os arranjos mais simples realçam a força das canções", conta Leoni, afirmando que nem todas as músicas se prestaram facilmente às novas versões. "Em algumas, especialmente as gravadas pelos Heróis, como Double de Corpo, o conceito não funcionou logo de cara. Em outras tive que dar uma mexida, como em Fixação, que ficou com a harmonia toda mexida." Radical mesmo foi a alteração em Falando de Amor, que era um funk eletrônico e acabou virando uma quase-bossa. "Essa era uma canção do meu primeiro disco solo, de 1993, que quase ninguém conhece... é quase uma inédita", comenta o compositor.
Inédita mesmo só há uma: Canção Pra Quando Você Voltar, parceria com Herbert Vianna - que, segundo Leoni, foi talvez a última composição do Paralama antes do acidente de ultraleve que quase o matou em 2001. "Iríamos compor juntos, só nós dois, pela primeira vez em 20 anos", rememora Leoni. "Ele fez a melodia e me pediu uma letra, dizendo: 'Quero que essa seja "A" balada do próximo disco dos Paralamas'. Aí aconteceu tudo aquilo (o acidente)." Nos meses que se seguiram, Leoni quebrou a cabeça tentando achar os versos certos para a melodia de Herbert. "Foi uma missão que eu impus a mim mesmo; relatar ao Herbert, com a letra, tudo o que aconteceu durante a recuperação dele. A movimentação dos amigos, da família, a mobilização. Ele ficou emocionado", diz Leoni. A música inclui versos como "Se num entardecer / A dor te visitar / Vai ter sempre alguem pra socorrer".
Na esteira da parceria com Herbert, entram também as participações de Leo Jaime e Dinho, contemporâneos de geração do BRock. "O Léo sempre esteve presente na minha carreira, gravou com o Kid, lançou músicas minhas", diz Leoni. "Ele é uma figuraça, acabei pegando uma 'carona' nele", completa, referindo-se ao colega, com quem canta Lágrimas e Chuva, numa versão voz e violão. Dinho participa de Garotos II, também só com o violão. "Ele não conhecia a música direito, acabou cantando de uma maneira bem diferente da original. Fiquei intrigado no começo, depois gostei de ouvir na voz dele", fala o autor.
Áudio-retrato inaugura a parceria de Leoni com a gravadora Som Livre, que deve render também um DVD gravado ao vivo com o repertório do disco. "Tive sorte: este ano, dos 20 projetos que a Som Livre tinha de lançar álbuns inéditos, apenas três sobreviveram e o meu foi um deles", conta o cantor. O contrato pôe, temporariamente, o sonho de Leoni de ver seu selo independente, Batuque Elegante, prosperar. "Financeiramente foi um desastre. Muito frustrante", lamenta o compositor, que acabou lançando apenas seu próprio disco (Você Sabe o que Eu Quero Dizer ), ano passado. O que não significa que Leoni tenha ficado insatisfeito com a retomada de sua carreira em 2002. "Voltei a existir com o Você Sabe.... Foi importante para mim retornar com músicas inéditas, para provar que eu não tinha ficado parado, que eu estava trabalhando", conta ele. Para quem não teve a chance de ouvir o CD anterior, Áudio-retrato traz de bônus duas faixas de Você Sabe...: Temporada das Flores e Melhor Pra Mim.