Liberdade, ainda que tardia
Andreas Kisser, do Sepultura, fala sobre a saída do grupo da gravadora Roadrunner após 13 anos
Marco Antonio Barbosa
29/07/2001
A notícia caiu como uma bomba na comunidade metaleira brasileira - e mundial também. Depois de 13 anos de associação com a gravadora norte-americana Roadrunner, o grupo Sepultura resolveu desligar-se do selo e partir para outras paragens. Em nota oficial divulgada no último dia 19, o grupo anunciava (em seu website, www.uol.com.br/sepultura) que desistia de renovar seu contrato com a Roadrunner e creditava a separação à falta de interesse do selo na carreira do grupo. Como fica agora o destino da banda de rock brasileira de maior sucesso no exterior? E a posição do Sepultura no mercado mundial, uma vez que o grupo é um dos renomados nomes do heavy metal da atualidade em todo o mundo? Para descobrir, Cliquemusic entrevistou com exclusividade Andreas Kisser, guitarrista que junto com Derrick Green (vocal), Paulo Jr. (baixo) e Igor Cavalera (bateria), compõe a atual formação do Sepultura.
"Estamos livres, finalmente. A verdade é que a Roadrunner nunca deu total apoio para esta nova fase do Sepultura", julga Andreas sobre sua antiga gravadora. O guitarrista se refere ao renascimento do grupo em 1997, quando o vocalista original e líder do grupo (e irmão do baterista Igor) Max Cavalera deixou o Sepultura. Max formou sua própria banda, o Soulfly, e em 1998 Andreas, Paulo e Igor elegeram o americano Derrick Green para assumir os vocais do Sepultura. Com o novo cantor, o grupo já lançou os álbuns Against (1998) e Nation (2001).
"A gravadora não acredita na força da nossa atual formação, nunca acreditou. E ainda por cima, estavam sempre querendo que gravássemos um novo Roots", diz Andreas. O guitarrista refere-se ao álbum de 1996 do Sepultura - o último gravado com Max - que impressionou crítica e público de todo o mundo ao misturar sonoridades oriundas da música indígena brasileira com o peso do thrash metal. "Decidimos pedir a nossa saída agora antes mesmo de começarmos a pensar num próximo disco. Na verdade, nosso contrato previa mais um álbum, mas estava estipulada a opção de nosso desligamento. Resolvemos sair e a Roadrunner concordou, pois teriam que gastar pelo menos meio milhão de dólares só com a gravação de nosso próximo disco", conta Andreas.
A insatisfação do Sepultura com a Roadrunner é antiga; vem de uma época anterior até à saída de Max. Andreas Kisser esclarece: "Queríamos sair da gravadora pelo menos há uns oito anos. Quando começamos a gravar o Chaos A.D. , em 1993, assinamos um contrato que era muito longo, de sete álbuns. Era demais. Para piorar, toda a parte comercial e financeira era muito centralizada neles, os acordos de merchandising, os direitos autorais, os royalties... isso sempre limitou muito nossa ação como banda, nos tolheu muito."
Na nota divulgada pelo grupo dia 19, o Sepultura afirmou que "não estava satisfeito com a divulgação" providenciada pela Roadrunner. Andreas aponta com exatidão as causas da insatisfação: "Eles não fizeram praticamente nada pelo Nation. O fato da Roadrunner não ter sequer investido em um videoclipe ou mesmo um single tirado do disco já demonstra isso. Além do mais, tinham prometido que iriam nos dar um apoio para a turnê que faremos com o Pantera e o Slayer em novembro - e depois voltaram atrás. E esses são apenas alguns dos motivos."
E o Soulfly? A existência da banda de Max Cavalera teria influído no desgaste da relação gravadora-banda? Afinal, o Soulfly também é contratado da Roadrunner e, pelo menos teoricamente, disputa espaço com o Sepultura no mesmo segmento de mercado. E as relações entre Max e seus antigos companheiros ainda são, no mínimo, tempestuosas. "O Soulfly não influiu em nada em nossa decisão. Foi apenas a primeira chance que tivemos de sair da gravadora e a aproveitamos. Com Max ou sem Max, este era o sentimento da banda", diz Andreas, minimizando a possível disputa interna com o ex-colega de grupo.
A união do Sepultura com a Roadrunner foi fundamental para que a banda se projetasse no exterior, tornando-se um dos maiores nomes do heavy metal mundial. Foram sete álbuns, a partir de Beneath the Remains , de 1989, que estenderam os domínios do grupo para fora do gueto metaleiro, especialmente na Europa. Andreas reconhece que, a bordo da Roadrunner, o Sepultura conquistou uma posição nunca imaginada na época em que eram jovens headbangers em Minas Gerais, nos anos 80. "Tivemos mesmo uma evolução muito forte, em todos os sentidos, nesses 13 anos", admite Andreas. Mas segundo ele, a evolução foi de mão dupla. "A gravadora também cresceu muito junto com a gente. Antes de aparecermos, eles eram insignificantes, um selinho pequeno. Com o Sepultura eles viraram algo importante na indústria musical mundial", acredita o guitarrista.
Mesmo sem gravadora, as perspectivas futuras para o Sepultura são animadoras. É o que garante Andreas Kisser. "Depois de cinco meses de lançado, Nation está vendendo muito bem - apesar do descaso da Roadrunner. Vamos continuar a excursionar, principalmente aqui pelo Brasil. Mesmo porque a gravadora nunca agendou shows para nós. O cotidiano da banda não vai mudar quase nada", diz o guitarrista. Retificando: o que muda, muda para melhor. "Estamos mais fortes e unidos do que nunca, agora que temos liberdade para negociar com gente que acredita no potencial do Sepultura. Isso tudo é muito positivo; depois de 13 anos trabalhando com o mesmo povo, mudar é muito saudável", afirma Andreas. Quanto à futura "casa" do grupo, as possibilidades estão em aberto. "Temos várias propostas e 'milhares' de opções de contratos, com gravadoras brasileiras e do exterior. Vamos estudar tudo com calma e fazer o que for melhor para a banda", relata Andreas, sem revelar maiores detalhes.
"Estamos livres, finalmente. A verdade é que a Roadrunner nunca deu total apoio para esta nova fase do Sepultura", julga Andreas sobre sua antiga gravadora. O guitarrista se refere ao renascimento do grupo em 1997, quando o vocalista original e líder do grupo (e irmão do baterista Igor) Max Cavalera deixou o Sepultura. Max formou sua própria banda, o Soulfly, e em 1998 Andreas, Paulo e Igor elegeram o americano Derrick Green para assumir os vocais do Sepultura. Com o novo cantor, o grupo já lançou os álbuns Against (1998) e Nation (2001).
"A gravadora não acredita na força da nossa atual formação, nunca acreditou. E ainda por cima, estavam sempre querendo que gravássemos um novo Roots", diz Andreas. O guitarrista refere-se ao álbum de 1996 do Sepultura - o último gravado com Max - que impressionou crítica e público de todo o mundo ao misturar sonoridades oriundas da música indígena brasileira com o peso do thrash metal. "Decidimos pedir a nossa saída agora antes mesmo de começarmos a pensar num próximo disco. Na verdade, nosso contrato previa mais um álbum, mas estava estipulada a opção de nosso desligamento. Resolvemos sair e a Roadrunner concordou, pois teriam que gastar pelo menos meio milhão de dólares só com a gravação de nosso próximo disco", conta Andreas.
A insatisfação do Sepultura com a Roadrunner é antiga; vem de uma época anterior até à saída de Max. Andreas Kisser esclarece: "Queríamos sair da gravadora pelo menos há uns oito anos. Quando começamos a gravar o Chaos A.D. , em 1993, assinamos um contrato que era muito longo, de sete álbuns. Era demais. Para piorar, toda a parte comercial e financeira era muito centralizada neles, os acordos de merchandising, os direitos autorais, os royalties... isso sempre limitou muito nossa ação como banda, nos tolheu muito."
Na nota divulgada pelo grupo dia 19, o Sepultura afirmou que "não estava satisfeito com a divulgação" providenciada pela Roadrunner. Andreas aponta com exatidão as causas da insatisfação: "Eles não fizeram praticamente nada pelo Nation. O fato da Roadrunner não ter sequer investido em um videoclipe ou mesmo um single tirado do disco já demonstra isso. Além do mais, tinham prometido que iriam nos dar um apoio para a turnê que faremos com o Pantera e o Slayer em novembro - e depois voltaram atrás. E esses são apenas alguns dos motivos."
E o Soulfly? A existência da banda de Max Cavalera teria influído no desgaste da relação gravadora-banda? Afinal, o Soulfly também é contratado da Roadrunner e, pelo menos teoricamente, disputa espaço com o Sepultura no mesmo segmento de mercado. E as relações entre Max e seus antigos companheiros ainda são, no mínimo, tempestuosas. "O Soulfly não influiu em nada em nossa decisão. Foi apenas a primeira chance que tivemos de sair da gravadora e a aproveitamos. Com Max ou sem Max, este era o sentimento da banda", diz Andreas, minimizando a possível disputa interna com o ex-colega de grupo.
A união do Sepultura com a Roadrunner foi fundamental para que a banda se projetasse no exterior, tornando-se um dos maiores nomes do heavy metal mundial. Foram sete álbuns, a partir de Beneath the Remains , de 1989, que estenderam os domínios do grupo para fora do gueto metaleiro, especialmente na Europa. Andreas reconhece que, a bordo da Roadrunner, o Sepultura conquistou uma posição nunca imaginada na época em que eram jovens headbangers em Minas Gerais, nos anos 80. "Tivemos mesmo uma evolução muito forte, em todos os sentidos, nesses 13 anos", admite Andreas. Mas segundo ele, a evolução foi de mão dupla. "A gravadora também cresceu muito junto com a gente. Antes de aparecermos, eles eram insignificantes, um selinho pequeno. Com o Sepultura eles viraram algo importante na indústria musical mundial", acredita o guitarrista.
Mesmo sem gravadora, as perspectivas futuras para o Sepultura são animadoras. É o que garante Andreas Kisser. "Depois de cinco meses de lançado, Nation está vendendo muito bem - apesar do descaso da Roadrunner. Vamos continuar a excursionar, principalmente aqui pelo Brasil. Mesmo porque a gravadora nunca agendou shows para nós. O cotidiano da banda não vai mudar quase nada", diz o guitarrista. Retificando: o que muda, muda para melhor. "Estamos mais fortes e unidos do que nunca, agora que temos liberdade para negociar com gente que acredita no potencial do Sepultura. Isso tudo é muito positivo; depois de 13 anos trabalhando com o mesmo povo, mudar é muito saudável", afirma Andreas. Quanto à futura "casa" do grupo, as possibilidades estão em aberto. "Temos várias propostas e 'milhares' de opções de contratos, com gravadoras brasileiras e do exterior. Vamos estudar tudo com calma e fazer o que for melhor para a banda", relata Andreas, sem revelar maiores detalhes.