Lilian, da Jovem Guarda para o ano 2001

A ex-parceira de Leno lança álbum de canções inéditas e um livro com memórias dos anos 60

Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro
06/07/2001
Nos últimos meses, você já cantarolou, assobiou, ou pelo menos já ouviu pelo menos uma canção de Lilian Knapp. Lilian quem? Sabendo ou não quem é Lilian Knapp, foi impossível escapar de ouvir no rádio ou ver na TV a versão acústica que Adriana Calcanhotto fez de Devolva-me 30'' excerpts, da dupla da Jovem Guarda Leno & Lilian - um megasucesso que fez com que Público ouvir 30s, CD ao vivo de Adriana, ultrapassasse o milhão de cópias vendidas. Já percebeu quem é Lilian Knapp, então?

Lilian Knapp é a metade feminina da dupla Leno & Lilian, autora (junto a Renato Barros, do Renato & Seus Blue Caps) de Devolva-me e que fez sucesso com Pobre Menina, Eu Não Sabia Que Você Existia, Não Acredito e outras, entre 1966 e 1968. Lilian agora está de volta, em dose dupla: com o CD Lilian Knapp ouvir 30s, seu primeiro álbum desde 1992, e o livro Como um Conto de Fadas (Editora Qualigraph), pequeno volume que é uma espécie de "autobiografia informal" da cantora. Livro e disco terão lançamento oficial no dia 11, com um pocket-show na boate Studio 54 (RJ).

Nostalgia pura? Desejo de embarcar no revival de Devolva-me? O que move Lilian Knapp nesta sua volta ao mercado? "Há bons motivos para o meu retorno", afirmou a cantora ao Cliquemusic. "Primeiro, em todo show que eu fazia - sim, porque não parei de cantar, só fiquei afastada da mídia - as pessoas me perguntavam muitas coisas, sobre os tempos da Jovem Guarda, os anos 60, o sucesso... e todos me faziam quase sempre as mesmas perguntas. A Universal lançou um CD (a coleção 30 Anos de Jovem Guarda, em 1998) que trazia todos aqueles artistas de volta. E vendeu três milhões de cópias mesmo sem estarmos na mídia! Digo então que todos nós - não só o Roberto e o Erasmo, mas eu, o Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Martinha... - estamos na memória e no coração das pessoas."

Na verdade, desde 1996 Lilian (já usando nome e sobrenome) vem se apresentando em casas de shows não só no Brasil, mas também em países da América Latina. No repertório, basicamente os sucessos dos tempos da Jovem Guarda. Lilian Knapp, o álbum, é diferente. "O disco é o marco de um novo ciclo que estou iniciando em minha carreira", diz Lilian. "É um som novo, inédito, que não tem nada a ver com a Jovem Guarda e nem mesmo com as músicas que eu cantava nos anos 70 e 80. São músicas que eu estou compondo agora, mais algumas antigas que eu nunca vou deixar de cantar, estão no meu coração e no do público também."

Das 11 músicas do disco, nada menos que oito são inéditas, seis das quais levando a assinatura de Lilian. "Tive sete parceiros diferentes neste álbum, nunca compus com tanta gente diferente", diz Lilian. As regravações são três: Deus É Quem Sabe, de Raul Seixas, Esqueça e Perdoa, de Getúlio Côrtes (o autor de Negro Gato) e, naturalmente, Devolva-me. "Só a regravei", diz Lilian sobre seu maior sucesso, "porque todo mundo envolvido no projeto pediu. De qualquer maneira, tenho o maior orgulho da música." Luiz Carlini, veterano guitarrista também egresso da Jovem Guarda, assina os arranjos; Paulo César Barros, que no disco co-assina (com Paulo Sérgio Valle) a faixa Fica Comigo, é o produtor. "O disco é romântico mas sempre pop. Ás vezes cai um pouco para o rock mesmo, por causa da guitarra do Carlini (que sola com vontade em Deus É Quem Sabe)", explica Lilian.

Quanto ao suposto "embarque" no sucesso que Adriana Calcanhotto fez com Devolva-me, Lilian é categórica. "Não tem nada a ver. O disco estava pronto já desde o final do ano passado, antes mesmo dela lançar sua versão da música. Devolva-me tinha que estar no meu álbum porque é uma das minhas músicas-tema, independente de fazer sucesso com quem quer que seja", diz ela. E ela prossegue: "Certamente, foi uma surpresa tanto para mim quanto para ela o sucesso que minha música acabou fazendo. Deve ter sido um espanto para ela, que é uma compositora, fazer tanto sucesso assim com uma música de outra pessoa - ainda mais sendo a autora uma mulher."

O novo álbum de Lilian é totalmente independente, e por enquanto pode ser comprado com pedidos ao e-mail lilianknapp@uol.com.br. "Resolvi fazer o disco por conta própria primeiro, e depois propôr o lançamento às gravadoras. Mas agora já vi que é bobagem chegar nessas multinacionais já com o disco pronto, eles nem olham. Prensamos tudo nós mesmos e agora queremos uma gravadora grande só para garantir a distribuição", diz Lilian, com a tarimba de quem já fez muito sucesso mas que já está há quase dez anos sem contrato. "As gravadoras têm resistência em relaçao aquilo que nao interessa comercialmente. Mas não acho isso errado, cada um luta por aquilo que acredita", resume a cantora.

A outra face deste retorno de Lilian é o livro Como um Conto de Fadas, que também pode ser pedido por e-mail (qualigraph@qualigraph.com.br). Longe de ser uma autobiografia no estrito senso, o volume é mais uma coleção de memórias sentimentais da cantora, centrado principalmente na época em que fazia sucesso com Leno. Não há nada da fase solo da cantora, que chegou a ganhar dois discos de ouro nos anos 80 (puxada pelo sucesso Sou Rebelde).

"Falo dos bastidores da Jovem Guarda, as paqueras, meu namoro com Renato (Barros), o começo da dupla, moda, comportamento, pessoas que foram importantes para mim naquela época. Escrevi o livro também para tirar um pouco da curiosidade do público sobre essa época, todo mundo quer saber sobre aqueles dias", fala Lilian. Nas páginas, podemos ver os primeiros passos da jovem compositora - que colocava letras nas músicas instrumentais de grupos como o Tamba Trio, só para cantar junto -, sua iniciação como versionista (compositora especializada em versões em português de sucessos internacionais), a amizade com a galera da Jovem Guarda e o estouro da dupla com Leno.

"Foi o Renato Barros quem nos juntou", lembra Lilian. "Eu fazia testes para cantar em outros grupos na época, e o Leno queria mesmo era ser artista solo. O Renato nos convenceu que nos daríamos melhor juntos." Formaram a dupla de maior sucesso do pop brasileiro nos anos 60, que teve duas curtas vidas: a primeira entre 65 e 68, a segunda um comeback frustrado em 72 que deixou o álbum Leno & Lilian, produzido por Raul Seixas.

Nostálgica, Lilian explica o título do livro: "Meu conto de fadas - bom, pelo menos um deles, eu vivi vários - terminou quando meu romance com o Renato Barros acabou. Quando éramos namorados, eu acreditava realmente que quando as pessoas se casavam, todas as coisas ruins terminavam. O sonho terminou quando não nos casamos." Mas ela ainda devaneia, especialmente em relação a Cadu Nolla - que além de ser baterista de sua banda, é seu atual marido. "Vivo agora outro conto de fadas, mais amadurecido, mas também com muitos sonhos", fala a cantora.