Lobão dá mais um grito de independência

Cantor faz prévia de seu próximo álbum, Lobão 2001, com mega-show no feriado de 7 de setembro

Marcus Marçal
05/09/2001
Lobão, o maior artista independente do cenário musical brasileiro, vai comemorar o feriado de Independência (próximo dia 7) em grande estilo: com um megashow no parque do Ibirapuera em São Paulo. O cantor fecha o evento Show pela Independência, em que se apresentam outros nomes da cena independente como Karnak, Xis, Thayde & DJ Hum, Estado de Sítio e Rappin’ Hood, a partir das 11 horas do dia 7. Um dia antes, Lobão também se apresenta no Rio de Janeiro na festa Loud!, parada obrigatória do circuito alternativo carioca, realizada no Cine Íris (Centro do Rio). Os shows são uma prévia do próximo trabalho do cantor, Lobão 2001: Uma Odisséia no Universo Paralelo, disco ao vivo gravado no dia 6 de junho na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e que será lançado em versão CD e DVD lá para o final do ano.

"Esses eventos já são uma avant premiére de meu próximo lançamento. Faremos uma festa enorme lá em São Paulo. O DVD já está pronto e inclusive já rolou um especial na televisão, um programa bem compiladinho e tal. Esse especial de TV foi pico de audiência da programação da Globosat (TV por assinatura), nos dois dias em que foi exibido. Então posso dizer que está rolando o maior sonzão e estamos comemorando nossa independência (rindo)", festeja Lobão. O show no Ibirapuera foi planejado com apoio da Coordenadoria da Juventude da prefeitura de São Paulo, em conjunto com o próprio Lobão, e era ponto pacífico que apenas artistas indies se apresentariam. "Qualquer aglomeração já é uma espécie de articulação política. Tendo a presença de toda essa rapaziada do hip-hop, então, só pode ficar mais forte ainda", fala Lobão.

Novo trabalho será lançado em Portugal
O pacote CD/DVD Lobão 2001: Uma Odisséia no Universo Paralelo sai com tiragem de 50 mil cópias e estará à venda também em Portugal, com 20 mil cópias exclusivas para nossos irmãos lusitanos. O projeto contou com a produção de Lobão e Carlos Trilha, que já trabalhou com a Legião Urbana e em discos solos de Renato Russo, e celebra também o aniversário de dez anos da Globosat. Lobão está bastante satisfeito com o resultado, conforme declarou com exclusividade ao Cliquemusic.

"Estou muito orgulhoso da qualidade do som, estou a fim de mostrar ao público um trabalho de muita qualidade sonora e visual - até porque tudo também foi muito bem filmado e gravado. Conseguimos baixar ainda mais o preço do produto em comparação a meu último lançamento: o novo CD deve custar R$ 11,90, enquanto o DVD sai no máximo por R$ 19,90. Estou muito orgulhoso de oferecer um trabalho dessa categoria ao público num momento de crise e ainda existe a possibilidade de conseguirmos vender esse CD por R$ 6,00, pela Internet", adiantou.

Para lançar Lobão 2001, o cantor contou com um forte aliado, já que a Globosat, via seu canal Multishow, é parceira do projeto - uma produção de meio milhão de reais. É essa associação que garante uma maior distribuição. Apesar disso, Lobão é cauteloso ao arriscar uma estimativa de vendas, mesmo levando-se em conta que A Vida é Doce ouvir 30s vendeu 100 mil cópias, com estrutura e orçamento menores e num esquema 100% independente. "Isso eu não sei, o que posso dizer é que, logo de cara, estamos saindo com disco de ouro em Portugal. Mas é provável que vendamos ainda mais, até porque muita gente vai querer ouvir Me Chama, Vida Bandida e tudo isso tem no disco! E, se vendemos 100 mil cópias ao preço de R$ 14,90, provavelmente venderemos 150 mil a R$ 11. Isso é o que estamos esperando, sim! Acho que a tendência natural é vendermos mais, mesmo porque a distribuição será maciçamente maior e o Multishow deve veicular um monte de propaganda. O negócio agora é muito mais pesado: é um lance super deluxe (rindo)!

"Estou muito orgulhoso disso porque é um upgrade daquilo que já havíamos feito em A Vida é Doce. Quer dizer, estamos a fim mesmo de arrebentar com a boca da Matilde - não estamos aqui para brincadeira, não", sentencia.

A "homenagem" a Caetano Veloso entrou no álbum
Acompanhado do baterista Adal Fonseca e do baixista Marcelo Granja, Lobão agora apresenta um repertório - tanto nos shows, quanto no CD e no DVD - composto por canções da trilogia Nostalgia da Modernidade (95), Noite (97) e A Vida é Doce (99), entremeadas aos sucessos que Lobão arregimentou ao longo de sua carreira como Me Chama, Rádio Blá, Noite e Dia e a nova versão de Decadence Avec Elegance.

Ele próprio avalia sua atual performance ao vivo, retratada em seu novo trabalho: "Gosto muito do meu material mais recente, mas agora também estou curtindo muito tocar algumas músicas antigas: Vida Bandida está 'mortal' no disco, Rádio Blá ficou muito engraçada (N.R.: de balada pop radiofônica, ‘Rádio Blá’ virou um "mantra de puteiro", definição do próprio autor). Estou gostando muita da forma como elas estão soando nesse disco ao vivo! Estão muito bem tocadas e, ainda por cima, por três caras, sem solos... Acho muito legal a sonoridade da banda nesse formato de trio - fica tudo muito honesto, muito duro, muito tosco", avalia.

Outros destaques são as inéditas Lullaby, uma "canção-de-ninar de terror", e a polêmica Para o Mano Caetano, uma contundente resposta à Rock’n' Raul 30'' excerpts e a seu autor Caetano Veloso, concebida após uma discreta cutucada do cantor baiano às críticas que Lobão lhe dirigia pela mídia. Por sua vez, o cantor carioca retribuiu a homenagem e compôs Para o Mano Caetano, uma verdade tijolada nos cornos divulgada em grandes jornais antes mesmo de ser lançada. A réplica surtiu efeito e a polêmica ganhou maiores proporções após um episódio no qual os dois gravavam entrevistas para o Programa do Jô. Foi quando se levantou a hipotése de o debate ser resolvido em entrevista-dupla para as "Páginas Negras" da revista Trip, que acabou publicada na edição nº 91 - na verdade um importante direito-de-resposta concedido a Caetano Veloso, principalmente numa época em que lhe estava sendo imputada uma conivência a ACM. Nas páginas da revista que chegou às bancas em julho deste ano, os leitores da Trip se depararam com um jogo de retórica muito interessante entre o grande lobo, inimigo nº 1 das majors, e o leãozinho-mor da música popular brasileira.

Lobão comenta o episódio, mais uma entrevista-dupla histórica que ajuda a retratar uma época, tal qual seus debates com Cazuza e Renato Russo, respectivamente publicados nas revistas Bizz (1985) e Elle (1995): "Foi excelente, foi muito simpático da parte dele comparecer e ter que ouvir aquela carraspana toda - mesmo porque aquela música é um esporro! Achei muito bonitinho o Caetano vir à cena conversar comigo. Foi bacana da parte dele! Mas o esporro que eu queria dar nele já está naquela letra - está ali impresso, na alma, no DNA. E é isso o que importa, o resto é firula (rindo)! Então achei que seria muito interessante ele estar ali do meu lado, primeiramente para mostrar que eu não sou nenhum bicho-papão que vai dar porrada ou qualquer coisa parecida. Mostrei que posso conversar com uma pessoa à qual sou totalmente antagônico e que essas coisas dão às pessoas um farto material para reflexão. E acho que isso é o mais importante, até porque ficar somente de picuinha é uma tremenda besteira... É muito mais inteligente, e mais interessante, esse jogo de esgrima, do que ficarmos maldizendo-nos um ao outro pelos quatro cantos! E foi o que aconteceu: falei que não gostava, não concordava e tudo isso está escrito lá. Foi um embate de idéias, cada um defendendo a sua posição", avaliou o debate.