Los Hermanos brigam para ser rock
Irritada com a versão forró de Anna Júlia, lançada em disco de sua gravadora, a banda inicia inesperada carreira na Argentina, compõe para Erasmo Carlos e anseia por reencontrar seu público underground no Rio
Silvio Essinger
31/08/2000
Tudo aconteceu muito rápido de um ano para cá – e não foi da forma que a banda carioca Los Hermanos esperava. Revelação no Abril Pro Rock, os rapazes lançaram em agosto do ano passado o seu primeiro disco, Los Hermanos. A primeira música de trabalho, Anna Júlia, teve muito mais sucesso do que se previa. Virou uma daquelas canções onipresentes, sendo cantada até no Carnaval baiano, em cima dos trios elétricos. Depois de muita discussão, a gravadora Abril Music insistiu para que a segunda música de trabalho fosse a balada Primavera. Os Hermanos queriam Quem Sabe, de pulsação punk. A contragosto, lá foi a banda divulgar Primavera, que mais sucesso trouxe – um sucesso, diga-se de passagem, como artista pop, e não como a banda de rock que de fato é. No meio do caminho, o cantor e tecladista de forró Frank Aguiar (o Cãozinho dos Teclados, outro contratado da Abril) fez uma versão de Anna Júlia, em seu disco Um Show de Forró – Vol. V. Foi a gota d’água. "Achei uma porcaria", desabafa o vocalista e guitarrista Marcelo Camelo. "E a gente só foi saber que ela havia sido feita quando já tinham sido prensadas 500 mil cópias do disco do Frank Aguiar."
Mas nem só de queixas é feita a vida dos Hermanos, que voltam a sua cidade natal para se apresentar, no próximo dia 6, na festa Loud (no Cine Íris, Rio de Janeiro), ao lado das bandas MCs HCs e Carbona. Além da possibilidade de reencontro com o público underground carioca, que deu as bases para a carreira da banda (e que sabe cantar todas as músicas do disco e das fitas demo), Camelo, Bruno (teclado), Amarante (vocal, flauta e guitarra), Patrick (baixo) e Barba (bateria) comemoram sua primeira incursão pela Argentina, que se deu no começo do mês, e a eleição, pelo público da MTV, no último Video Music Brasil, do clipe de Anna Júlia para o prêmio de revelação. Mais do que isso, os Hermanos também acabaram por conquistar a admiração de grandes nomes da MPB, como João Donato e Djavan, que demonstraram interesse em trabalhar com a banda. A pedido da Abril Music, Camelo ainda mandou a música Pra Falar de Amor como sugestão para o repertório do próximo disco de Erasmo Carlos. "Nunca fui influenciado pelo Erasmo, mas ele é um dos grandes compositores do Brasil", elogia.
Há algumas semanas, enfim, Quem Sabe começou a ser trabalhada nas rádios e nas TVs, com seu videoclipe. "É... Tinham acabado as baladas do disco", ironiza Camelo. "Anna Júlia e Primavera tocaram muito e provocaram um desgaste. Quem Sabe, como terceiro single, já não entra com tanta força. E como é uma música hardcore, diminui bastante o número de rádios." A banda reconhece que a carreira comercial de Los Hermanos está virtualmente no fim. Tanto que está encerrando a turnê e, em novembro, se isola para compor e ensaiar as músicas do próximo disco que, esperam os músicos, sai em março do ano que vem. "A gente tem muito mais músicas desse disco nas quais queria investir", lamenta Camelo. "Mas parece que a gravadora tem outras prioridades, vide o Twister (boy band recém-lançada)."
Nos últimos tempos, os Hermanos resolveram mudar a postura ante a mídia. Pararam de fazer playbacks e de participar de programas nos quais não se sentem à vontade. Nos shows, buscaram compensar a ausência de músicas conhecidas do público (já que se recusam a tocar covers) com alguns artifícios de cena. "Promovemos alguns momentos de interação com a platéia", conta o vocalista. Para a banda, o lado artístico está acima dos outros. "O ano começou com várias críticas elogiosas ao nosso disco. Com o crescimento do sucesso de Anna Júlia e Primavera, viramos o patinho feio. As pessoas não conseguem entender a nossa política de contestação, acham que estamos reclamando do sucesso."
No entanto, foi justamente a popularidade de Anna Júlia que os levou à Argentina. Entre os dias 6 e 9 últimos, a banda brasileira com nome em espanhol esteve em Buenos Aires para participar de programas de rádio e de TV, dar entrevista para a edição local da revista Rolling Stone e fazer shows. No último dia, os Hermanos tocaram no bar de brasileiros Maluco Beleza. "Mas era para uma platéia composta por 70% de argentinos", ressalva Camelo. O espaço era pequeno, mas o público cantava todas as músicas. "Parecia o Empório (pequeno bar carioca onde os Hermanos fizeram alguns dos seus primeiros shows)", compara.
O vocalista conta que a fama da banda começou a correr por lá porque muitos argentinos voltaram do verão brasileiro com Anna Júlia nos ouvidos e o disco da banda na mala. Depois de detectar o interesse, o empresário dos rapazes acertou o lançamento do disco no país – a Abril licenciou o CD para a pequena gravadora Edel, o que possibilitou a viagem (paga pela própria banda) para a série de eventos de divulgação. Na última quarta-feira, os Hermanos deram mais um passo rumo à (inesperada) carreira latina: Camelo gravou os vocais para uma versão em espanhol de Anna Júlia, "bastante respeitosa, mas com alguma licença poética", feita por Marciano, da banda argentina Enanitos Verdes. "O bacana é que na Argentina a gente está tendo um trabalho que é o contrário do que a Abril vem fazendo. A segunda música a ser lançada por lá é mais pesada", comenta o vocalista.
Em novembro, os Hermanos param com tudo. Eles pensam em ir para um sítio e ficar uns dois meses em quarentena para acabar de compor e ensaiar o material do próximo disco (o segundo de um contrato de três com a Abril). "Tem muita coisa feita em voz e violão, mas o que dá a cara são os arranjos", adianta Camelo, sem adiantar muito. Duas músicas novas – A Flor e Bom Dia – vêm sendo tocadas nos shows, mas isso não é garantia de que vão estar no novo disco. "Toda previsão tem grandes chances de cair por terra", avisa. "Se o disco vai ser mais leve, mais pesado ou mais estranho, se vai ter músicas de amor ou de política... Só sabemos que vai ser razoavelmente diferente do primeiro."
Mas nem só de queixas é feita a vida dos Hermanos, que voltam a sua cidade natal para se apresentar, no próximo dia 6, na festa Loud (no Cine Íris, Rio de Janeiro), ao lado das bandas MCs HCs e Carbona. Além da possibilidade de reencontro com o público underground carioca, que deu as bases para a carreira da banda (e que sabe cantar todas as músicas do disco e das fitas demo), Camelo, Bruno (teclado), Amarante (vocal, flauta e guitarra), Patrick (baixo) e Barba (bateria) comemoram sua primeira incursão pela Argentina, que se deu no começo do mês, e a eleição, pelo público da MTV, no último Video Music Brasil, do clipe de Anna Júlia para o prêmio de revelação. Mais do que isso, os Hermanos também acabaram por conquistar a admiração de grandes nomes da MPB, como João Donato e Djavan, que demonstraram interesse em trabalhar com a banda. A pedido da Abril Music, Camelo ainda mandou a música Pra Falar de Amor como sugestão para o repertório do próximo disco de Erasmo Carlos. "Nunca fui influenciado pelo Erasmo, mas ele é um dos grandes compositores do Brasil", elogia.
Há algumas semanas, enfim, Quem Sabe começou a ser trabalhada nas rádios e nas TVs, com seu videoclipe. "É... Tinham acabado as baladas do disco", ironiza Camelo. "Anna Júlia e Primavera tocaram muito e provocaram um desgaste. Quem Sabe, como terceiro single, já não entra com tanta força. E como é uma música hardcore, diminui bastante o número de rádios." A banda reconhece que a carreira comercial de Los Hermanos está virtualmente no fim. Tanto que está encerrando a turnê e, em novembro, se isola para compor e ensaiar as músicas do próximo disco que, esperam os músicos, sai em março do ano que vem. "A gente tem muito mais músicas desse disco nas quais queria investir", lamenta Camelo. "Mas parece que a gravadora tem outras prioridades, vide o Twister (boy band recém-lançada)."
Nos últimos tempos, os Hermanos resolveram mudar a postura ante a mídia. Pararam de fazer playbacks e de participar de programas nos quais não se sentem à vontade. Nos shows, buscaram compensar a ausência de músicas conhecidas do público (já que se recusam a tocar covers) com alguns artifícios de cena. "Promovemos alguns momentos de interação com a platéia", conta o vocalista. Para a banda, o lado artístico está acima dos outros. "O ano começou com várias críticas elogiosas ao nosso disco. Com o crescimento do sucesso de Anna Júlia e Primavera, viramos o patinho feio. As pessoas não conseguem entender a nossa política de contestação, acham que estamos reclamando do sucesso."
No entanto, foi justamente a popularidade de Anna Júlia que os levou à Argentina. Entre os dias 6 e 9 últimos, a banda brasileira com nome em espanhol esteve em Buenos Aires para participar de programas de rádio e de TV, dar entrevista para a edição local da revista Rolling Stone e fazer shows. No último dia, os Hermanos tocaram no bar de brasileiros Maluco Beleza. "Mas era para uma platéia composta por 70% de argentinos", ressalva Camelo. O espaço era pequeno, mas o público cantava todas as músicas. "Parecia o Empório (pequeno bar carioca onde os Hermanos fizeram alguns dos seus primeiros shows)", compara.
O vocalista conta que a fama da banda começou a correr por lá porque muitos argentinos voltaram do verão brasileiro com Anna Júlia nos ouvidos e o disco da banda na mala. Depois de detectar o interesse, o empresário dos rapazes acertou o lançamento do disco no país – a Abril licenciou o CD para a pequena gravadora Edel, o que possibilitou a viagem (paga pela própria banda) para a série de eventos de divulgação. Na última quarta-feira, os Hermanos deram mais um passo rumo à (inesperada) carreira latina: Camelo gravou os vocais para uma versão em espanhol de Anna Júlia, "bastante respeitosa, mas com alguma licença poética", feita por Marciano, da banda argentina Enanitos Verdes. "O bacana é que na Argentina a gente está tendo um trabalho que é o contrário do que a Abril vem fazendo. A segunda música a ser lançada por lá é mais pesada", comenta o vocalista.
Em novembro, os Hermanos param com tudo. Eles pensam em ir para um sítio e ficar uns dois meses em quarentena para acabar de compor e ensaiar o material do próximo disco (o segundo de um contrato de três com a Abril). "Tem muita coisa feita em voz e violão, mas o que dá a cara são os arranjos", adianta Camelo, sem adiantar muito. Duas músicas novas – A Flor e Bom Dia – vêm sendo tocadas nos shows, mas isso não é garantia de que vão estar no novo disco. "Toda previsão tem grandes chances de cair por terra", avisa. "Se o disco vai ser mais leve, mais pesado ou mais estranho, se vai ter músicas de amor ou de política... Só sabemos que vai ser razoavelmente diferente do primeiro."