Maconha e política no palco do Planet Hemp

No show de estréia da turnê de A Invasão do Sagaz Homem-Fumaça, banda de Marcelo D2 protesta contra a Polícia e FHC e segue queimando tudo até a última ponta

Tom Cardoso
02/09/2000
De nada adiantou a repressão imposta pela polícia sexta-feira à noite, na porta da casa de shows DirectTV Music Hall, em São Paulo. O Planet Hemp nunca esteve tão solto numa estréia de turnê, a aguardada A Invasão do Sagaz Homem-Fumaça, título do recém-lançado disco da banda. Marcelo D2 e B Negão xingaram a PM, incentivaram o público a acender alguns cigarros e desfilaram um repertório enxuto, formado por canções dos três discos da grupo, totalizando mais de duas horas de show.

A abertura ficou por conta dos veteranos dos Ratos de Porão. João Gordo, com sua habitual elegância, em pouco minutos já estava aos berros com um garoto da primeira fila. “Sempre tem um cara no show para me encher o saco! Seu playboy f. da p.!”, gritava o vocalista, arrancando gargalhadas de D2 no canto do palco. Brigas à parte, o repertório, formado por canções do último disco, Guerra Civil Canibal e clássicos como Crucificados pelo Sistema e Beber até Morrer, conseguiu distrair o público já ansioso pela apresentação do Planet Hemp.

A banda carioca subiu ao palco reforçada de Seu Jorge, ex-vocalista do Farofa Carioca. O cenário projetado por Gringo Cardia, com várias cadeiras de praia e uma kombi montada no centro do palco, ajudou a realçar ainda mais o clima de informalidade do espetáculo. Durante vários momentos do show, integrantes do grupo largavam os seus instrumentos e o microfone e iam bater um papo dentro da kombi, tomar uma cervejinha e fumar não se sabe o quê.

Marcelo D2 estava inspirado. Leu um manifesto contra o governo FHC e convocou toda a platéia a prestar atenção num vídeo com imagens de um massacre da PM contra os sem-terra, ocorrido no dia 1º de maio deste ano, no Paraná. Enquanto as cenas de violência da polícia eram exibidas, D2 e B Negão se revezavam nos microfones aos gritos de “F. da p.! F. da p.!”, para delírio do público que na mesma hora engrossou o coro.

O repertório foi longo e um pouco cansativo, mas teve bons momentos, como a canja de João Gordo na música Quem Tem Seda? . Hits não faltaram, como Mantenha o Respeito, Dig Dig Dig, Legalize Já, Queimando Tudo e Mão na Cabeça, e canções, claro, do novo disco – Procedência C.D, Contexto e Rapandrockandroll... . O show teve até um momento intimista, com direito a acompanhamento de flauta, com a banda convocando todos a relaxar e acender os seus cigarros. D2 e companhia nunca se sentiram tão à vontade.