Mada 2002 confirma vocação de festival grande

Evento reuniu mais de 13 mil pessoas em Natal, ao som de bandas novas e artistas consagrados; leia sobre os três dias aqui

Mônica Loureiro
27/05/2002
Não há mais dúvida: o Mada - Música Alimento da Alma - já garantiu lugar de destaque no calendário de eventos musicais do Brasil. O festival aconteceu de 23 a 25 de maio, em Natal (RN), e reuniu 21 bandas independentes mais três grandes nomes. O balanço geral de público, segundo o produtor Jomardo Jomas, contabilizou 13 mil pessoas. A organização foi impecável, mas a qualidade das atrações mereceu nota média. Com uma ou outra exceção, as bandas mostraram capacidade de seguir carreira. Porém, não houve uma revelação entre os novos - o grande momento ficou por conta do sexagenário Jorge Ben Jor, que encerrou o festival às 4h de domingo.

Para a realização do Mada, dois palcos grandes foram instalados lado a lado no Largo da Rua Chile, no bairro da Ribeira. Um fator com o qual poucos organizadores de festivais se preocupam parece ter sido prioridade para Jomardo: a pontualidade e igualdade para as bandas. Os shows iniciavam sempre às 22h e aconteciam sem intervalo entre um e outro. E não havia diferença entre os palcos, ambos tinham o mesmo tamanho e equipamentos.

Quinta-feira, 23/05
As bandas que abriram a noite tiveram azar em relação ao público: às 22h, eram poucos os presentes. O que não desanimou o grupo Raul e Alcatéia Maldita, de Natal. Sem maiores diferenciais no som, o destaque ficou mesmo por conta do empolgado vocalista, que fez discurso sobre a arte da política e, em seguida, cantou a música "Político", cuja letra se resumia à única palavra do título...

A banda paraibana Tocaia foi a única a mostrar um estilo regional. A longa duração de algumas músicas, que incluíam alternâncias bruscas de ritmos, não envolviam o público, indiferente até na hora da ciranda. A frieza foi quebrada com a entrada dos Agregados do Rap. Com versos do tipo "Somos nordestinos/o sotaque é diferente mas a rima é forte", o grupo potiguar agitou os conterrâneos. A qualidade principal: rappers com dicção inteligível!

A apresentação das bandas cearenses Groove e Jumenta Parida foram as responsáveis por eleger a quinta-feira como o melhor dia do festival. O Groove mostrou um repertório próprio e ainda arriscou - e se deu bem - nas versões de Ando Meio Desligado, Deus lhe Pague e I Want to Hold Your Hand. O hardcore com toques regionais do Jumenta - o vocalista Zoo toca zabumba e triângulo - também atraiu público e imprensa. A noite ainda teve General Junkie, que, com uma década de estrada, é a "queridinha" de Natal e o encerramento do Planet Hemp. As rodas de pogo que rolaram por toda noite tomavam conta de todo o espaço da platéia enquando B Negão e Marcelo D2 ditavam suas palavras de (des)ordem no palco.

Sexta-feira, 24/05
O Officina até distribuiu pirulitos para quem chegou cedo, mas o público era reduzido quando, às 21h45, o grupo potiguar entrou no palco. Um desperdício, pois seus integrantes são carismáticos e tocam muito bem rock, ska ou reggae. Candhum B, da Paraíba, chamou a atenção na primeira música, mas depois descambou para o barulho gratuito, tendo à frente um vocalista rapper/heavy metal.

A noite seguiu com os conhecidos Totonho e Os Cabra e Toni Platão - que apelou, encerrando o show com Lithium, do Nirvana. Detonautas Rock Clube e Somtomé também representaram o Rio - os primeiros, com empatia de grande banda, estavam sendo apelidados de "Charlienautas", referência nada elogiosa ao Charlie Brown Jr. Somtomé, com ares de banda inglesa, também não empolgou muito.

Os integrantes do Florbela Espanca, de Natal, foram apresentados como "os pais de família". Formada por jornalistas e músicos de outros grupos, a banda se reuniu novamente para tocar no Mada. O destaque da noite, a mais vazia do festival, foi a local Carbura, de som pesado e um vocalista inspiradíssimo. O show de encerramento foi com o Ira!, que apresentou um show com sucessos e algumas músicas do mais recente disco, Entre Seus Rins ouvir 30s.

Sábado, 25/05
Se houve um momento estranho no Mada, foi com a apresentação da banda local Gandhi. Um vocalista de saia e cabeça raspada (que dançava freneticamente, estilo Morrisey/Renato Russo), um tecladista sentado no chão e uma mulher sem função aparente no fundo do palco (ela só tocou berimbau na última música) formavam o visual bizarro. Mais engraçado que desagradável.

De Natal, se apresentaram também o Embolafunk, com dois rappers e guitarra em destaque, e o Base Livre, banda de ska com sopros e som de primeira linha. Os cariocas Acid X e Maurício Negão também tocaram - e agradaram - no último dia do Mada, que teve o final apoteótico de Jorge Benjor. Ele não deixou o público ficar parado com a enxurrada de clássicos: A Banda do Zé Pretinho, Mas que Nada, Que Maravilha, W/ Brasil e muito mais na única apresentaçào com direito a bis (de quase uma hora!).