MADA 2003: festa de novatos e veteranos

Saiba aqui como foram os três dias da quinta edição do festival, ocorrido em Natal (RN)

Marco Antonio Barbosa
19/05/2003
NATAL (RN) - Não houve qualquer alma musical que tenha saído insatisfeita da quinta edição do festival MADA (Música Alimento da Alma), realizado no último fim de semana (entre os dias 15 e 17) na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Na maior e mais bem sucedida versão do evento, o MADA confirmou seu nome como grande foco revelador de novos talentos (posição na qual rivaliza com o Abril Pro Rock, realizado em abril no Recife) e mostrou ótimos shows de nomes consagrados do pop nacional. Foram três dias de uma notável variedade sonora, ocupando o popular Largo da Ribeira (na área histórica de Natal, próximo ao cais do porto da cidade). A organização do evento estimou que cerca de 15 mil pessoas passaram pela Ribeira ao longo do MADA 2003, o maior público que o festival já recebeu.

Um line-up que privilegiava as bandas locais, mas que apostava em figurões para fechar os shows (Rappa no primeiro dia, Nação Zumbi e Detonautas Roque Clube no segundo e Fernanda Abreu e Frejat no terceiro) foi a receita escolhida pelo produtor Jomardo Jomas para o MADA 2003. Deu certo, tanto pelas boas surpresas reveladas entre os artistas novatos quanto pelo vigor e competência que os astros já estabelecidos exibiram. Um total de 23 shows (os paulistas do Veiga & Salazar, anunciados para a sexta 16, cancelaram a apresentação), além de duas pistas alternativas tocando música eletrônica, garantiram a diversão do povo.

Entre as boas novidades, metal e guitar
Das 14 bandas consideradas "emergentes" no elenco do festival, dez eram oriundas da própria cena natalense. E deu para ver como o pop potiguar caminha a uma animadora velocidade rumo à maturidade de centros nordestinos como Recife e Salvador. Pelo menos três grupos locais foram boas surpresas. No primeiro dia do MADA, destacaram-se o Verdade Suprema, o Bugs e os Agregados do Rap. O primeiro fez o show mais pesado do festival, com direito a muita distorção e baterias cavalares. Influenciados basicamente pela geração nu-metal de Korn, Deftones e Slipknot, o VS se sobressaiu pela inegável e autêntica fúria que exibiu. Em seguida entrou o power-trio Bugs, que faz um som em voga no underground do Sul-Sudeste (a dita linha guitar band, ou indie rock) mas que ainda precisa de tempo para ser digerido em Natal. Enquanto o público esfriava um pouco, a trinca mandava um rock honestíssimo, rico em melodia e com bastante pegada nas guitarras. Praticamente estrelas locais, os Agregados do Rap mostraram uma tremenda evolução em relação à sua participação no MADA 2002. Hip hop muito bem feito, de batidas contagiantes e refrões memoráveis; nada a dever a qualquer grupo paulista ou carioca do mesmo estilo.

O segundo dia do evento viu o grupo mais original entre as bandas locais, o Jane Fonda. O curioso nome escondia um rock elaborado, de canções envolventes e com bases que iam do hardcore ao pop convencional - mas tudo misturado de modo intrigante e pouco previsível. Os veteranos do Eddie (PE), remanescentes ainda da cena original do manguebeat, também fizeram um bom show, temperando sua conhecida mistura sonora com toques de reggae e samba-rock. No terceiro dia, vale uma menção aos paraibanos do Chico Correia, que, mal-comparando, seguem os passos do DJ Dolores ao mesclar grooves dançantes e referências regionais, só que investindo ainda mais no experimentalismo.

Peso no pelotão intermediário
Havia também várias bandas no MADA 2003 numa posição intermediária no mercado: já saíram do underground e tem disco lançado, mas ainda não têm status de headliner. A garra nas performances, porém, não foi prejudicada. Arnaldo Brandão exibiu na sexta (16) um rock pesado mas cheio de suingue, amparado por uma ótima banda. Mais heavy ainda, a cantora baiana Pitty (ex-Inkoma) seguiu no mesmo dia com um dos mais empolgantes shows do festival. As músicas de seu disco de estréia, mais um cover de Love Buzz (sucesso com o grupo americano Nirvana) compuseram uma apresentação que levantou e muito a massa. No sábado, último dia do evento, os Autoramas (RJ) fizeram o que sabem: rock divertido e ganchudo, com ótima presença de palco. O clima ficou mais cool com os também cariocas do Acid X, demonstrando competência com um som elegante e dançável. E Lan Lan, a ex-percussionista de Cássia Eller, que agora canta com o grupo Os Elaines, surpreendeu ao reforçar ainda mais o peso de seu já contundente disco de estréia, Com Ela.

Fechando a noite em alto estilo
Os grandes nomes convidados para o MADA 2003 não negaram fogo e - cada qual em sua praia específica - deixaram o publico potiguar mais do que satisfeito. O Rappa, que fechou a noite de quinta, provou que sobreviveu e muito bem à saída do mentor Marcelo Yuka. Músicas dos três discos de estúdio estiveram presentes a um show que praticamente só teve sucessos, e que manteve o público pulando mesmo embaixo de uma chuva torrencial. Pena que a banda preferiu não tocar nenhuma canção do próximo disco, o primeiro sem Yuka, que será lançado ainda este ano.

Na segunda noite, o Detonautas Roque Clube - que foi revelado na edição 2001 do MADA - fez um dos shows mais aclamados de todo o evento. Não há nada de muito original no som do grupo carioca, mas é inegável seu apelo no palco e a energia que eles passam à platéia. Com a cama feita, a Nação Zumbi deitou e rolou. Fazendo um show menos frenético do que de costume e baseando o repertório no último disco, os recifenses não decepcionaram - embora houvesse gente cobrando mais adrenalina e sucessos dos tempos de Chico Science.

O último dia do MADA 2003 foi encerrado pela sequência Frejat e Fernanda Abreu. O vocalista do Barão Vermelho (que promete retomar o grupo no ano que vem) não economizou nas músicas novas - tocou três -, mostrou as canções de seu primeiro solo, Amor Pra Recomeçar e despachou um faiscante cover de Jimi Hendrix (Stone Free) no bis. Tudo isso sem precisar apelar para os sucessos do Barão; apenas Amor meu Grande Amor e Malandragem Dá um Tempo, covers "clássicas" do repertório da banda, foram usadas. Frejat está realmente em um bom e maduro momento de sua carreira. No fim da festa, restou ao público cair na dança com Fernanda Abreu. Ela fez uma apresentação impecável, dominando a platéia sem esforço algum e liquidificando rap, funk, samba, soul e o que mais viesse. Secundada por uma banda mais roqueira (com destaque para o guitarrista Fernando), a cantora conseguiu tornar sedutor até mesmo um medley de sucessos do infame funk carioca - e os potiguares se esbaldaram.

O repórter viajou a convite da organização do festival.