Maio é o mês dos festivais de rock fora do eixo

O MADA em Natal e a Bananada em Goiânia se propõem a reunir bandas novas de todo o país e chamar a atenção para as respectivas cenas locais

Silvio Essinger
10/05/2001
Festivais que reúnem novas bandas das mais variadas regiões, em cidades fora do eixo Rio-São Paulo: eis uma prática que, para o bem da música alternativa brasileira, começa a se disseminar no país. Depois do Abril Pro Rock e Rec-Beat (em Recife - leia matéria) e do Porão do Rock (Brasília) é a vez de dois outros festivais se destacarem no cenário, ambos entrando em suas terceiras edições: o MADA - Música Alimento da Alma (confira o site), que acontece do dia 17 a 19 em Natal, e o Bananada 2001, que se realiza entre os dias 18 e 20 em Goiânia.

Idealizado e produzido por Jomardo Jomas, o MADA aposta num elenco de nomes pouco conhecidos, até mesmo no cenário under. As estrelas são a banda Sonic Junior (de Alagoas - leia matéria), os cariocas do Leela (grupo que traz Bianca e Rodrigo, ex-Pólux) e o Flávio Cavalcanti (de Pernambuco). O grosso da escalação é de bandas do Rio Grande do Norte, como a veterana General Junkie (há mais de 10 anos na ativa), Sangueblues, Mad Dogs, Brigite Beréu, Deadly Fate, Girassóis em Fuga e Embolafunk.

"Havia em Natal uma cena roqueira pequena, mas era uma cena, e precisávamos colocá-la em contato com o grande público", conta Jomardo, que produzia o grupo de reggae Alphorria, o maior nome do pop a sair do Rio Grande do Norte nos últimos anos. "Sempre alguém vinha me perguntar como era a cena de Natal", conta. A primeira edição do MADA, em 1998, reuniu 18 mil pessoas ao longo dos três dias. Na seguinte, em 99, mesmo a chuva não conseguiu evitar que 12 mil pessoas comparecessem. "O festival despertou o interesse do público pelo fato de ser, antes de tudo, uma grande festa. Se a pessoa não for, estará perdendo alguma coisa legal", conta Jomardo. "Nas primeiras edições, boa parte do público comparecia sem saber muito o que encontraria. Agora ele tem certeza de que vai gostar de uma banda ou de outra."

O produtor diz que conta com apoios "tímidos" da prefeitura e do governo do estado para a realização do festival, que decolou graças a algumas parcerias na iniciativa privada. "Temos algumas negociações para se fechar um grande patrocínio. Não sei se dará tempo, mas o MADA vai rolar", garante.

Opção ao massacre do axé
O sucesso do Abril Pro Rock, que entrou 2001 em sua nona edição (leia matéria) foi uma referência para Jomardo. "Se lá em Recife existia uma cena e podia ser mostrada, por que não fazer um festival em Natal, quem também tem uma cena (ainda que tímida) mas com muita vontade de ser ouvida?", pergunta. A grande vantagem do MADA, segundo ele, é oferecer uma opção ao interminável carnaval fora de época da cidade, o CarNatal. "A música baiana ainda tem muita força aqui, mas a tendência é abrir para outros estilos", acredita.

Diversidade, aliás, é o que não vai faltar em Goiânia no Bananada 2001. Além de 18 nomes de destaque do rock alternativo brasileiro, como o ex-Graforréia Xilarmônica Frank Jorge, e as bandas Pin Ups (SP), Relespública (PR), Carbona (RJ), Wonkavision (RS), Supersoniques (PE) e Bois de Gerião (DF), ainda traz os grupos americanos Man Or Astroman? e Trans AM, este vindo pela primeira vez no país. No primeiro Bananada, em 1999, foram apenas oito atrações em dois dias. Ano passado, na segunda edição, 14 bandas se apresentaram, também em dois dias. "Estamos crescendo...", festeja Leonardo Razuk, que organiza o festival com o parceiro e idealizador Fabrício Nobre.

"A coisa tem que ser feita na raça, na paixão e no ideal", resume Leonardo. O Bananada, revela ele, está sendo tocado sem apoio algum do governo, e apesar da distância que separa Goiânia dos grandes centros. Para piorar, o festival acontece ao mesmo tempo em que uma feira agropecuária, que é a maior festa do estado. "Queremos oferecer uma boa opção para quem não curte o estilo sertanejo e mostrar que Goiânia não é terra de peão, que rola muito rock'n roll por aqui", diz o produtor, ressaltando que, em sua empreitada, conta apenas com alguns patrocínios e a boa vontade das bandas.

Depois de duas bem-sucedidas prévias feitas em abril, Leonardo e Fabrício esperam cerca de 500 pessoas em cada noite do Bananada 2001, que acontece no palco do Garage Café, na Avenida T-4, Setor Serrinha. A cena rock de Goiânia estará representada com bandas como MQN, Mechanics e Vícios da Era. "Um dos objetivos do festival é divulgar e fortalecer as bandas locais, além de expandir o cenário alternativo na cidade", diz Leonardo.

Vitrine para os novos artistas
O produtor ressalta que o Bananada é um festival absolutamente voltado para a música independente: "Ao contrário do Abril Pro Rock e do Porão do Rock, a Bananada não tem em seu cast artistas que lançam discos por grandes gravadoras. A idéia é abrir espaço para essas bandas e servir como uma espécie de vitrine para novos artistas. No ano passado, o Video Hits fez na Bananada seu primeiro show fora do Rio Grande do Sul." De qualquer forma, os outros festivais tiveram lá sua influência sobre os goianos. "Ele mostram que é possível e até servem de referencial na busca de patrocínios para viabilizar o evento", diz Fabrício.

O Bananada 2001 se vale de uma parceria da Monstro Discos (selo de Goiânia que edita compactos em vinil de bandas novas e produtora que organiza o festival) com a produtora Motor Music, de Minas Gerais, para viabilizar a vinda das bandas estrangeiras. Graças a essa associação, por sinal, a cidade foi brindada meses atrás com um show dos americanos do Mudhoney. "Existe um bom público de rock em Goiânia. Todas as bandas de fora que tocam aqui sempre adoram a cidade", diz Leonardo. Os ingressos para o festival custam R$ 10 (sexta e sábado) e R$ 15 (domingo). Mais informações no site do festival.